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Como funciona o GoFundMe, site de arrecadação de recursos usado por Bannon?

ALESSANDRO BIANCHI
Imagem: ALESSANDRO BIANCHI

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt

20/08/2020 16h12

Ex-conselheiro do presidente americano, Donald Trump, Steve Bannon foi indiciado e preso nesta quinta-feira (20), acusado de desviar dinheiro da campanha "We Build the Wall" ("Nós Construímos o Muro"), que apoiava a construção de um muro que ficaria entre os Estados Unidos e o México. Junto a Bannon também foram presos Andrew Badolato, o veterano da força aérea dos EUA Brian Kolfage e Timothy Shea.

A campanha foi lançada em 2018 na plataforma GoFundMe e tinha como objetivo arrecadar US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões) para a construção de um muro separando os dois países, uma das principais promessas feitas por Donald Trump durante sua campanha.

Como a plataforma funciona?

Criada em 2010 nos EUA, a GoFundMe é a maior plataforma de crowdfunding (financiamento colaborativo) do mundo —arrecadou mais de US$ 9 bilhões (R$ 50 bilhões) até o final de 2019, segundo o site oficial.

Ela permite a criação de campanhas para arrecadação de projetos para pessoas ou causas. Para isso, basta se cadastrar na plataforma com nome completo e email.

Após o primeiro passo, o usuário é encaminhado para a página de elaboração da campanha, onde é possível colocar um título com até 50 caracteres, descrever para quem o dinheiro será encaminhado (se para você mesmo, para outra pessoa ou para uma ONG) e qual a categoria do projeto que será financiado. Além disso, é necessário indicar qual o valor esperado para receber com a campanha.

Muitas de suas campanhas envolvem ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade social. Mas há diversas categorias, de despesas médicas a emergências, ONGs, viagens, competiçõees e negócios, entre outros.

Por fim, é preciso cadastrar uma imagem e descrever um pouco sobre os motivos de pedir apoio. A tarifa de processamento da transação é de 2,9% mais US$ 0,30 por doação.

Já para fazer uma doação, o usuário deve cadastrar seu email e escolher qual campanha irá apoiar. Ao entrar na página do projeto, é possível verificar o valor arrecadado até o momento e quantos doadores apoiaram até o momento —no caso da "We Build The Wall", uma apuração da Reuters apontou que mais de 330 mil pessoas fizeram doações.

No momento da doação, o usuário coloca o valor que irá repassar à campanha e a porcentagem que irá pagar para a plataforma —que é opcional. "A tarifa da plataforma GoFundMe para organizadores é de 0% —contamos com a generosidade de doadores como você para cobrir os custos de operação de nosso serviço", diz o site. O pagamento é realizado por meio de cartão de crédito e o doador pode optar por ficar anônimo.

Prisão de Bannon

A procuradoria de Nova York acusa Steve Bannon, Andrew Badolato, Brian Kolfage e Timothy Shea de enganarem doadores no esquema de arrecadação de fundos online "We Build The Wall".

A campanha teria arrecadado mais de US$ 25 milhões (cerca de R$ 140 milhões), mas parte do dinheiro, ao contrário do anunciado na GoFundMe, teria sido utilizado para uso pessoal dos organizadores da campanha. Bannon e os outros três acusados prometerem que 100% do valor arrecadado seria usado para o projeto.

"Eles fraudaram centenas de milhares de financiadores capitalizando o interesse deles em financiar a construção do muro na fronteira e com o falso pretexto de que os recursos seriam gastos na obra", afirmou a procuradora Audrey Strauss, do Distrito Sul de Nova York.

Segundo a acusação, Kolfage ficou com US$ 350 mil para financiar seu "luxuoso estilo de vida", e Bannon desviou US$ 1 milhão para uma organização sem fins lucrativos que pagou secretamente a Kolfage "e cobriu centenas de milhares de dólares de gastos pessoais de Bannon".

De acordo com o The Guardian, a acusação aponta que Kolfage usou o dinheiro para despesas, como "reforma de casa, pagamento de um barco, um carro SUV de luxo, um carrinho de golfe, joias, cirurgia plástica, pagamento de impostos pessoais e dívidas de cartão de crédito".

Os homens foram acusados de fraude bancária e conspiração para lavagem de dinheiro —cada delito tem pena máxima de 20 anos de prisão. Eles teriam tentado esconder seu esquema quando perceberam que estavam sendo investigados, em outubro de 2019. Para isso, utilizaram aplicativos de mensagens criptografadas —o que parece não ter adiantado muito.

O inspetor do caso, Philip Bartlett, disse que "eles não apenas mentiram para os doadores, como planejaram ocultar sua apropriação indébita de fundos criando faturas e contas falsas para lavar doações e encobrir seus crimes, sem respeitar a lei ou a verdade".

Recentemente, Brian Kolfage postou em seu Twitter que o grupo estava encerrando a campanha no GoFundMe por conta de a plataforma aderir à campanha Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), criticada pela direita política. Uma nova campanha seria realizada na plataforma FundRazr. O site oficial do We Build The Wall continua online.

Ligação com Trump

Steve Bannon foi diretor executivo da campanha eleitoral de Trump em 2016 e, posteriormente, atuou como estrategista-chefe do presidente por sete meses. Ele foi demitido como principal conselheiro do presidente no verão de 2017. Ainda assim, Donald Trump seguiu falando positivamente sobre seu ex-conselheiro.

Segundo o jornal The Guardian, o secretário de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, tentou distanciar Trump do esquema, afirmando que ele "não tinha se envolvido" com Bannon desde a campanha e o início do governo. Mas, o jornal New York Times noticiou em janeiro de 2019 que o presidente teria dado sua aprovação ao projeto privado.

Segundo reportagem do New York Post de 2018, os termos de serviço do GoFundMe consideram fraude "não usar os fundos arrecadados para o propósito declarado" —ou seja, o dinheiro terá que ser devolvido aos doadores se o muro não for levantado.