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Smartwatches detectam sintomas da covid antes de aparecerem, dizem estudos

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Imagem: Unsplash

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt

18/01/2021 16h10

Boa parte dos smartwatches e pulseiras para medir atividade física contam com a função de monitorar batimentos cardíacos. Dois estudos recentes feitos nos EUA têm analisado as informações desses vestíveis para tentar prever que uma pessoa tem covid-19 antes mesmo de os sintomas aparecerem.

Não custa lembrar que um dos grandes problemas do novo coronavírus é que algumas pessoas infectadas não sentem nada —ou seja, são assintomáticos— e acabam passando a doença para outras.

Uma pesquisa do Monte Sinai Health System, dos Estados Unidos, aponta que dados do Apple Watch podem detectar a covid-19 dias antes de os sintomas se manifestarem. De acordo com o estudo, mudanças sutis nos batimentos cardíacos de um indivíduo foram capazes de sinalizar a doença até sete dias antes do diagnóstico de infecção.

O estudo, chamado Warrior Watch, acompanhou 297 profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros e seguranças de hospitais, entre 29 de abril e 29 de setembro. As pessoas que participaram da campanha usaram Apple Watches equipados com aplicativos especiais que mediam as mudanças na variabilidade da frequência cardíaca (VFC).

Os participantes deveriam usar o relógio por pelo menos oito horas por dia e responder a perguntas sobre possíveis sintomas e se foram testados para covid-19.

A alta variabilidade da frequência cardíaca não reflete, necessariamente, uma frequência cardíaca elevada, mas indica que o sistema nervoso de um indivíduo está ativo, adaptável e mais resiliente ao estresse.

"O relógio mostrou mudanças significativas nas métricas de VFC até sete dias antes que os indivíduos tivessem um teste de swab nasal positivo, confirmando a infecção por covid-19, e demonstrassem mudanças significativas no desenvolvimento dos sintomas", afirmou o autor do estudo, Robert P. Hirten, ao site do Mont Sinai Health System.

O levantamento ainda apontou que sete a 14 dias após o diagnóstico da covid-19, o padrão de VFC começou a se normalizar e não era mais estatisticamente diferente dos padrões daqueles que não estavam infectados.

Outros aparelhos

Um estudo separado da Stanford University, na Califórnia, com aparelhos da Garmin, Apple Watch, Fitbit e outros fabricantes mostrou que 81% das pessoas com covid experimentaram mudanças em suas taxas de batimento cardíaco em repouso até nove dias e meio antes ao início dos sintomas, segundo a rede de TV norte-americana "CBS News".

Publicada pela revista "Nature Biomedical Engineering" em novembro, a pesquisa contou com a participação de mais de 5.000 pessoas e registrou dados de 32 volunttários com teste positivo para covid-19.

Apesar dos dois estudos serem interessantes, eles ainda precisam de maior avaliação. O primeiro envolvendo apenas o Apple Watch ainda não passou por revisão de pares, enquanto este segundo está numa segunda fase de testes, com a participação de mais voluntários nos EUA para tentar validar a tese dos pesquisadores de Stanford.

Conseguir colher dados por meio de aparelhos, como o Apple Watch, poderia ser importante para conter a disseminação do vírus, dado que pessoas assintomáticas são uma grande fonte transmissora do coronavírus.

"Uma das coisas desafiadoras sobre a covid-19 é que muitas pessoas são assintomáticas, mas ainda são contagiosas. Isso torna difícil conter a infecção usando o método tradicional de identificação de alguém que está doente e colocando-o em quarentena" afirmou Hirten.

Por isso, desenvolver uma maneira de identificar pessoas que estão doentes antes mesmo de terem sintomas ou descobrirem estar infectadas seria um avanço no trato da doença.

"Essa tecnologia nos permite não apenas acompanhar e prever resultados de saúde, mas também intervir de maneira oportuna e remota, o que é essencial durante uma pandemia que exige que as pessoas fiquem separadas", disse o coautor do estudo, Zahi Fayad, diretor do Instituto de Engenharia e Imagem BioMédica do Monte Sinai Health.

A pesquisa aponta que a Apple não participou nem financiou o estudo. Em setembro do ano passado o executivo-chefe da empresa, Tim Cook, mostrou estar ciente da pesquisa ao elogiar o papel do Apple Watch no estudo do Monte Sinai durante um evento online.