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Apophis: 'asteroide do juízo final' passa hoje pela Terra; acompanhe

Getty Images/iStock
Imagem: Getty Images/iStock

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt

05/03/2021 13h17Atualizada em 05/03/2021 19h47

O terror dos cientistas está se aproximando novamente. Do tamanho de três campos de futebol, o asteroide 99942 Apophis passará raspando pela Terra neste final de semana. Na noite de hoje (5), chegará a uma distância segura —pelo menos por enquanto— de 17 milhões de quilômetros e será estudado por astrônomos do mundo todo durante o final de semana. Haverá transmissões ao vivo para qualquer um observar.

Nomeado em homenagem ao deus egípcio do caos e destruição, o Apophis é uma rocha espacial em formato de "charuto" irregular, com cerca de 370 metros de diâmetro, 450 m de comprimento e 41 milhões de toneladas. Sua energia é equivalente a 60 mil bombas de Hiroshima.

Para efeitos comparativos, ele é mais largo que o Pão de Açúcar do Rio de Janeiro (390 m), a Torre Eiffel de Paris (324 m) e o edifício Empire State de Nova Iorque (443 m). Se atingisse a Terra, devastaria uma enorme região, liberando o equivalente a 1.150 megatons de TNT. Por isso, foi apelidado de "asteroide do juízo final".

As consequências de um impacto podem variar bastante dependendo da composição do asteroide, do ângulo de entrada e da localização do ponto de impacto. "Como o Apophis tem cerca de 370 metros e uma composição de silicatos, ferro e níquel, seria extremamente devastador a uma área de milhares de quilômetros quadrados. Eventos desse nível podem ocorrer na Terra uma vez a cada 80 mil anos", diz o astrônomo Filipe Monteiro, do Observatório Nacional.

A passagem que começa hoje às 22h (horário de Brasília) será uma ótima chance de estudar o Apophis, antes de sua aproximação realmente assustadora, daqui oito anos. Em abril de 2029, em uma sexta-feira 13, ele chegará a apenas 31 mil km da superfície do nosso planeta —mais ou menos um décimo da distância entre a Terra e a Lua—, a uma velocidade de 30 km por segundo.

Ele atravessará até o cinturão de satélites geoestacionários de comunicação, que fica a 36 mil km de altitude. Tão perto que poderá ser visto a olho nu.

De acordo com os cálculos orbitais, mesmo nessa próxima passagem não há risco de impacto, nem com a Terra nem com a Lua —apenas alguns satélites podem ser perdidos. "As aparições deste ano e, principalmente, as de 2029, serão extremamente valiosas para avaliar a trajetória e saber se e quando o asteroide atingirá a Terra", acredita o astrônomo.

Pensando nisso, observatórios e radares do mundo todo se uniram para uma campanha de observação. O Brasil tem um representante no evento, o Sonear, na cidade de Oliveira (MG), que fará uma transmissão ao vivo no sábado (6), a partir das 20h30, no canal AstroNEOS.

17 anos de estudos

Em 2004, quando pela primeira vez vimos o Apophis se aproximando de nosso planeta, as observações iniciais indicaram uma pequena probabilidade (até 2,7%) de que ele poderia atingir a Terra em 2029. Porém, observações adicionais permitiram conhecer melhor a sua órbita e refinar os cálculos, eliminando a possibilidade de impacto em 2029, e também em 2036.

Depois do alívio, a preocupação que se seguiu foi a dos possíveis desvios orbitais, a cada passagem do asteroide. A interação entre os campos de gravidades e os "buracos de fechadura" (pequenas áreas no campo de gravidade dos planetas que puxam objetos menores para perto) poderia colocá-lo em rota de colisão com a Terra em 2068. Mas isso também foi descartado por enquanto.

Então não dá para relaxar —a diferença entre uma passagem bem próxima e um impacto catastrófico pode ser sutil. Por isso, a aproximação de 2029 é crucial para conhecermos melhor este objeto ameaçador, estudando seu exterior, interior e comportamento. O Apophis foi descoberto há apenas 16 anos, e o que temos até agora são algumas poucas medições e imagens granuladas de radar.

Os cavaleiros do apocalipse

O Apophis é, atualmente, a terceira maior ameaça na Escala de Perigo de Impacto Técnico de Palermo, que classifica objetos próximos à Terra (Near Earth Objects, ou NEOs) potencialmente perigosos. Há uma chance mínima de 1 em 380 mil, ou 0,0000026%, de colisão com nosso planeta em 12 de abril de 2068. Mas os cálculos são refinados a cada passagem —por isso a importância de estarmos atentos.

Os dois asteroides com classificação de risco mais alta são o gigantesco 29075 (1950 DA) e o Bennu. O primeiro tem 1 chance em 8.300 (0,012%) de atingir a Terra em 2880; o segundo, que está sendo estudado pela sonda Osiris-Rex da Nasa, tem 1 chance em 2.700 (0,037%) de um impacto entre 2175 e 2199.

A agência espacial norte-americana cogita a possibilidade de enviar a Osiris-Rex também para o Apophis, em uma missão adicional, em 2029. Coincidência ou não, Osíris é o deus egípcio da vida após a morte e Bennu o da criação e renascimento.