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Facebook corre para lançar óculos "smart", mas só avança em mouse de pulso

Protótipo de pulseira inteligente funciona como um "mouse" para óculos conectados - Divulgação/Facebook Reality Labs
Protótipo de pulseira inteligente funciona como um "mouse" para óculos conectados Imagem: Divulgação/Facebook Reality Labs

Lucas Carvalho

De Tilt, em São Paulo

18/03/2021 11h44

Sem tempo, irmão

  • O Facebook compartilhou novidades sobre o desenvolvimento de seus óculos inteligentes, prometidos desde 2018
  • Os engenheiros da empresa projetaram uma pulseira capaz de traduzir movimentos do dedo em comandos para os óculos
  • Os óculos em si, porém, ainda não têm data prevista de lançamento

Depois do computador pessoal nos anos 1980 e do smartphone nos anos 2000, a indústria da inovação corre para descobrir a próxima revolução na tecnologia. Uma das apostas são os óculos inteligentes. Nesse sentido, o Facebook parece ter o projeto mais avançado até o momento. Nesta semana, em um evento online restrito do qual Tilt fez parte, a empresa expôs as novidades no desenvolvimento de seus óculos e revelou um protótipo de "mouse de pulso" para o futuro aparelho.

A ideia aqui é semelhante ao que o fatídico Google Glass tentou fazer em 2014: exibir informação digital no mundo real, mas apenas a pessoa usando o aparelho consegue ver.

Mas você talvez se lembre que o Google Glass foi um fracasso. A interface era limitada, a usabilidade era complicada e, após apenas um ano, a empresa desistiu do projeto e o transformou em uma ferramenta para fábricas e linhas de produção. O Facebook, porém, não acha que o potencial da tecnologia morreu.

Para resolver o problema de usabilidade, a equipe do Facebook está trabalhando uma espécie de "mouse" para seus óculos inteligentes: uma pulseira que reconhece pequenos movimentos do pulso, mão e dedos do usuário, e traduz esses movimentos em comandos para a interface gráfica dos óculos.

Anunciado em 2018, o chamado Project Aria é desenvolvido pelo Reality Lab, um laboratório de pesquisa em realidade aumentada e realidade virtual (AR e VR, nas siglas em inglês) derivado da equipe da startup Oculus, criadora de óculos de VR para games que foi comprada pelo Facebook em 2014.

Demonstração da pulseira inteligente do Facebook

Por que pulseiras?

Hrvoje Benko, diretor de pesquisa científica do Reality Lab, diz que a equipe apostou em pulseiras porque, assim como os relógios inteligentes, elas podem se encaixar facilmente no dia a dia de quem usa. "Comandos de voz, embora intuitivos, não oferecem privacidade suficiente, e não são confiáveis devido ao ruído do ambiente", comenta.

O laboratório projetou uma série de pulseiras diferentes com sensores para capturar os movimentos da pessoa, além de motores de vibração para dar uma resposta háptica aos comandos —que os engenheiros do Facebook chamam de "cliques", em mais uma referência ao mouse do computador.

Mas esses protótipos ainda estão em fases iniciais de desenvolvimento e muito longe de serem lançados no mercado como produtos que qualquer pessoa possa comprar. Segundo Mike Schroepfer, presidente executivo de tecnologia do Facebook, a equipe ainda tem um longo caminho a percorrer antes de lançar seus óculos inteligentes. "Estamos comprometidos com um plano de dez anos", afirma.

Obstáculos

Entre os obstáculos, Schroepfer admite que a equipe ainda não conseguiu projetar uma interface gráfica em realidade aumentada que consiga se adaptar ao ambiente das pessoas. A ideia é que os óculos, em parceria com a pulseira, sejam capazes de entender o contexto e o que a pessoa está fazendo para fornecer informações.

"Talvez você saia para uma corrida e, com base no seu comportamento, o sistema sabe que você provavelmente quer ouvir sua playlist. Então ele apresenta essa opção para você na tela intuitivamente: 'Tocar playlist em execução?'. Você nem precisa encostar no celular", explica Tanya Jonker, gerente de pesquisa em ciência do Reality Lab. "Essa é a interface adaptável em funcionamento."

Outro obstáculo que a equipe espera contornar em até dez anos é o da privacidade —ponto fraco do Facebook desde o escândalo envolvendo a Cambridge Analytica. Afinal, andar por aí com uma câmera no rosto, coletando dados de todas as suas atividades o tempo todo, pode soar muito Black Mirror para alguns.

Project Aria, protótipo de óculos inteligentes do Faceboo - Divulgação/Facebook Reality Labs - Divulgação/Facebook Reality Labs
Project Aria, protótipo de óculos inteligentes do Faceboo
Imagem: Divulgação/Facebook Reality Labs

É por isso que a empresa está divulgando publicamente cada avanço ou atraso no desenvolvimento de seus óculos inteligentes, na esperança de que falhas sejam apontadas por pesquisadores de fora. "Compreender e resolver todas as questões éticas requer o envolvimento de toda a sociedade", diz o diretor de pesquisa científica do Reality Lab, Sean Keller. "Simplesmente não conseguimos fazer isso sozinhos, então não estamos nem tentando."

Enquanto os óculos de Tony Stark não viram realidade, o Facebook promete lançar uma versão mais básica ainda em 2021, em parceria com a marca Ray-Ban. O produto deve ser parecido com os Spectacles, óculos que a rede social Snapchat lançou em 2016 nos Estados Unidos e que servem, basicamente, para tirar fotos, gravar vídeos e subir diretamente para o seu perfil através de uma conexão Bluetooth com o celular. Este ainda não tem data de lançamento confirmada.