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No Dia das Mães, país tem maior número de pessoas fora de casa num domingo

Dia das Mães movimentou os comércios de rua e feiras livres nos bairros da periferia de São Paulo - Antonio Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Dia das Mães movimentou os comércios de rua e feiras livres nos bairros da periferia de São Paulo Imagem: Antonio Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Carlos Madeiro

Colaboração para Tilt, em Maceió

11/05/2020 12h07

O IIS (Índice de Isolamento Social) nacional apresentou neste domingo (10) a menor taxa já registrada em um domingo desde o início dos decretos distanciamento. Segundo a startup brasileira Inloco, que usa dados de geolocalização para calcular a movimentação de celulares pelo país, o índice de pessoas em casa no Dia das Mães ficou em 47,2%, 15 pontos a menos que o pico registrado até agora de 62,2% no dia 22 de março.

Levando em conta que a base de dados da In Loco tem 30 milhões de celulares ativos, isso significa que pelo menos 4,5 milhões de pessoas a mais saíram às ruas na comparação com o domingo, dia 22. Esta foi a sétima queda seguida em relação aos domingos, que historicamente registra os maiores índices de isolamento.

Semana a semana, vemos a adesão média ao isolamento social no Brasil cair:

  • 23/03 a 29/03 - 54,04%
  • 30/03 a 05/04 - 49,50%
  • 06/04 a 12/04 - 48,37%
  • 13/04 a 19/04 - 46,40%
  • 20/04 a 26/04 - 46,64%
  • 27/04 a 03/05 - 44,95%
  • 04/05 a 10/05 - 43,52%

O estado com maior índice de pessoas em casa neste domingo (10) foi o Pará, onde 10 cidades estão com "lockdown" decretado desde o dia 7. O Amapá teve a segunda maior média (53,8%), seguido pelo Ceará (53,6%), que na sexta-feira (8) iniciou o fechamento total da capital, Fortaleza.

O Maranhão, primeiro estado a adotar em cinco cidades o modelo mais rígido de isolamento —ou seja, só podem sair de casa de máscara e se comprovar, por documento, que trabalham em serviço essencial ou que precisam buscar abastecimento ou socorro, sob pena de multa ou até de responder a ações penais — chegou a liderar na sexta-feira (8) o ranking nacional, mas agora aparece apenas na sétima posição, com 49,7% das pessoas em quarentena.

Goiás, que chegou a liderar o ranking nos primeiros dias de decreto, caiu para última colocação, com 40% apenas de isolamento neste domingo.

Na quinta-feira passada (30), véspera do feriado de 1º de maio, o índice bateu recorde negativo desde que a quarentena começou: apenas 41,2% dos brasileiros estavam isolados socialmente. O desrespeito ao isolamento motivou outros 13 Estados, incluindo Rio e São Paulo, a estudar a fechar totalmente as cidades.

A média nacional desde o dia 23 de março ficou em 47,84%, sendo de 42,82% considerando apenas os dias úteis. Os maiores picos positivos são aos fins de semana, especialmente domingos e feriados.

Mudança na metodologia

Desde quinta, a In Loco mudou a forma de calcular o índice de isolamento social, o que gerou algumas atualizações sutis nos percentuais. "Realizamos mudanças técnicas no processamento dos dados, sem alteração no número de usuários na base [30 milhões de celulares com monitoramento ativo], e alcançamos uma versão mais consistente do índice, com um algoritmo de distanciamento mais preciso", diz em nota.

Como é medido o IIS, da In Loco?

A In Loco possui uma tecnologia própria que puxa de forma automatizada (bot) dados públicos gerados pelos celulares das pessoas, que normalmente são usados para direcionar publicidade. É o chamado Advertising ID, um número único que constantemente identifica os interesses dos usuários que navegam pelos serviços de plataformas como Google e Facebook. Ele serve para mostrar anúncios segmentados ou personalizados (ou "anúncios com base em interesses"), que geram receita para os apps.

Entre seus clientes, há bancos e grandes varejistas, que usam essa tecnologia em seus aplicativos para detectar possíveis operações suspeitas e evitar fraudes.

Segundo a startup, esse identificador também serve para detectar se um celular fica por períodos prolongados em determinado local. Ele envia para os servidores da empresa o endereço e o identificador de publicidade do smartphone, com isso dá para estabelecer a razão entre quem está "estacionado" e quem se desloca —"uma tecnologia 30 vezes mais precisa que a do GPS", diz.

Por isso, a empresa conseguiu montar um sistema de monitoramento diário, que foi usado pela prefeitura de Recife. Eles têm acesso ao identificador de 30 milhões de celulares brasileiros —o que corresponde a uma parte da população estimada do Brasil, que hoje é de 211 milhões, segundo o IBGE.

O IIS é medido diariamente, mas demora alguns dias para ser publicado.

De onde vêm os dados de geolocalização?

O seu celular tem embutido um GPS (Sistema Global de Posicionamento, da sigla em inglês), que troca constantemente informações com um satélite para determinar a sua geolocalização. Isso, em geral, serve para coisas como: te ajudar a saber onde está num mapa, qual caminho tomar quando está perdido, se deve virar à esquerda ou quanto falta para chegar a um destino, onde está o seu celular perdido/roubado ou qual o nome do estabelecimento onde está para colocar na descrição de uma foto no Instagram.

Empresas como Google, dona de Google Maps, Waze e Google Fotos, e Facebook, dono de WhatsApp e Instagram, e Apple armazenam seus deslocamentos em históricos de trajetos ou locais visitados. Com esse tipo de informação, dá para saber se um celular fica no mesmo local todas as noites (que seria sua casa) e se move todos os dias para um outro (provavelmente seu trabalho).

O índice de isolamento social, neste caso, mede isso: o celular passou o dia num raio bastante próximo da localidade tida como sua casa? Entra para a estatística do grupo que respeitou a quarentena. Caso contrário, vai para o índice dos que saíram de casa.

Normalmente, você precisa ativar a função de geolocalização — alguns apps pedem autorização para enviar os dados, outros não. Quando isso acontece, eles se tornam públicos —mas há uma grande discussão sobre consentimento e direito a privacidade em jogo.