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Baterias de lítio representam perigo para crianças; saiba como protegê-las

KuznetsovDmitry/Getty Images/iStockphoto
Imagem: KuznetsovDmitry/Getty Images/iStockphoto

Mirthyani Bezerra

Colaboração para Tilt

10/01/2021 04h00

Sem tempo, irmão

  • Aumento no uso de eletrônicos no dia a dia expõe crianças a baterias de lítio
  • A ingestão acidental desse tipo de bateria é grave e pode levar à morte
  • Idosos também podem confundir baterias de aparelhos auditivos com remédios
  • As que causam acidentes graves são as de numeração 2032, 2025 e 2016
  • Para evitar ingestão, compre brinquedos com selo do Inmetro

É preciso ter um cuidado extra quando guardamos ou descartamos pilhas e baterias que já não funcionam mais, não só por elas serem extremamente tóxicas para o ambiente, mas porque podem levar à morte em caso de ingestão acidental.

Se você pergunta "tá, mas quem vai, em são consciência, engolir uma pilha?", saiba que crianças podem facilmente confundi-las com com doces e idosos, com medicação, principalmente aquelas pilhas "botão" (ou "moeda") — aqueles discos achatados usados em controles remotos, brinquedos, cartões musicais, balanças de banheiro e outros eletrônicos usados em casa.

Esse tipo de bateria tem o lítio como componente principal para geração de energia e foi desenvolvido inicialmente para ser usado dentro de marcapassos por serem leves e seguras.

Um caso ocorrido em 2010 nos EUA e publicado pelo jornal The New York Times detalhou como o bebê Aidan Truett, de um ano e um mês, morreu depois de ingerir uma bateria "botão".

Em um primeiro momento, os médicos pensaram que ele tinha desenvolvido uma infecção das vias respiratórias. O menino não queria comer e vomitava, e os sintomas fizeram os médicos acreditarem ser uma virose. Só depois de nove dias, com o agravamento dos sintomas, foi feito um raio-x na criança e constatada a tal bateria.

Foi feita uma cirurgia para remover o material, mas já foi tarde demais. A corrente da bateria tinha deflagrado uma reação química no esôfago da criança, queimando sua parede e atacando a aorta. Dois dias depois da remoção da bateria, Aidan começou a tossir sangue, e logo morreu por causa das lesões.

Casos de ingestão acidental de baterias são comuns. Segundo a Academia Americana de Pediatria, 2.500 crianças engolem esse tipo de bateria a cada ano nos EUA. Apesar de mortes serem consideradas raras nesses casos, a reação química deflagrada pelas baterias pode prejudicar para sempre cordas vocais e o trato gastrointestinal.

A ingestão de baterias também é um problema entre os idosos, que muitas vezes confundem baterias de dispositivos de audição com remédios. Mas, nesses casos, a bateria normalmente não fica presa, pois o trato digestivo é maior e a bateria usada em aparelhos auditivos é menor.

Quais são as mais perigosas?

Das baterias que tem formato redondo, é bom ficar de olho principalmente nas que começam com o número 20 (20 milímetros), pelo tamanho e formato delas, e por serem mais modernas e fortes que modelos antigos. As que concentram o maior número de acidentes graves geralmente são as de numeração 2032, 2025 e 2016.

Foi justamente em baterias dessas numerações que a Duracell decidiu, neste ano, adicionar um revestimento que em contato com a saliva libera um sabor amargo, que certamente vai desencorajar crianças a engolirem a bateria.

Segundo a empresa, leva apenas duas horas após a ingestão da bateria de lítio para que reações químicas danosas aconteçam no organismo.

Baterias de lítio de números 2032, 2025 e 2016 são as mais perigosas - AlexLMX/Getty Images/iStockphoto - AlexLMX/Getty Images/iStockphoto
Baterias de lítio de números 2032, 2025 e 2016 são as mais perigosas
Imagem: AlexLMX/Getty Images/iStockphoto

Como evitar a ingestão?

O aumento da quantidade de aparelhos eletrônicos no nosso dia a dia também fez crescer a exposição dos pequenos a esse tipo de bateria. É bom prestar atenção ao adquirir brinquedos que precisam de pilhas para funcionar, principalmente se essa bateria é do tipo botão.

Uma portaria de 2014 do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) traz uma série de regras que devem ser seguidas pelos fabricantes de brinquedos elétricos.

Algumas delas são:

  • As pilhas e baterias dos brinquedos elétricos não podem acessadas sem o uso de uma ferramenta;
  • A tampa do compartimento da pilha não pode ser aberta sem a execução simultânea de pelo menos dois movimentos independentes;
  • Não pode ser possível carregar baterias quando elas estiverem dentro do brinquedo, a não ser que ela esteja embutida dentro do objeto -- nesse caso, o carregamento deve inutilizar o uso do brinquedo;
  • É preciso vir nas instruções como retirar e colocar as pilhas e as baterias substituíveis, além de outras informações como tipos de pilhas, baterias novas e usadas.

Por isso, antes de adquirir o brinquedo, é essencial observar se ele tem o selo do Inmetro. Mas muitos aparelhos direcionados a adultos, como fones de ouvido, monitores de atividades físicas, balanças de banheiro e controles remotos, podem vir com estruturas menos seguras para o armazenamento das baterias. É com esses eletrônicos que você precisa ter uma atenção redobrada.

"As crianças apresentam sintomas que não são específicos, os pais não sabem que a bateria foi engolida —isso torna difícil o diagnóstico por parte dos médicos", disse Toby Litovitz, médico toxicologista, diretor e fundador do National Capital Poison Center, em Washington (EUA), ao jornal The New York Times.

Na época, Litovitz afirmou que produtores de eletrônicos deveriam tornar mais seguros os compartimentos de baterias em todos os itens, não apenas brinquedos. "As crianças têm fácil acesso a controles remotos, relógios, controles de abertura de garagem", disse. Esse cenário não parece ter mudado.