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Como era o Computador do Milhão, iniciativa de Silvio Santos na tecnologia

Computador do Milhão - Reprodução
Computador do Milhão Imagem: Reprodução

Márcio Padrão

De Tilt, em São Paulo

13/12/2020 11h50

Silvio Santos, o popular apresentador e empresário dono do SBT, completou 90 anos neste sábado (12). Por isso o momento é apropriado para Tilt relembrar uma das principais empreitadas do "patrão" no mundo da tecnologia: o Computador do Milhão.

O ano era 2001, e o programa "Show do Milhão" —inspirado no game show britânico "Who Wants to Be a Millionaire?"— já estava no ar há dois anos. Para aproveitar o seu sucesso, produtos licenciados baseados no programa foram lançados.

O SBT e a Microsoft se juntaram em um investimento de R$ 88 milhões para lançar o Computador do Milhão, que seria cerca de 45% mais barato que os modelos da época e tinha o objetivo de promover inclusão digital nas classes média e baixa —além de lucrar, claro.

No fim dos anos 90, a computação pessoal e a internet não eram tão massificados quanto hoje em dia. Segundo a Folha de S. Paulo, o Brasil tinha em 1999 7,6 milhões de internautas— em sexto lugar no ranking global. Mas cerca de 48% desses internautas usavam computadores de outras pessoas, e só 10% sabiam se conectar à web.

Fabricado pelas empresas Metron, Procomp e Semp Toshiba, o Computador do Milhão custava à vista R$ 1.928, e sua compra podia ser financiada em até 36 parcelas fixas de R$ 88, feitas com cheques mensais, ou R$ 91, financiados pelo Banco PanAmericano —sim, o banco de Silvio Santos. Tudo em casa.

Por ser barato, o computador entregava uma ficha técnica que mesmo na época era modesta. Comparar com os modelos atuais, 19 anos depois, é até injusto. Veja as configurações, de acordo com notícia do Diario do Grande ABC:

  • Processador Intel Celeron de 700 MHz;
  • 64 MB de memória RAM;
  • 10 GB de disco rígido;
  • CD-ROM de 52X;
  • fax/modem de 56 Kbps (sim, na época da conexão discada a configuração do modem importava);
  • Monitor LG de 15 polegadas;
  • Impressora colorida jato de tinta Lexmark Z22;
  • Sistema operacional Microsoft Windows ME, além dos programas MS Works 6.0, MS Atlas e Enciclopédia Encarta 2001 e o CD-ROM do Show do Milhão (joguinho baseado no programa).

Para se ter uma ideia, um computador razoável hoje tem processadores Intel i3 com velocidade de 2,2 GHz —mais que o triplo do computador de Silvio Santos. Sem falar da memória RAM, hoje no mínimo sendo 4 GB.

A ideia deu certo?

No começo, deu até demais. De acordo com notícia da Folha de S. Paulo em maio de 2001, houve quase 800 mil ligações de interessados no primeiro mês e a estrutura de atendimento não aguentou: apenas 15,76% (123 mil) chegaram a ser atendidas. A meta era vender 500 mil unidades no primeiro ano.

Nos primeiros 45 dias, foram vendidos 16.700 computadores. Daí a Metron se tornou a montadora exclusiva do computador e na segunda fase o preço aumentou para R$ 2.199, mas a ficha técnica melhorou:

  • Processador Intel Celeron de 1 GHz;
  • 128 MB de memória RAM;
  • Disco rígido de 20 GB;
  • Monitor de 15 polegadas;
  • Sistema operacional Windows XP;
  • Kit multimídia (CD-ROM + placa de som + alto-falantes);
  • Impressora Lexmark Z 22;
  • Seis meses gratuitos de acesso à internet pela AOL e curso de informática pela web da KA Solution.

O fim

Não se sabe ao certo quando o Computador do Milhão parou de ser fabricado. No final de 2003, a Metron se viu envolvida em uma investigação de contrabando. Naquele mesmo ano, havia informado que estava passando por dificuldades financeiras, chegando a pedir concordata preventiva.

Em 2003, o panorama de inclusão digital no Brasil já era bem diferente do que em 1999. A Fundação Getúlio Vargas estimava que o Brasil teria naquele ano 22,4 milhões de computadores, incluindo corporativos e domésticos. Ainda um pouco longe do cenário atual —oito em cada dez residências já têm internet, e quase todo mundo trocou o PC pelo celular— mas sem dúvida achar alguém com PC e internet em casa já era bem mais fácil. O Computador do Milhão deve ter tido sua parcela de ajuda nisso.