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Brasil breca alta de pessoas fora de casa, mas índice segue abaixo de 45%

Vista da praia de Icaraí, com o horizonte do Rio de Janeiro em segundo plano, na cidade de Niterói, durante seu primeiro dia de lockdown - Ricardo Moraes/Reuters
Vista da praia de Icaraí, com o horizonte do Rio de Janeiro em segundo plano, na cidade de Niterói, durante seu primeiro dia de lockdown Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Carlos Madeiro

Colaboração para Tilt

18/05/2020 15h05

Com lockdown e medidas para tentar deixar a quarenta mais rigorosas sendo adotadas por mais estados e cidades, o Brasil registrou pela primeira vez em dois meses uma recuperação tímida do índice de pessoas em casa, segundo a startup brasileira Inloco, que usa dados de geolocalização para calcular a movimentação de celulares pelo país.

A alta mais significativa do IIS (Índice de Isolamento Social) nacional foi no último domingo (17), quando 52,2% das pessoas monitoradas evitaram sair. No anterior (10), Dia das Mães, houve um recorde negativo de pessoas nas ruas num domingo desde que os decretos de isolamento começaram (47%). No geral, porém, a média continua bem abaixo de 50%.

Semana a semana, estávamos vendo a adesão média ao isolamento social no Brasil cair:

  • 23/03 a 29/03 - 54,04%
  • 30/03 a 05/04 - 49,50%
  • 06/04 a 12/04 - 48,37%
  • 13/04 a 19/04 - 46,40%
  • 20/04 a 26/04 - 46,64%
  • 27/04 a 03/05 - 44,95%
  • 04/05 a 10/05 - 43,22%
  • 11/05 a 17/05 - 44,84%

A média nacional desde o dia 23 de março ficou em 47,2%, sendo de 45,35% considerando apenas os dias úteis. Os maiores picos positivos são aos fins de semana, especialmente domingos e feriados.

Estados em lockdown

Destrinchando os dados pelos estados, é possível ver que, na medida em que os decretos determinam um isolamento mais rígido, há de imediato um aumento do índice, mesmo onde a medida ainda entrará em vigor.

Ontem, o Amapá teve o maior índice entre as unidades da federação, atingindo 60,5% dois dois após o governador Waldez Góes (PDT) anunciar lockdown em todo o estado (o primeiro que terá fechamento total em todas as cidades). Entretanto, a medida só começa a valer a partir de amanhã, mas ao que parece a população entendeu a importância da medida, visto que ontem foi registrado o segundo maior índice de isolamento da série (o recorde era 63,2% no dia 22).

Já Pernambuco registrou o segundo melhor índice do país ontem, com isolamento de 58,9% —o maior índice desde o dia 29 de março, quando registrou 60,3%. No estado, cinco cidades da Região Metropolitana do Recife estão com lockdown em vigor desde o sábado.

O Pará —que decidiu ampliar a partir a partir de amanhã de 10 para 17 cidades em lockdown— também tem registrado índices mais altos que a média e ficou ontem com a terceira posição nacional, com índice de 57,1%. O estado teria o lockdown encerrado ontem, mas o governador Helder Barbalho (MDB) não só ampliou a lista de cidades como ampliou a medida para até o dia 24.

Na quarta posição, o Ceará aparece com 56,2%. O estado está há 10 dias com medida de lockdown em Fortaleza. Nenhuma cidade do interior tem a medida.

O Maranhão encerrou ontem o período de lockdown e voltou hoje a um isolamento social menos rígido. No último dia, o estado já registrou queda no ranking nacional indo para a 12ª colocação, com apenas 53,5%.

O Rio de Janeiro, que iniciou essa semana o lockdown em Niterói, teve um índice de isolamento maior que domingo passado e chegou 54,5% (no dia 10 esse índice era de 50%). Na capital, existe um decreto de fechamento apenas parcial, com ação exclusiva no bairro de Campo Grande.

Já São Paulo voltou a registrar um índice abaixo da média nacional e ficou 51,9% de isolamento social. Tanto a prefeitura, como o governo do estado, já avisaram que podem adotar lockdown caso não haja alta nesses índices.

Outros dois estados que têm cidades com lockdown tiveram índices abaixo da média nacional. O Tocantins, ontem havia 33 cidades com isolamento mais rígido, o índice ficou em apenas 50,7%. Mais duas cidades do estado serão inclusas no lockdown está semana —a capital, Palmas, não está na lista.

Em Roraima, onde a cidade de Bonfim está em lockdown até o dia 20, esse índice ficou em 51,4%.

Mudança na metodologia

Desde quinta, a In Loco mudou a forma de calcular o índice de isolamento social, o que gerou algumas atualizações sutis nos percentuais. "Realizamos mudanças técnicas no processamento dos dados, sem alteração no número de usuários na base [30 milhões de celulares com monitoramento ativo], e alcançamos uma versão mais consistente do índice, com um algoritmo de distanciamento mais preciso", diz em nota.

Como é medido o IIS, da In Loco?

A In Loco possui uma tecnologia própria que puxa de forma automatizada (bot) dados públicos gerados pelos celulares das pessoas, que normalmente são usados para direcionar publicidade. É o chamado Advertising ID, um número único que constantemente identifica os interesses dos usuários que navegam pelos serviços de plataformas como Google e Facebook. Ele serve para mostrar anúncios segmentados ou personalizados (ou "anúncios com base em interesses"), que geram receita para os apps.

Entre seus clientes, há bancos e grandes varejistas, que usam essa tecnologia em seus aplicativos para detectar possíveis operações suspeitas e evitar fraudes.

Segundo a startup, esse identificador também serve para detectar se um celular fica por períodos prolongados em determinado local. Ele envia para os servidores da empresa o endereço e o identificador de publicidade do smartphone, com isso dá para estabelecer a razão entre quem está "estacionado" e quem se desloca —"uma tecnologia 30 vezes mais precisa que a do GPS", diz.

Por isso, a empresa conseguiu montar um sistema de monitoramento diário, que foi usado pela prefeitura de Recife. Eles têm acesso ao identificador de 30 milhões de celulares brasileiros —o que corresponde a uma parte da população estimada do Brasil, que hoje é de 211 milhões, segundo o IBGE.

O IIS é medido diariamente, mas demora alguns dias para ser publicado.

De onde vêm os dados de geolocalização?

O seu celular tem embutido um GPS (Sistema Global de Posicionamento, da sigla em inglês), que troca constantemente informações com um satélite para determinar a sua geolocalização. Isso, em geral, serve para coisas como: te ajudar a saber onde está num mapa, qual caminho tomar quando está perdido, se deve virar à esquerda ou quanto falta para chegar a um destino, onde está o seu celular perdido/roubado ou qual o nome do estabelecimento onde está para colocar na descrição de uma foto no Instagram.

Empresas como Google, dona de Google Maps, Waze e Google Fotos, e Facebook, dono de WhatsApp e Instagram, e Apple armazenam seus deslocamentos em históricos de trajetos ou locais visitados. Com esse tipo de informação, dá para saber se um celular fica no mesmo local todas as noites (que seria sua casa) e se move todos os dias para um outro (provavelmente seu trabalho).

O índice de isolamento social, neste caso, mede isso: o celular passou o dia num raio bastante próximo da localidade tida como sua casa? Entra para a estatística do grupo que respeitou a quarentena. Caso contrário, vai para o índice dos que saíram de casa.

Normalmente, você precisa ativar a função de geolocalização — alguns apps pedem autorização para enviar os dados, outros não. Quando isso acontece, eles se tornam públicos —mas há uma grande discussão sobre consentimento e direito a privacidade em jogo.