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O que aconteceria se as abelhas fossem extintas em todo o mundo?

Estúdio Rebimboca/UOL
Imagem: Estúdio Rebimboca/UOL

Rodrigo Lara

Colaboração para Tilt

01/09/2020 04h00Atualizada em 02/09/2020 18h36

Quando falamos em abelhas, logo pensamos em três coisas: mel, colmeias e picadas doloridas. Mas temos novidades para você: nem toda abelha ferroa —várias delas são inofensivas— e a função delas vai muito além do mel e cera. Esses insetos são muito importantes para a polinização de vegetais.

O problema é que mesmo as abelhas sendo fundamentais para o mundo, há uma dura realidade: elas estão desaparecendo, e os humanos são os principais responsáveis por isso.

E esse é um problema global: enquanto nos Estados Unidos o número de colônias do inseto caiu 52% entre 1957 e 2017, apicultores brasileiros encontram cada vez mais abelhas mortas por aí. Pesquisadores descobriram que, além das doenças e da redução do habitat das espécies, os agrotóxicos são um dos fatores que estão dizimando os bichinhos.

Mas o que poderia acontecer caso as abelhas desaparecessem? É melhor se despedir de alguns de seus pratos preferidos ao se deparar com a resposta.

Adeus, mel e cera

Uma consequência mais imediata desse cenário seria o desaparecimento de produtos como mel e cera. O mel surge depois que as abelhas coletam néctar de plantas como flores, desidratam esse néctar e adicionam substâncias produzidas por elas mesmas. Essa mistura é regurgitada dentro de favos feitos de cera nas colmeias, como uma reserva de alimento energético para larvas e também para adultos durante períodos de escassez.

Já a cera é produzida em glândulas ventrais do abdômen das abelhas e trabalhada como principal material de construção dos ninhos. As abelhas sem ferrão, por sua vez, produzem cera em glândulas no dorso do abdômen.

E também não podemos nos esquecer do própolis, que se origina na seiva de várias espécies de plantas e é usda pelas abelhas para proteger a colônia contra microorganismos e doenças.

Esses produtos são utilizados em diversas indústrias. Além do setor alimentício, o mel também é usado na produção de cosméticos e de medicamentos. Já a cera, apesar de não ser usada como alimento, também serve de matéria-prima para cosméticos e remédios. O própolis, por fim, tem função medicinal para para humanos.

Todos esses produtos são usados em diversas indústrias. O mel serve de alimento para a gente, e tanto ele quanto a cera são usados em cosméticos e medicamentos. O própolis também é ingrediente de remédios.

Falta generalizada de alimentos

Em geral, a falta dos produtos acima teria a ver com um impacto na apicultura, mas um problema ainda maior seria o desaparecimento das abelhas e outros insetos polinizadores silvestres. A agricultura, por exemplo, seria diretamente impactada com a não-existência desses insetos. E isso vale especialmente para o cultivo de vegetais destinados à alimentação.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), das 100 principais espécies vegetais usadas como base para a produção de 90% da comida ao redor do planeta, 71 delas são polinizadas por abelhas.

Curiosamente, os agrotóxicos usados na agricultura são uma das principais causas do desaparecimento de abelhas —e também de outros insetos com função polinizadora. O fipronil, muito usado em lavouras no país, foi dado como responsável pela morte de centenas de milhões de abelhas no Rio Grande do Sul.

Desequilíbrio ambiental

Não seriam apenas os humanos a sentir a falta das abelhas. Elas —e, novamente, outros insetos que também têm importância nessa função— também ajudam a polinizar vegetais que produzem frutas que alimentam outros animais.

Além de impactar animais silvestres, a pecuária seria afetada. Afinal, como produzir ração para o gado, não é mesmo? O processo de extinção de várias espécies seria acelerado, diminuindo consideravelmente a biodiversidade do planeta.

Agravamento de problemas climáticos

Se uma polinização deficiente tende a impactar o bom crescimento de vegetais, cortar esse processo de maneira mais radical traria problemas muito maiores em médio prazo. Some isso com o processo de desmatamento de grandes florestas e teríamos um cenário digno de catástrofe.

E o pior é que essa é uma situação retroalimentada: ter menos insetos significa ter menos plantas, que por sua vez significa mais aquecimento global, que acaba afetando diretamente a biodiversidade do planeta, e o ciclo de destruição recomeça.

Fontes:

Vera Imperatriz Fonseca, professora titular aposentada e livre-docente da Universidade de São Paulo (USP)
Henrique Abrahão Charles, mestre em Biologia Animal no Curso de Pós-graduação do Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e biólogo-chefe do Parque Natural da Restinga do Barreto (RJ)
Ana Bonassa, bióloga e doutora em ciências pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP)