Topo

Lua pode ter protegido a Terra da fúria do Sol há 4 bilhões de anos

Ilustração mostra as linhas do campo magnético que a Terra gera hoje; A Lua não tem mais campo magnético - Nasa
Ilustração mostra as linhas do campo magnético que a Terra gera hoje; A Lua não tem mais campo magnético Imagem: Nasa

Lucas Carvalho

De Tilt, em São Paulo

15/10/2020 13h54

Um estudo publicado nesta semana por cientistas da Nasa, agência espacial norte-americana, indica que o campo magnético da Lua pode ter protegido a Terra da fúria do Sol cerca de 4 bilhões de anos atrás, quando o nosso planeta ainda era um caldeirão em formação, muito antes de ver nascer suas primeiras formas de vida.

A conclusão surgiu da análise de rochas lunares coletadas pela missão Apollo na década de 1960— aquela que levou o homem à Lua pela primeira vez. Essas rochas já indicavam que o satélite natural da Terra teve um campo magnético em algum momento do passado, mas só agora, com a tecnologia de hoje, cientistas puderam mensurar o tamanho desse campo magnético.

De acordo com a teoria mais bem aceita pela comunidade científica, a Lua nasceu quando um objeto do tamanho de Marte se chocou com a Terra mais de 4,5 bilhões de anos atrás. Os detritos formados a partir desse choque se juntaram pela força da gravidade e formaram a Lua, que em seus primeiros anos era bem diferente da rocha congelada que vemos no céu à noite.

O novo estudo da Nasa indica que até cerca de 2,5 bilhões de anos atrás, a Lua tinha um núcleo quente de ferro derretido como o da Terra que formava um campo magnético ao seu redor muito semelhante ao que o nosso planeta tem hoje - e que causa fenômenos naturais como o da aurora boreal.

Usando uma simulação de computador, a equipe do cientista-chefe da agência, Jim Green, descobriu que, nas condições daquela época, quando a Terra se movia bem mais rapidamente (cada dia tinha apenas 5 horas) e a Lua estava bem mais próxima (130 mil quilômetros), é muito provável que os campos magnéticos dos dois interagiram e criaram uma espécie de escudo gigante.

Esse escudo magnético pode ter protegido a Terra em seus anos de formação, principalmente de erupções e ventos radioativos disparados por uma versão mais fria, menos brilhante e muito mais violenta do nosso Sol mais jovem.

É possível que a proteção tenha sido de grande ajuda para manter as condições ideais para o surgimento de vida no planeta."Entender a história do campo magnético da Lua nos ajuda a entender não apenas como era a sua possível atmosfera, mas como o interior lunar evoluiu", disse David Draper, cientista-chefe adjunto da Nasa e coautor do estudo.

"Essa é uma peça muito importante do quebra-cabeça de como a Lua funciona do lado de dentro. "Se a Lua protegeu a Terra em seus anos de formação para que a vida aqui pudesse florescer, então é possível que outros planetas tenham recebido essa proteção de seus respectivos satélites naturais. De acordo com a Nasa, futuras missões tripuladas à Lua fornecerão mais detalhes e maneiras de testar a teoria.