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Estudo no Amazonas descobre 4 linhagens inéditas do coronavírus no país

Pesquisador Felipe Naveca, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia, descobriu 4 linhagens inéditas do coronavírus no país - Divulgação
Pesquisador Felipe Naveca, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia, descobriu 4 linhagens inéditas do coronavírus no país Imagem: Divulgação

Carlos Madeiro

Colaboração para Tilt, em Maceió

14/11/2020 09h00Atualizada em 14/11/2020 11h05

Oito linhagens diferentes do novo coronavírus circularam no Amazonas no pico da epidemia, sendo que quatro delas ainda não tinham sido identificadas até agora no país, aponta um estudo comandado pelo pesquisador Felipe Naveca, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia e divulgado com exclusividade para Tilt.

As quatro novas linhagens descritas no Brasil têm origens distintas:

  • B.1.107 - Dinamarca;
  • B.1.111 - Colômbia;
  • B.1.1.2 - Reino Unido;
  • B.1.35 - Reino Unido, principalmente País de Gales

Somente em Manaus, foram achadas sete linhagens diferentes do vírus circulando. No interior, em cidades como Manacapuru e Manicoré, foram três tipos.

O estudo, feito em parceria com a FVS (Fundação de Vigilância em Saúde) do Amazonas, analisou 79 amostras de 18 municípios, a maioria colhida de pacientes que tiveram covid-19 entre abril e início de junho, quando o estado enfrentou o pico da epidemia. Em 39 delas, predominou a linhagem B.1 —mesmo tipo principal de Ceará e Minas Gerai (onde houve, na verdade, um empate de B.1. e B.1.33).

Em termo de Brasil, a linhagem mais abundante é B.1.1.33, embora exista um viés, porque 67,7% das sequências disponíveis são de Rio e São Paulo.

Naveca foi o pioneiro a sequenciar o novo coronavírus no Norte, em março, e foi quem revelou uma linhagem diferente do coronavírus em São Paulo. Com as novas descobertas, são até agora 26 linhagens encontradas no Brasil.

Segundo ele, essa quantidade de linhagens confirma que o Amazonas teve múltiplas portas de entrada do vírus, algumas independentes do restante do país e que não foram descritas no Brasil. Isso indica também que é necessário repensar a vigilância epidemiológica de forma diferenciada para cada região.

"Para o sistema de vigilância nacional, é um dado muito importante. Temos de parar de achar que uma vigilância em Rio, São Paulo e, às vezes, no Distrito Federal é suficiente para entender o que se passa no país. A dinâmica epidemiológica das doenças respiratórias no Norte é diferente do restante do país e já sabíamos disso com o influenza", afirma.

Os dados inéditos, diz Naveca, contradizem a ideia de que houve uma proliferação prioritária dos grandes para os menores centros. Manaus, por exemplo, recebe executivos de todo o mundo em visita a empresas da Zona Franca. Além disso, houve um tipo vindo da Colômbia, que infectou pessoas em Tabatinga, na fronteira entre os dois países.

"Ouvi várias vezes que o SARS-CoV-2 chegaria em Manaus vindo de outra grande cidade do país e aí seria interiorizado, mas os dados não suportam essa como a única rota. Nós vivemos [no Amazonas] uma epidemia com características diferentes do restante do país, onde o vírus aparentemente chegou mais rápido e com maior intensidade", explica. "Nós encontramos essa linhagem [B.1.111] justamente na tríplice fronteira. Esse é mais um argumento para aumentar a vigilância em saúde nesses territórios sensíveis que são as fronteiras internacionais do país."

Apesar de serem linhagens diferentes —que ocorrem por mutações naturais do vírus— elas não alteram, em tese, a forma da doença nem reduzem a imunidade de quem já foi contaminado. Ou seja, quem pegou um tipo de linhagem fica protegido de todas as demais. O tempo de imunidade ainda é uma incógnita.

Também não se sabe se alguma linhagem está relacionada ou não a maior ou menor gravidade da covid-19.

O estudo, financiado por Fiocruz, Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), Regesam (Rede Genômica em Saúde do Estado do Amazonas) e CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), deve apresentar novos resultados em breve.