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Cometa Neowise passa pelo céu da região Sudeste; saiba como ver o evento

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt

26/07/2020 04h00Atualizada em 27/07/2020 16h39

Nas últimas semanas, o cometa Neowise vem rendendo imagens incríveis durante sua passagem pelo Hemisfério Norte e deu um show particular para os astronautas da Estação Espacial Internacional. Agora, chegou a nossa vez. O cometa já está sendo visto em céus brasileiros, embora com um visual mais singelo.

O Neowise começou a ficar visível no Brasil desde a terça (21), e deve permanecer até a próxima quinta-feira (30). Inicialmente, ele apareceu apenas para observadores da região Norte, depois Nordeste e Centro-Oeste. Agora, Sudeste e Sul também estão contemplados. A partir deste domingo (26), o cometa poderá ser visto em todo o país.

Sua visibilidade a olho nu depende de muitos fatores imprevisíveis em jogo —como a composição do cometa, a velocidade com que os gases de sua cauda são expelidos, as condições atmosféricas e o brilho da Lua.

Segundo Júlio Lobo, astrônomo do Observatório Municipal de Campinas, o Neowise estará baixo em relação ao horizonte e, por isso, tem sido visto em lugares mais altos e sem poluição luminosa. "Creio que em cidades montanhosas de São Paulo, como Serra Negra e Águas de Lindóia, e no sul de Minas Gerais, há boas chances de vê-lo, até a olho nu. Em grandes centros, com prédios obstruindo a visão e muitas luzes, será difícil", acrescenta.

Mapa celeste com a posição do cometa Neowise - Divulgação/Julio Lobo - Divulgação/Julio Lobo
Mapa celeste com a posição do cometa Neowise no dia 26 de julho, às 18h31, em Campinas (SP), obtida no software Stellarium
Imagem: Divulgação/Julio Lobo

Como ver?

O cometa aparecerá todos os dias até 30 de julho logo após o pôr do sol, por volta das 18h30. É preciso olhar para a direção noroeste, bem perto do horizonte. A cada dia, ele estará um pouquinho mais alto —no domingo (26), a elevação será de cerca de 15°. (veja a imagem acima em uma resolução maior).

Para quem já é familiarizado com o céu noturno, o cometa estará entre as constelações de Leão e da Ursa Maior, abaixo da Cabeleira da Berenice.

Um software ou app de observação dos céus (como o Skywalk, Starchart ou Stellarium) pode te ajudar a encontrar essa posição. Como o cometa não está tão brilhante, um binóculo astronômico ou de longo alcance é um grande aliado ­­- com especificações 7x50 ou 10x50 (ampliação x diâmetro da lente), pelo menos.

Busque um lugar alto, com o céu escuro, sem luzes artificiais próximas, e com o horizonte o mais livre de obstáculos possível. Torça pela ausência de nuvens e chuva.

Tente ver desde o primeiro dia. Ele estará um pouco menos brilhante a cada noite, pois está se afastando da Terra. Além disso, a Lua está entrando em fases mais brilhantes que ofuscam a observação. No início de agosto, ele continuará passando pelos nossos céus, mas só conseguirá ser visto com a ajuda de telescópios.

O esforço vale à pena: o Neowise só nos visitará novamente daqui a 6.765 anos —período de sua órbita ao redor do Sol.

O cometa mais brilhante dos últimos anos

Os últimos cometas a serem vistos em céus brasileiros foram o Hale-Bopp, em 1997, e o McNaught, em 2007. O "C/2020 F3" (seu nome técnico) foi descoberto em março deste ano, em imagens do telescópio espacial Neowise, da Nasa. Na época, ele ainda tinha um brilho fraco —nem saberíamos se ele se tornaria visível da Terra a olho nu.

Entendendo o nome

Cometa C/2020 F3 (NEOWISE):

  • C = período orbital longo (>200 anos)
  • 2020 = ano do descobrimento
  • F = quinzena do descobrimento (quinzena 6 do ano)
  • 3 = número de objetos descoberto na quinzena (terceiro)
  • NEOWISE = nome do descobridor, telescópio ou observatório (Near-Earth Object Wide-field Infrared Survey Explorer)

No dia 3 de julho, o Neowise se aproximou do Sol pela primeira vez em milhares de anos e foi ficando cada vez mais brilhante.

"Cometas são astros imprevisíveis. Há fórmulas e modelos computacionais para calcular seu brilho que são boas referências, mas cada um tem seu padrão. O Neowise está dando um show que não era esperado teoricamente", conta Lobo.

Mas agora o cometa está se apagando aos poucos, desaparecendo no Sistema Solar adentro. As passagens potencialmente visíveis no Brasil, de 23 a 30 de julho, devem ter brilho de magnitude entre 4 e 6, o que é bem baixo em termos astronômicos (quanto menor o número, mais brilhante; o limite da nossa visão é o 6).

Pelos cálculos atuais, ele estará no limite da visibilidade do olho humano em um céu perfeito. Ou seja, provavelmente não poderá ser visto nas cidades grandes brasileiras, mesmo com a melhor condição. "Mas previsões de magnitude de cometa são pouco precisas, eles variam muito de brilho e estão sujeitos a muitos fatores", ressalta Naelton Araújo, astrônomo de Planetário do Rio.

Importante: do nosso ponto de vista, um cometa parece que está parado; ele não cruza o céu deixando um rastro de luz. É comum as pessoas confundirem rastros de avião com cometas e meteoros.

Afinal, o que são os cometas?

Cometas são, basicamente, uma bola de gelo sujo. Eles são compostos de poeira cósmica microscópica, partículas rochosas maiores e gases congelados seu núcleo.

Quando um cometa se aproxima do Sol, os gases se aquecem e passam, diretamente, do estado sólido para o gasoso (sublimação), sendo expelidos junto com grãos de poeira cósmica —essa é a "cabeleira" do cometa. Os ventos solares, então, fazem com que a cabeleira seja jogada para trás do núcleo (na direção oposta ao Sol), criando a cauda brilhante tão característica.

Na verdade, cometas como o Neowise têm uma bela cauda dupla: uma faixa mais estreita, azul/roxa, é formada por íons dos gases (como sódio, amônia e metano); a outra, larga e amarelada, é um fluxo de poeira incandescente e vapor de água. Dependendo da trajetória, elas podem apontar para direções diferentes.

Um cometa é um objeto muito nebuloso e irregular, sem uma superfície fixa. Não tem como prever exatamente quanto gás ele vai emitir em determinado momento, ou quanto ele vai mudar de órbita por causa da pressão do gás e da luz solar.

"Alguns até se dividem ou desintegram totalmente na aproximação com o Sol. Não conhecemos a natureza do Neowise em detalhes, então essa passagem é ainda mais imprevisível", explica Araújo.