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Como reforçar o intestino será importante para sobreviver em Marte

Roboô Curiosity faz selfie em Marte - Reprodução/NASA
Roboô Curiosity faz selfie em Marte Imagem: Reprodução/NASA

Mirthyani Bezerra

Colaboração para Tilt

08/09/2020 13h32

Sem tempo, irmão

  • Viajar para Marte seria um desafio e tanto para organismo humano
  • Muito tempo em gravidade baixa pode causar sérios danos à saúde
  • Viagens espaciais mudam microbioma intestinal, abrindo espaço para infecções
  • Tratar dessas bactérias pode ser a chave para diminuir os riscos

Quem vê os astronautas flutuando nos vídeos talvez não lembre que passar muito tempo no espaço faz mal à saúde. É um dos problemas previstos em missões de longa distância, como Marte. No entanto, um estudo publicado nesta terça (8) no periódico Frontiers in Physiology diz que ter uma flora intestinal reforçada pode proteger os viajantes espaciais de alguns riscos desse tipo.

O estudo sugere que, para irmos prontos a Marte, precisamos saber quais micróbios fornecem os maiores benefícios para o nosso intestino e qual a melhor maneira de usá-los. O artigo é uma revisão de uma série de outras pesquisas focadas nos micróbios intestinais e seu papel na saúde relacionada ao espaço.

Temos que levar em conta a janela de lançamento, que acontece a cada 26 meses, dura cerca de um mês e é quando Marte e Terra estão o mais próximos possível um do outro (cerca de 55 milhões de quilômetros). Nessas condições, viajar para lá levaria de seis a oito meses. Para voltar à Terra, seria preciso esperar outros 26 meses até a próxima janela.

Como ainda não dá para plantar em Marte, os tripulantes ficarão expostos durante todo esse tempo a uma dieta restrita que pode perturbar o microbioma intestinal, levando a problemas de saúde sérios, como inflamações e infecções.

Pesquisas sugerem que, durante as viagens espaciais, ocorrem interrupções no microbioma, como um aumento nas bactérias associadas à inflamação intestinal e uma diminuição nas que protegem contra essas inflamações.

"Mudanças no microbioma podem levar ao colapso da relação equilibrada e complexa entre os micróbios e seu hospedeiro humano, com repercussões potencialmente graves sobre a funcionalidade dos sistemas do corpo", disse Silvia Turroni, da Universidade de Bolonha, uma das autoras do estudo.

Segundo Turroni, a manipulação dessa flora intestinal pode ser uma maneira poderosa de manter a saúde a bordo de uma espaçonave. "A literatura sugere que as contramedidas nutricionais baseadas em prebióticos e probióticos são uma grande promessa para proteger os viajantes espaciais", afirma.

Probiótico neles?

Os estudos afirmam que os tratamentos microbianos poderiam ser tão simples quanto refeições nutricionalmente balanceadas, com muita fibra para melhorar o metabolismo no intestino. Outras opções podem ser mais direcionadas. Uma delas são os suplementos microbianos, como bactérias que secretam substâncias que aumentam o sistema imunológico ou que sintetizam vitaminas necessárias para o crescimento ósseo.

Esse último ponto é especialmente importante porque, ao ser exposto por muito tempo a um ambiente de baixa gravidade como o de Marte —quase três vezes menor que a da Terra—, o viajante poderá sofrer uma ruptura muscular e redução da massa óssea.

Apesar já existir várias programas nutricionais e probióticos capazes de proteger os viajantes espaciais, ainda há muito trabalho a ser feito para descobrir quais tratamentos seriam mais eficazes e como eles poderiam ser melhor usados para cada viajante espacial.

É preciso lembrar ainda que os astronautas poderão ainda sofrer de outros problemas no processo além do intestino, como distúrbios metabólicos, incluindo diminuição da sensibilidade à insulina, déficits do sistema imunológico, doenças mentais e declínio cognitivo. Não é fácil conhecer outros planetas.