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Oumuamua: misterioso objeto interestelar pode ser um iceberg de hidrogênio

Oumuamua é um dos objetos mais longos que já foram observados pelos cientistas - ESO/M. Kornmesser
Oumuamua é um dos objetos mais longos que já foram observados pelos cientistas Imagem: ESO/M. Kornmesser

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt

09/06/2020 17h58

O Oumuamua, primeiro objeto interestelar detectado em nosso sistema solar, tem sido uma fonte de teorias entre os astrônomos. O gigantesco objeto em forma de charuto, que já foi especulado como uma espaçonave alienígena ou como um pequeno pedaço de um planeta despedaçado pela estrela hospedeira, agora foi classificado por dois astrofísicos de Yale como um iceberg interestelar.

A pesquisa atribui a origem do Oumuamua a uma gigantesca nuvem molecular, enormes objetos que podem se esticar por anos-luz e conter gás suficiente para formar dezenas de milhares de estrelas. De acordo com a recente pesquisa, essas nuvens moleculares também seriam capazes de "cuspir" icebergs de hidrogênio que se comportam como Oumuamua.

"As medidas indicam que Oumuamua experimentou aceleração não gravitacional em sua trajetória de saída, mas os argumentos do balanço energético indicam que essa aceleração é incompatível com um jato de sublimação de gelo de água, exibido pelos cometas do sistema solar. Mostramos que todas as propriedades observadas de Oumaumua podem ser explicadas se contivesse uma fração significativa de gelo de hidrogênio molecular", diz o estudo, realizado pelo pesquisador Darryl Seligman em co-autoria com o astrofísico Gregory Laughlin.

A tese dos pesquisadores é para lá de controversa. Se os dois estiverem certos, porém, Oumuamua não seria apenas o primeiro objeto interestelar descoberto, mas também o primeiro iceberg de hidrogênio.

O hidrogênio normalmente fica em estado gasoso e é o material que alimenta o processo de fusão nas estrelas, como no Sol. As únicas regiões conhecidas do universo capazes de atingir a temperatura que solidifica o hidrogênio são justamente os "corações" das nuvens moleculares. O hidrogênio se solidifica em torno de -267° C, próximo ao valor do zero absoluto (-273,15° C).

Aceleração

A teoria do iceberg de hidrogênio empolgou os pesquisadores porque pode explicar por que Oumuamua acelerou ao entrar no sistema solar, o que não poderia ser explicado apenas por conta da gravidade. Uma das teorias para explicar a aceleração é a de que o objeto teria sido impulsionado por gases que ferviam rapidamente das rochas espaciais, um fenômeno conhecido como eliminação de gases, que dá a um cometa a cauda brilhante.

Contudo, quando os astrônomos analisaram Oumuamua, não detectaram gases que explicariam a aceleração. A não ser que ele estivesse cuspindo hidrogênio puro, que não poderia ser detectado pelos telescópios que conduziam as observações. Ou seja, a teoria de Seligman e Laughlin seria uma explicação para um dos maiores enigmas que envolvem o objeto interestelar.

Apesar disso, a teoria evoca um tipo inteiramente novo de objeto astrofísico, que nunca havia sido observado e nem sequer teorizado. Seligman afirma em seu estudo que uma das únicas referências a algo do tipo está em um artigo da década de 1990, que teorizou que o hidrogênio sólido poderia explicar a matéria escura.

Formato de charuto

A teoria do iceberg de hidrogênio pode explicar a forma de charuto de Oumuamua. Isso porque, depois que o núcleo da nuvem molecular se dissipa e o iceberg fica à deriva no vácuo, ele seria constantemente bombardeado pela radiação cósmica. Essa radiação seria responsável por lascar o iceberg em algumas direções, o que resultaria em um formato alongado.

O núcleo de uma nuvem molecular gigante tem uma vida relativamente curta, de algumas centenas de milhares de anos, quando ela é corroída pela agitação da galáxia, até desaparecer. Segundo esta nova teoria, durante a breve existência do núcleo, moléculas de hidrogênio congeladas de prendem ao pó na nuvem para formar o gigante bloco de gelo.