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Sem inovar, Apple volta ao passado e confia no 5G para alavancar iPhone 12

Gabriel Francisco Ribeiro

De Tilt, em São Paulo

14/10/2020 19h21

Para muitos fãs da Apple, o nome da marca remete à inovação. Essa imagem mental criada por anos faz qualquer lançamento da marca ser o mais aguardado e comentado do ano. Por isso é uma pena que cada vez mais a inovação esteja longe, como ficou claro na última terça (13) com o novo iPhone 12. Neste ano, na verdade trouxe algumas novidades interpretadas como retrocessos e confia no 5G como chamariz de vendas.

Enquanto outras fabricantes já lançam celulares com telas dobráveis que fazem o smartphone virar um tablet ou fechar no modo flip, na Apple isso ainda está na fase de patentes. Enquanto a concorrência lança carregadores potentes que completam toda a bateria do aparelho em menos de uma hora, a maçã faz um movimento totalmente inverso ao parar de oferecer carregadores.

Até em seguir tendências (ao mesmo tempo em que cria algumas, como o entalhe) a Apple parece estar para trás. Afinal, a especulada tela de 120 Hz também ficou de fora dos modelos deste ano. Ela já está em celulares da Samsung e Xiaomi, por exemplo.

Não que o iPhone 12 seja ruim. Ele já chega como o celular mais poderoso e rápido do mundo graças ao novo processador da companhia, que ano após ano deixa a concorrência para trás. Mas isso já é esperado de uma empresa que faz um dos smartphones mais caros e desejados do mundo. Novidades, de fato, são poucas e a cada ano que passa voltamos a criticar a Apple por "não inovar".

Retorno ao passado

Uma estratégia da Apple para este ano foi um retorno ao passado principalmente no design. Para compensar a ausência de aspectos futurísticos, a empresa quer nos pegar pelo saudosismo. A linha retomou as laterais mais quadradas e retas, como eram os iPhones 4, 4S e 5. As bordas laterais do celular não terão mais uma curvatura arredondada como visto nos últimos lançamentos.

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O iPhone 12 Pro e o iPhone 12 Pro Max apresentam um novo design de aço inoxidável de borda plana elevada e uma tampa frontal com escudo de cerâmica para maior durabilidade.
Imagem: Divulgação/Apple

Confesso que gostei, já que lembra o iPhone 5, um dos celulares da Apple mais icônicos de todos os tempos. A pegada do aparelho também era muito boa, mas vale lembrar que era um celular bem menor do que os atuais "gigantes" iPhones.

Agora... falar de um detalhe como essa nova lateral não parece muito pouco para a Apple? Provavelmente a maioria dos usuários nem irá perceber a diferença porque virou tendência usar uma capinha para proteger os celulares contra quedas.

A mudança de design do ano passado, mesmo que pequena, foi mais marcante, com a nova traseira com uma moldura para as câmeras e que logo depois virou moda sendo copiada por diversos fabricantes.

Incomoda mais a Apple continuar insistindo no entalhe enorme na frente do celular, mantido desde o lançamento do iPhone X em 2017 que criou essa moda. Atualmente, já é possível ver celulares com entalhes ou furos cada vez menores —e no ano que vem a câmera sob a tela deve virar realidade em celulares chineses e na Samsung.

Entre inovações e decepções

Mas houve coisa legal, sim, na apresentação da Apple. Por exemplo, o primeiro processador com 5 nanômetros do mundo, um enorme marco para a computação e que deve ser adotado por outras fabricantes de celulares Android na virada deste ano.

Isso reforça um ponto cada vez mais vital para a Apple: a potência dos iPhones. Na falta de elementos novos no mercado que façam a gente dizer "uau" na apresentação —como uma tela dobrável, que seja—, a marca opta por focar no fato dos seus celulares serem poderosos. E de fato são, com a contribuição de um sistema operacional que é bem estável.

Outra novidade dos iPhones é o novo sensor LiDAR colocado junto às câmeras das versões Pro. Essa é uma tecnologia dos futuros carros autônomos: é um sensor que consegue entender a distância entre objetos, algo semelhante ao que o Time of Flight faz em celulares Android.

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iPhone 12 Pro e Pro Max têm mais câmeras
Imagem: Reprodução/YouTube

O LiDAR vai fazer o iPhone dar um salto na realidade aumentada e também melhorará imagens tiradas com o celular. De resto, as atualizações da câmera foram mais relacionadas a pequenas melhorias —a mais legal delas é que o modo noturno agora estará disponível em todas as lentes, não só mais apenas na principal como ocorreu com o iPhone 11.

Pesa contra o iPhone a inovação cada vez menor no zoom das câmeras. As versões mais robustas terão zoom óptico de 3x e digital de 12x, mas outros fabricantes como Samsung e Xiaomi normalizaram o zoom de 50x. Em alguns chegando a 100x, mas deixando as fotos bem borradas.

A apresentação também foi marcada por outras decepções. A principal delas é a ausência da tela de 120 Hz já vista em aparelhos de marcas como Samsung e Xiaomi. Especulado para pelo menos alguns dos iPhones, o recurso ficou para o ano que vem, provavelmente.

Segundo a imprensa internacional, foi uma decisão da Apple para não prejudicar a bateria dos iPhones —de fato, essa tela que deixa transições mais fluidas tem gastado mais bateria nos celulares que já contam com ela. Ainda assim, os concorrentes estão criando meios de diminuir esse gasto: aparelhos da Samsung contam com uma taxa dinâmica que varia entre 10 Hz e 120 Hz dependendo do conteúdo na tela.

Foco no 5G

Ao que tudo indica, a escolha da Apple foi entre a tela de 120 Hz e o 5G. A nova conexão também aumentará o gasto de bateria. Nesse ponto, a opção pelo 5G parece ter sido acertada.

Seria de fato feio para a Apple se ela não lançasse os novos iPhones com 5G. No mercado, grandes fabricantes já têm aparelhos compatíveis desde o início do ano passado. A nova conexão móvel é de fato o principal trunfo da empresa para alavancar as vendas dos celulares e não à toa foi o recurso mais citado ao longo da apresentação.

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5G foi a novidade mais alardeada dos novos iPhones
Imagem: Reprodução/YouTube

Uma nova conexão móvel, com internet mais rápida, torna-se o principal fator de convencimento para quem já tem um iPhone e quer seguir com a marca.

Fora do Brasil, o 5G tem se popularizado cada vez mais. Por aqui, isso ainda pouco importa por enquanto: sequer tivemos o leilão das frequências ainda e isso só deve começar a fazer diferença nas grandes cidades daqui a dois ou três anos.

Ao adotar o 5G, ao menos a Apple aumenta a pressão para o crescimento dessa nova tecnologia. Querendo ou não, é uma das mais tradicionais —e desejadas— fabricantes do mundo e que sempre consegue criar tendências ou acelerar inovações.