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Estrela anã vermelha e "calma" na verdade é uma decepção

Ilustração mostra uma jovem anã vermelha ativa (à direita) retirando a atmosfera de um planeta em órbita (à esquerda) - NASA, ESA e D. Player (STScI)
Ilustração mostra uma jovem anã vermelha ativa (à direita) retirando a atmosfera de um planeta em órbita (à esquerda) Imagem: NASA, ESA e D. Player (STScI)

Nicole D'Almeida

Colaboração para Tilt

15/09/2020 16h10

Uma recente pesquisa de astrônomos da ASU (Universidade do Estado do Arizona), nos EUA, mostrou que um sistema planetário descoberto em junho —que abriga a estrela GJ 887— pode não ser tão "calmo" quanto se pensava. E isso é uma má notícia para quem achava que o sistema poderia ser o mais parecido com o nosso, e por isso com chances de habitar vida.

O sistema da GJ 887 está localizado a 11 anos-luz de distância do Sistema Solar. Sua estrela principal é uma anã vermelha com metade da massa do Sol e 1% de sua luminosidade. É uma das estrelas da classe M mais brilhantes do céu. Esse tipo é de baixa massa e supera, em número, as estrelas como o Sol em mais de dez vezes. Mais de 80% das M são anãs vermelhas, como essa e a Próxima Centauri.

Inicialmente, a GJ 887 estrela foi considerada, pelos cientistas, silenciosa e calma. São atributos que criam um ambiente seguro e estável para os planetas em órbita.

Em seus primeiros monitoramentos pelo Tess (sigla em inglês para Pesquisa por Satélite de Exoplanetas em Trânsito) da Nasa, a GJ 887 não exibiu nenhuma chama detectável durante 27 dias de observações contínuas. A ausência de chamas em uma estrela favorece a sobrevivência de atmosferas em planetas que a orbitam e, consequentemente, a vida potencial.

Desconfiados, Parke Loyd e Evgenya Shkolnik, astrônomos da Escola de Exploração da Terra e do Espaço, da ASU, decidiram investigar mais a fundo e acabaram descobrindo, em dados arquivados do telescópio espacial Hubble, que, na verdade, a GJ 887 queima de hora em hora.

Essa descoberta foi possível porque o Hubble monitorou a estrela no espectro ultravioleta, permitindo que os cientistas vissem enormes picos de brilho causados por chamas estelares. Isso revelou que, embora possam parecer calmas, as anãs vermelhas podem emitir chamas com fótons (partículas de luz) de energia muito maiores do que a luz visível.

Cada explosão é capaz de bombardear os planetas em sua órbita com uma tempestade magnética e uma chuva de partículas em movimento rápido, aumentando as chances de que as atmosferas dos planetas da GJ 887 tenham sido corroídas lentamente há muito tempo.

Entretanto, de acordo com outras pesquisas, a tendência de explosão das anãs vermelhas não significa necessariamente que qualquer planeta em órbita possa se tornar sem ar e estéril. A presença de uma atmosfera suficiente e coberta de nuvens na região, por exemplo, poderia levantar a chance de haver vida, mas seria necessário mais estudos e observações mais precisas no local para comprovar isso.