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Datafolha: 87% dos brasileiros são contra rastreamento de conversas em app

Recurso é apontado como maneira de coibir ação de redes de desinformação em aplicativos como WhatsApp - Getty Images
Recurso é apontado como maneira de coibir ação de redes de desinformação em aplicativos como WhatsApp Imagem: Getty Images

Rodrigo Trindade

De Tilt, em São Paulo

06/08/2020 04h00

Sem tempo, irmão

  • Pesquisa indica rejeição popular à medida prevista no artigo 10 do PL das Fake News
  • Levantamento também indica apoio à punição de financiadores de boatos nas redes sociais
  • WhatsApp foi descrito como principal ferramenta de informação, comunicação e trabalho do país

Quase nove a cada dez brasileiros ouvidos em pesquisa do Datafolha sobre fake news e privacidade nas redes sociais são contra o rastreamento de conversas privadas em aplicativos como o WhatsApp. O estudo foi encomendado pelo Facebook (dono do WhatsApp) e divulgado nesta quinta-feira (6) com exclusividade a Tilt.

Um total de 87% dos entrevistados acredita que as pessoas têm o direito a usar o WhatsApp, Telegram e afins sem que suas mensagens possam ter a origem traçada.

Aprovado no Senado no final de junho, o projeto de lei 2630/2020 (o PL das Fake News) está em discussão na Câmara e prevê, em sua versão atual, que empresas armazenem por três meses os registros de mensagens encaminhadas em massa. Os registros, no caso, seriam metadados como data, hora e remetente do envio, mas não os conteúdos das mensagens.

A ideia é permitir que seja traçado o celular de origem de mensagens que viralizarem no WhatsApp —ou serviço semelhante— permitindo a identificação de quem lançou boatos na plataforma.

O resultado do Datafolha está de acordo com o que defendem partes da sociedade civil e empresas donas de plataformas nos debates sobre o projeto de lei. Na visão deles, este recurso pode prejudicar a privacidade e a liberdade de expressão de pessoas comuns. O próprio WhatsApp o chama de "tornozeleira eletrônica" para usuários do app, por achar que a exigência classificará todos eles como suspeitos.

Já parlamentares como o relator do texto no Senado, Angelo Coronel (PSD-BA), defendem que o rastreamento permite "poder voltar à origem, a quem cometeu o crime" em caso de mensagens de desinformação.

O levantamento do Datafolha foi realizado por telefone entre 16 e 20 de julho e teve abrangência nacional, com 1.533 entrevistados. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais e para menos, enquanto o nível de confiança é de 95%.

Documento para usar apps

Outro ponto controverso do PL é a obrigação de apresentação de documento de identidade (como RG ou CPF) para a criação de uma conta em redes sociais. Isso caiu no texto final aprovado no Senado, mas as empresas ainda podem pedir essa documentação em certos casos:

  • Denúncias por desrespeito da possível lei;
  • Indícios de contas automatizadas não identificadas como tal;
  • Indícios de contas falsas;
  • Casos de ordem judicial.

Segundo o Datafolha, 64% dos entrevistados acreditam que não deveriam ser obrigados a fornecer dados de documentos de identidade às plataformas. Do outro lado, 35% são favoráveis às exigências.

Sobre moderação de conteúdo, 68% dos entrevistados afirmaram que as empresas devem continuar removendo rapidamente materiais nocivos como violência explícita, exploração infantil e promoção de suicídio. Por outro lado, 28% apoiam o direito e tempo de defesa antes de eventuais remoções.

Maioria diz ter recebido boatos

A pesquisa também cobriu a importância e familiaridade dos entrevistados com conteúdos que aparentavam desinformar. Dos 1.533 entrevistados, 71% afirmaram ter recebido conteúdo duvidoso, ou falso, de parentes ou amigos.

O tema fake news, por sua vez, divide opiniões. Cerca de 45% dos entrevistados consideram este assunto relevante, enquanto 24% têm opinião contrária. Já a punição a financiadores de desinformação é apontada como importante por 80% dos entrevistados —apenas 7% discordam.

WhatsApp é principal app do cotidiano

Além de opinião sobre trechos do PL das Fake News, a pesquisa mediu o comportamento do brasileiro na internet. Dos 1.533 entrevistados, 94% disseram usar a rede para se informar, se comunicar ou trabalhar. O porcentual corresponde a cerca de 156 milhões de brasileiros.

O WhatsApp lidera os serviços usados para se informar (86% dos entrevistados), comunicar (92%) e trabalhar (64%).

No campo da informação, Google (75%) e YouTube (70%) foram o segundo e terceiro mais citados pelos entrevistados — o Facebook ficou em quarto, com 67%. Quanto à comunicação, email é o segundo mais usado, por 62% dos entrevistados, seguido de Facebook (60%) e Instagram (41%).

Para trabalhar, o email também é o segundo serviço mais usado por 46% dos entrevistados, com o Google ocupando a terceira posição (32%) e o Facebook a quarta (27%).