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Ataque hacker atrasa testes de tratamentos e vacinas para covid-19

Tommaso79/Getty Images
Imagem: Tommaso79/Getty Images

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt

06/10/2020 15h43

A empresa de tecnologia eResearch Techonology, que vende um software usado em centenas de testes clínicos, tratamentos e vacinas para a covid-19, foi alvo de um ataque de hackers que atrasou alguns desses testes nas últimas duas semanas. As informações são do The New York Times.

O ataque à empresa da Filadélfia foi descoberto quando funcionários perceberam que seus dados foram bloqueados por um ransomware, que sequestra as informações em troca de um resgate para desbloqueá-las. Apesar dos transtornos, a empresa afirmou que os pacientes dos testes nunca correram riscos.

Clientes relataram ao jornal americano que o ataque forçou os pesquisadores a rastrear e registrar dados dos pacientes usando papel e caneta.

De acordo com o The New York Times, entre os atingidos estavam a IQVA, organização de pesquisa que ajuda a gerenciar os testes da vacina da covid da AstraZanexa, e Bristol Squibb, farmacêutica que lidera um consórcio de empresas para desenvolver um teste rápido para o vírus.

A eResearch Technology não divulgou quantos testes foram afetados, mas o software da empresa é usado analisar medicamentos na Europa, Ásia e América do Norte.

Na sexta-feira passada, o vice-presidente de marketing da empresa, Drew Bustos, afirmou que o ransomware apreendeu sistemas no dia 20 de setembro e que, como precaução, a empresa desligou seus sistemas e notificou o departamento Federal de Investigação. Bustos se negou a informar se a empresa pagou para retomar os dados sequestrados.

A empresa diz que começou a reativar os sistemas online na sexta-feira e que planejava colocar o restante em funcionamento durante esta semana —ainda não há informações de que tudo foi normalizado.

Em contato com o The New York Times, a IQVIA, disse que conseguiu limitar os problemas porque fez backup de seus dados. A empresa afirmou que o ataque teve "impacto limitado em nossas operações de testes clínicos". Além disso, disse não ter conhecimento de que dados confidenciais dos pacientes tenham sido removidos, comprometidos ou roubado".

A Bristol Myers Squibb também disse que o impacto do ataque foi limitado, mas outros clientes da ERT tiveram que mudar seus testes clínicos para papel e caneta.

Não é a primeira vez

Empresas e laboratórios de pesquisa na linha de frente da pandemia têm sido alvos de hackers nos últimos meses. Em maio, o FBI e o Departamento de Segurança Interna dos EUA afirmaram que espiões do governo chinês estavam ativamente tentando roubar pesquisas clínicas americanas por meio de roubo cibernético.

O ministro das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, rebateu as acusações. "Combatemos firmemente todos os tipos de ataques cibernéticos conduzidos por hackers. Estamos liderando o mundo no tratamento do covid-19 e na pesquisa de vacinas. É imoral atacar a China com boatos e calúnias na ausência de qualquer evidência".

Em junho, a Universidade da Califórnia confirmou que foi alvo de uma "invasão ilegal", mas se recusou a explicar qual parte de sua rede foi comprometida. A instituição está entre as que lideram os testes de anticorpos e testes clínicos americanos para possíveis tratamentos contra o coronavírus.

No Brasil, o Ministério da Saúde afirmou no começo de junho que o site de dados da covid-19 foi alvo de ataque de hackers, o que retirou a página do ar.

No mês passado, uma mulher morreu durante um ataque de hackers a um hospital em Dusseldorf, na Alemanha. Esse teria sido o primeiro ataque cibernético a provocar uma morte, segundo o site americano The Verge.

Por que hackers querem dados de saúde?

Em julho, duas grandes empresas de saúde do país, a operadora de planos de saúde Hapvida e o Hospital Sírio-Libanês, informaram terem sido alvos de ataques cibernéticos. Enquanto a operadora afirmou que o ataque obteve acesso a dados cadastrais como CPF, nome completo e endereço de alguns clientes, o hospital disse que os sistemas de segurança protegeram as informações.

No começo de abril, a organização internacional de polícia Interpol disse que detectou um aumento significativo no número de tentativas de ataques de ransomware contra hospitais e serviços médicos.

Segundo Hiago Kin, presidente da Abraseci (Associação Brasileira de Segurança Cibernética), os hospitais são o segundo alvo mais atacado pelos cibercriminosos, atrás apenas dos bancos. O motivo, segundo ele, é que os hospitais têm o banco de dados dos pacientes sempre atualizados. Na crise de covid os hospitais passam por mais dificuldades para manter sua segurança digital em dia, o que facilita o trabalho de criminosos.