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Chefões de Facebook, Amazon, Apple e Google depõem nos EUA; entenda

Mark Zuckerberg, Jeff Bezos, Sundar Pichai e Tim Cook, CEOs do Facebook, Amazon, Google e Apple - Montagem: Johannes Simon/Getty Images, Noah Berger/AFP, The Verge e Jeff Chiu/AP
Mark Zuckerberg, Jeff Bezos, Sundar Pichai e Tim Cook, CEOs do Facebook, Amazon, Google e Apple Imagem: Montagem: Johannes Simon/Getty Images, Noah Berger/AFP, The Verge e Jeff Chiu/AP

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt, em São Paulo

29/07/2020 04h00

Sem tempo, irmão

  • Chefes de quatro gigantes da tecnologia irão depor ao Congresso dos EUA nesta quarta
  • Objetivo da audiência é investigar a concorrência do mercado digital
  • Apple, Amazon, Google e Facebook somam US$ 5 trilhões de valor de mercado
  • Empresas serão ouvidas a respeito de prejudicarem ou não rivais menores no mercado

Nesta quarta-feira (29), executivos das maiores empresas de tecnologia irão depor perante o painel antitruste do Comitê Judiciário da Câmara no Congresso dos Estados Unidos. Devem prestar depoimento Jeff Bezos, da Amazon; Tim Cook, da Apple; Sundar Pichai, do Google; e Mark Zuckerberg, do Facebook.

Os objetivos da audiência são investigar a concorrência do mercado digital e avaliar se essas empresas, que têm notável influência no setor, atuam para prejudicar ou eliminar rivais menores.

"Dado o papel central que essas empresas desempenham na vida do povo americano, é fundamental que seus CEOs [executivos-chefes] estejam próximos. Como dissemos desde o início, seu testemunho é essencial para concluirmos essa investigação", afirmou Jerrold Nadler, presidente do Comitê Judiciário da Câmara, ao site Cnet.

Apesar da intenção, grupos de lobby de tecnologia e críticos do setor dizem ser pouco provável que a audiência resolva questões antitruste ou traga novas informações à mesa.

"Não há muito o que os executivos de tecnologia possam fazer para apaziguar os críticos 'antitec' ... essa audiência não é para descobrir a verdade, mas para criar notícias", disse Carl Szabo, vice-presidente e consultor-geral do grupo de lobby da indústria NetChoice, à Reuters.

Vale lembrar que o cofundador do Facebook Mark Zuckerberg já participou de sabatinas para parlamentares dos EUA em 2018, mas na época o principal assunto foi o mau uso de dados de usuários por parte da consultoria Cambridge Analytica. Depois disso, a empresa tomou algumas ações para melhorar a qualidade dos seus serviços e até chegou a perder dinheiro, mas que pouco impactou na sua saúde financeira ou no seu poder de mercado.

Como assistir?

A audiência será realizada em Washington na quarta-feira (29), às 13h, horário de Brasília. O subcomitê da Câmara vai mostrá-la ao vivo em seu canal no YouTube.

A audiência estava prevista originalmente para a segunda-feira (27), mas foi remarcada por conta de homenagens do Congresso americano ao falecimento de John Lewis, representante democrata e líder dos direitos civis, que morreu no início da semana passada de câncer no pâncreas.

Executivos estarão presentes?

De acordo com o site Cnet, não está claro se os executivos estarão de corpo presente no Congresso americano. O documento da audiência aponta que "de acordo com as regras atuais da Casa, testemunhas e membros podem aparecer virtualmente", ou seja, por videoconferência.

Essa alteração foi realizada devido à pandemia de covid-19 nos Estados Unidos, país que lidera o número de casos e de mortes pela doença no mundo.

Por que é importante?

Quase tudo que você faz online está ligado a algumas dessas empresas. Google e Apple, por exemplo, operam os dois sistemas operacionais mais populares para smartphones —Android e iOS, respectivamente— e controlam as lojas de aplicativos Play Store e App Store, com a imensa maioria dos apps para celulares existentes no mercado.

Já a Amazon tem enorme participação no comércio eletrônico, além de ter sua própria linha de produtos —alguns deles competem com os de outras marcas em sua loja virtual. Um relatório publicado pelo The Wall Street Journal detalhou como a empresa usa os dados de concorrentes para definir os próprios preços, o que gerou diversas críticas.

Google e Facebook, além de serem responsáveis pelo mecanismo de pesquisa e a rede social mais popular dos Estados Unidos, respectivamente, dominam a maior parte do mercado de publicidade digital.

Questionamentos

É provável que a Apple seja questionada sobre a maneira como gerencia sua loja de aplicativos. Ela é acusada de apresentar obstáculos aos desenvolvedores recém-chegados. À Reuters, a empresa disse que argumentará que não tem controle da participação de mercado para aplicativos. A fabricante do iPhone vê sua loja como um recurso projetado para garantir a segurança e a confiabilidade de seus telefones.

Segundo o site The Information, o chefe da Apple, Tim Cook, acredita que a empresa não pertence ao grupo de empresas vistas como malfeitores antitruste. De acordo com a reportagem, Cook só aceitou participar dos depoimentos porque o presidente do comitê, o democrata David Cicilline, ameaçou obrigar seu testemunho por intimação.

De acordo com a Reuters, uma fonte familiarizada com os planos da Amazon afirmou que Jeff Bezos falará sobre as opções que os consumidores têm para compras online e como a pandemia de coronavírus impulsionou o comércio eletrônico em geral.

Bezos também abordará alegações de que a empresa aproveitou a pandemia ao limitar o estoque vendido por pequenos vendedores, mas evitará tratar de questões controversas, como a conversa sobre a cisão da empresa, disse a fonte.

Já o executivo-chefe do Facebook, Mark Zuckerberg, deve argumentar que a empresa tem fortes concorrentes em publicidade, como Google e Amazon, e nas mídias sociais, como Twitter e TikTok. Segundo a Bloomberg, Zuckerberg deve aproveitar o espaço para destacar que o sucesso da rede social é "patriótico" — aproveitando a pressão que o chinês TikTok tem recebido no país.

A rede social, que possui cerca de 2,6 bilhões de usuários ativos no mundo, anunciou na segunda-feira (27) o adiamento da divulgação dos seus resultados no segundo trimestre para permitir a presença de Zuckerberg na audiência do Congresso.

Ainda não se sabe como o Google deve argumentar. Mas uma reportagem recente do The Information apontou que um programa interno da companhia, conhecido como "Android Lockbox", pode fornecer aos funcionários da empresa acesso a informações sobre como os usuários do Android interagem com aplicativos que não são do Google.

Questionado, o Google admitiu que tem acesso aos dados de uso de aplicativos rivais, mas afirmou que o programa é público e que outros desenvolvedores também podem acessar dados semelhantes. Resta saber se isso será usado contra a empresa no depoimento aos congressistas.

Domínio no mercado

O site Axios publicou na segunda-feira (27), um gráfico que mostra a performance financeira das gigantes da tecnologia nos últimos anos. Segundo o levantamento, Apple, Amazon, Alphabet (controladora do Google) e Facebook somam atualmente US$ 5 trilhões (cerca de R$ 25,7 trilhões, na cotação atual) de valor de mercado.

Além disso, o levantamento apontou que há cinco anos, as outras seis companhias do Top 10 de tecnologia valiam, somadas, cerca de 90% da capitalização de mercado somada das quatro gigantes. Agora, esse valor representa 75%. Ou seja, o grupo do top 4 se valorizou ainda mais.

No último ano Apple, Amazon, Alphabet/Google e Facebook obtiveram uma receita combinada de mais de R$ 4 trilhões, aproximadamente o PIB da Arábia Saudita.

Por fim, o Axios mostrou que dos estimados 4,6 bilhões de seres humanos conectados à internet, o Google tem hoje 2 bilhões de usuários e o Facebook 2,6 bilhões — números que sobrepõem. A Apple, por sua vez, possui 1,5 bilhão de aparelhos em uso, enquanto a Amazon já revelou ter mais de 100 milhões de assinantes do pacote de serviços Prime apenas nos Estados Unidos.

Outro lado

Tilt entrou em contato com a assessoria de imprensa das gigantes de tecnologia no Brasil. Apple, Google, Amazon e Facebook informaram que não irão se manifestar sobre o depoimento dos seus executivos no Congresso americano.