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Sol artificial "supera" original com temperatura de 100 mi de graus Celsius

Conhecido como "Sol artificial coreano", o Korea Superconducting Tokamak Advanced Research (KSTAR) atingiu 100 milhões de graus Celsius pela primeira vez em 2018 - National Research Council of Science & Technology
Conhecido como "Sol artificial coreano", o Korea Superconducting Tokamak Advanced Research (KSTAR) atingiu 100 milhões de graus Celsius pela primeira vez em 2018 Imagem: National Research Council of Science & Technology

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt, em São Paulo

29/12/2020 12h28

Sem tempo, irmão

  • Sol artificial coreano atingiu 100 milhões de graus Celsius por 20 segundos
  • Em marca anterior, cientistas mantiveram a temperatura por 8 segundos
  • Iniciativa visa estudar criação de energia limpa por meio de fusão nuclear

Um reator de fusão nuclear da Coreia do Sul bateu um recorde impressionante: manteve temperaturas acima de 100 milhões de graus Celsius por 20 segundos. Isso é muito mais quente que o núcleo do Sol, que atinge "apenas" 15.000.000°C.

Conhecido como "Sol artificial coreano", o Korea Superconducting Tokamak Advanced Research (KSTAR) atingiu 100 milhões de graus Celsius pela primeira vez em 2018, mas só durou 1,5 segundo. Em 2019, chegou a 8 segundos. O novo recorde mais que dobrou esse tempo.

"Longas operações de plasma a altíssimas temperaturas são a chave para produzirmos energia por fusão nuclear. Este sucesso do KSTAR é um momento decisivo na corrida por tecnologias seguras para desenvolvimento de um reator de fusão nuclear comercial no futuro", comemorou Si-Woo Yoon, diretor do Centro de Pesquisas KSTAR.

O que rolou?

O experimento em questão aconteceu no dia 24 de novembro, envolvendo cientistas da Universidade Nacional de Seul (SNU), na Coreia do Sul, e da Universidade de Columbia, dos Estados Unidos.

Recriar, aqui na Terra, as reações de fusão que ocorrem dentro do Sol não é tarefa fácil. Isótopos de hidrogênio devem ser colocados em um grande reator, como o KSTAR. Dentro de uma câmara de vácuo, são aquecidos a pelo menos 100 milhões de graus Celsius, para arrancar os elétrons das moléculas e criar um estado de plasma - o quarto estado da matéria, uma espécie de gás ionizado.

Um campo magnético fortíssimo é usado para confinar o plasma, para que ele não derreta o reator. O maior desafio é manter os íons estáveis nas altíssimas temperaturas, para que a fusão continue acontecendo. Poucos dispositivos já conseguiram controlar brevemente esse processo, mas nenhum havia quebrado a barreira dos 10 segundos até agora.

Uma das responsáveis pelo novo recorde sul-coreano foi a Barreira de Transporte Interno (ITB), desenvolvida no ano passado e atualizada recentemente, que ajudou a estender os limites de operação do reator e sustentar o estado de plasma por mais tempo.

Por que é importante?

Nas últimas décadas, diversas pesquisas se debruçaram sobre o desenvolvimento de novas fontes de energia sustentável. Criar energia limpa, a partir da fusão nuclear, é o sonho de muitos cientistas. Mas eles sabem que essas reações são muito difíceis de serem controladas, já que apenas ocorrem sob pressão e temperatura extremas.

Os recordes quebrados a cada ano, mesmo que em escala de segundos, mostram que a ciência e tecnologia da área estão evoluindo a passos largos. Agora, o ambicioso objetivo do KSTAR é alcançar 300 segundos (5 minutos) operando continuamente a mais de 100.000.000°C até o ano de 2025.

A China também inaugurou, recentemente, seu próprio Sol artificial.