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Estrela de Natal: Conjunção de Júpiter e Saturno acontece hoje; acompanhe

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt

21/12/2020 09h24

Nesta segunda-feira (21) acontece a tão esperada super conjunção dos planetas Júpiter e Saturno. Eles estarão tão perto que vão aparentar brilhar como uma única estrela gigante. Um raro beijo cósmico, que não é visível assim há quase 800 anos. O fenômeno poderá ser observado ao anoitecer.

Nos últimos meses, Júpiter e Saturno já vinham dando um show no céu noturno, se aproximando a cada dia mais um pouquinho. Hoje, do ponto de vista da Terra, os dois planetas gasosos finalmente se encontrarão em uma versão moderna da "Estrela de Natal".

Eles estarão a menos de 0,1 grau um do outro e, a olho nu, parecerão se tocar e fundir. Claro que tudo depende da perspectiva. Na realidade, considerando a distância das órbitas, cerca de 700 milhões de quilômetros separam Júpiter e Saturno.

"Esta observação de Júpiter e Saturno é o evento astronômico mais aguardado do ano por vários motivos. O primeiro deles é que eles estarão muito próximos visualmente. Desde de o dia 12 de dezembro, usando um telescópio pequeno e uma ocular de 25 mm, é possível observar os dois maiores planetas do sistema solar ao mesmo tempo, é incrível! Isso é possível até dia 29 de dezembro", ressalta o astrônomo amador Diego de Bastiani, do site Astronomia Chapecó.

Como acompanhar?

Como Júpiter e Saturno são bem brilhantes, refletindo muita luz solar, é fácil ver este espetáculo histórico. Basta um céu limpo, sem nuvens densas ou chuva.

Algumas dicas importantes:

1. Seja rápido: daqui do Brasil, só conseguiremos ver a conjunção por pouco mais de uma hora. Quanto mais próximo à linha do Equador você estiver, mais tempo de visibilidade.

2. Busque um lugar alto, com a vista do horizonte poente o mais desobstruída possível, sem grandes prédios, montanhas ou fortes luzes artificiais.

3. Meia hora após o pôr do Sol, por volta das 19h, olhe para a direção Noroeste, no mesmo caminho em que o Sol se pôs.

4. Estique o braço nesta direção, alinhando o dedo mínimo (conhecido como mindinho) com o horizonte, e abra a mão. Os planetas devem estar próximos ao seu polegar (25 graus acima do horizonte). Júpiter é o mais brilhante, abaixo e à esquerda — a olho nu, será quase impossível separá-lo de Saturno, menor, acima e à direita.

Se tiver dificuldades em localizá-los, use um app de observação astronômica, como Star Walk, Star Chart, Sky Safari ou SkyView.

5. Observe Júpiter e Saturno mergulhando juntinhos no horizonte, com uma bela Lua crescente acima deles. Os dois planetas se põem por volta das 20h30. Quanto mais desobstruída sua vista, por mais tempo conseguirá ver o abraço dos planetas.

6. Continue observando os dois planetas nos próximos dias, para vê-los se afastando. Até 29 de dezembro 12, ainda teremos uma bela conjunção. Júpiter se aproximou, deu um beijo e agora vai ultrapassar Saturno, se movendo para a direita e acima dele. Em janeiro de 2021, porém, o brilho deles será ofuscado pelo Sol.

7. O espetáculo fica mais bonito através de lentes: binóculos, um pequeno telescópio ou uma câmera fotográfica profissional com teleobjetiva. Dependendo da capacidade de aumento do aparelho, será possível até ver as maiores luas de Júpiter (Io, Europa, Ganímedes, Calisto) e de Saturno (Titan e Jápeto), além dos clássicos anéis.

Eles estão tão próximos que, no mesmo campo da ocular do telescópio ou da câmera, é possível ver e registrar os dois planetas, sem precisar movimentá-lo.

O que é conjunção?

Conjunção é o termo astronômico para quando dois ou mais corpos celestes (planetas, Lua, sol) aparecem bem próximos no nosso céu — uma proximidade apenas em relação a um determinado ponto de vista (no caso, o da Terra). Não há nenhum risco de impacto.

Um eclipse solar, por exemplo, é uma conjunção entre a Lua e o Sol. Conjunções envolvendo a Lua são as mais comuns — já que nosso satélite muda de posição no céu mais rapidamente, dando uma volta inteira na Terra por mês. Ela pode até compor uma linha reta ou triângulo com dois planetas.

Quando acontece entre Júpiter e Saturno, ganha o título de grande conjunção, por ser a mais rara entre os planetas visíveis, envolvendo os dois maiores do Sistema Solar. Isso ocorre, aproximadamente, a cada 20 anos terrestres, devido a suas órbitas grandes e lentas - Júpiter leva 11,86 anos para completar uma volta no Sol; Saturno demora 29,4 anos.

A grande conjunção é um momento em que a Terra e os dois planetas estão alinhados na elíptica. Mas o fenômeno nem sempre é visível daqui (precisa acontecer no céu noturno e em uma posição favorável), e a separação aparente entre Júpiter e Saturno costuma ser maior, entre 1° e 2°. A mais recente, em 31 de maio 2000, a 1,2°, não foi observável pois os dois estavam muito perto do Sol.

Por isso, a conjunção de hoje não é apenas grande, é super: um décimo de grau (ou 6 minutos de arco) é muito perto. Isso representa uma distância do tamanho de um quinto do diâmetro aparente da Lua. E está em nosso céu noturno, bem posicionada, visível praticamente no mundo inteiro.

"Um casal de mãos dadas é uma conjunção de 1 grau, mais comum, a cada duas décadas. Um casal dando um super abraço, bem juntinhos, é a de 0,1 grau. Esse evento tão especial acontece, aproximadamente, a cada 400 anos. É lindo e uma raridade", explica Julio Lobo, astrônomo do Observatório Municipal de Campinas Jean Nicolini.

A última vez que os planetas estiveram em uma conjunção tão próxima, de menos de 0,1°, foi em 16 de julho de 1623, quando chegaram a 0,083° de separação. Mas também estavam posicionados muito perto do Sol - ou seja, provavelmente, ninguém da Terra conseguiu ver; os primeiros telescópios começavam a ser criados naquela época.

Calcula-se que a última vez em que o "beijo" aconteceu nesta intensidade e à noite, com boas condições de observação, foi em 4 de março de 1226, na Baixa Idade Média, quando brilharam a apenas 0,033° de distância, a menor já registrada.

A próxima conjunção Júpiter-Saturno bem pertinho assim não vai demorar séculos, está prevista para 15 de março de 2080. Depois disso, só em 2417 e 2477.

"Quem sabe ainda poderei observar mais uma vez. Claro, é um fenômeno que demora muito tempo para acontecer, mas o que me deixa feliz é que são uma porta para aproximar ainda mais pessoas a conhecer o céu e, lá no futuro, contar para seus netos/as o que você viu, para que eles também observem esse mesmo evento", celebra de Bastiani.

Em 31 de outubro de 2040 e em 7 de abril de 2060, os dois planetas poderão ser vistos juntos novamente, mas a uma "grande" distância de pelo menos 1,1°.

Estrela de Belém?

Será que, justamente no período de Natal, o que estamos vendo é a "Estrela de Belém" das histórias cristãs? De acordo com a Bíblia, os três Reis Magos foram guiados ao local de nascimento de Jesus Cristo por uma estrela muito brilhante, que anunciou a "boa nova" a todos os povos do mundo.

A estrela pode ser apenas uma metáfora do Evangelho de Mateus. Mas, se de fato existiu algo diferente no céu, cientistas acreditam que poderia tratar-se de uma grande conjunção planetária - talvez uma tripla, entre Júpiter, Saturno e Vênus —, um cometa muito luminoso ou mesmo uma supernova explodindo.

"Se você retroceder o tempo nos programas que mostram o céu, na noite do dia 25 não há nada. Mas, segundo alguns historiadores, quando os Reis Magos chegaram, Cristo já teria uns 4 anos de idade. Afinal, eles atravessaram desertos de camelo. Então esse sinal deve ter ficado muito tempo aceso no céu. Segundo registros chineses, houve um cometa bem brilhante naquela época, que poderia explicar. Pode também ter sido algo que não compreendemos", diz Lobo.

Enquanto todos tentamos manter distância um dos outros, Júpiter e Saturno desafiam a pandemia. Com a super conjunção acontecendo ao fim de um ano tão desafiador, o astrônomo também o enxerga como um presente celestial: "Eu prefiro chamar o evento de hoje de 'A Estrela da Esperança'. Porque é isso que toda humanidade precisa agora".

Para tornar o dia astronomicamente mais especial, 21 de dezembro também é a data do solstício de verão aqui no hemisfério Sul. É o dia mais longo do ano, quando os raios solares incidem perpendicularmente sobre o Trópico de Capricórnio, marcando o início oficial do verão.