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Petição pede que apps deem álcool a entregadores; serviços já iniciam ações

Entregadores viraram linha de frente durante crise do coronavírus - Getty Images/iStockphoto
Entregadores viraram linha de frente durante crise do coronavírus Imagem: Getty Images/iStockphoto

Gabriel Francisco Ribeiro

De Tilt, em São Paulo

02/04/2020 19h05Atualizada em 03/04/2020 11h43

Sem tempo, irmão

  • Apps de delivery são pressionados em petição para darem auxílio a entregadores
  • Entre as exigências, estão distribuição de álcool em gel e alimentação
  • Alguns apps já distribuem álcool em gel, enquanto outros oferecem reembolso
  • Petição tem quase 100 mil assinaturas até a publicação deste texto

Uma petição online com quase 100 mil assinaturas até o fechamento dessa reportagem pede que aplicativos de entrega forneçam álcool em gel e alimentação a entregadores. Sem poderem parar durante a crise do coronavírus, motoboys e outros entregadores de comida se tornaram uma espécie de "linha de frente" na guerra à doença, assim como outras profissões.

A petição foi criada por Paulo Lima, que se identifica como um entregador de 31 anos. Ele alega que os aplicativos como Rappi, iFood, Loggi, Uber Eats, 99Food e James não têm feito o suficiente para proteger entregadores expostos nas ruas. Alguns deles já afirmam ter tomado medidas pedidas pela petição (veja mais abaixo).

"Todo mundo está em casa se isolando em quarentena, mas nós ficamos nas ruas o dia inteiro, na batalha para garantir as entregas de delivery, colocando a nossa saúde e de nossas famílias em risco. Estamos trabalhando largados à nossa própria sorte e sem nenhuma medida de prevenção e proteção das empresas de aplicativos que fazemos as entregas", cita o texto.

Um dos pedidos citados por Lima é para que aplicativos deem álcool em gel aos entregadores. Alguns serviços dão reembolso completo aos produtos de proteção comprados pelos parceiros. Mas, existe uma dificuldade em achar à venda itens como álcool em gel. Outros já iniciaram uma distribuição.

"Seguimos fazendo as entregas no meio dessa crise do coronavírus e as empresas não nos forneceram nenhuma medida de proteção, como álcool em gel, máscaras ou luvas. Para nossa prevenção, é necessária a distribuição de álcool em gel, já que entramos em contato com muitas pessoas por dia fazendo as entregas", reclama.

Além disso, Lima também pede que as empresas forneçam alimentação aos entregadores, já que os parceiros não teriam como voltar para casa, se desinfetar, comer e voltar ao serviço.

"Estamos trabalhando com fome. A gente não tem como voltar para almoçar em casa, por exemplo. Corro o risco de levar o vírus para dentro de casa. Teria que trocar de roupa e fazer todo o processo de higienização na hora do almoço e no fim do dia. Imagina quanto tempo isso levaria? A gente já ganha pouco, ganharia menos ainda e colocaria a nossa família em mais risco", alega.

Ações das empresas

Ao Tilt, a Uber Eats apontou que motoristas e entregadores terão prioridade para aquisição de recursos para proteção, sendo que a empresa continua a trabalhar nos procedimentos operacionais do programa. Além disso, apontou que os parceiros podem receber reembolsos do álcool em gel ou outros produtos de limpeza comprados mediante apresentação de nota.

A Uber ainda irá remunerar entregadores que contraírem a Covid-19 por 14 dias com base na sua média diária.

Já o iFood afirma que está realizando comunicações educacionais e outras ações para entregadores. Entre elas, estão fundos solidários (que para entregadores somam R$ 2 milhões), distribuição de álcool em gel e plano de serviços de saúde com desconto em valores pagos.

Segundo a empresa, o álcool em gel é entregue por vans itinerantes em diferentes pontos das cidades, sendo o colaborador chamado para ir até a van como se fosse para atender um pedido. "A ação se inicia por São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Brasília, Porto Alegre e Curitiba, que juntas correspondem a 60% dos casos de Covid-19 no Brasil. A partir do dia 6 de abril, a distribuição já estará em 18 cidades", explica o iFood.

A empresa também diz que irá remunerar entregadores que contraírem a Covid-19 com base na sua média diária. Além disso, oferece a entregadores que estejam no grupo de risco do coronavírus um valor correspondente à média recebida por 30 dias para que fiquem em isolamento - neste período, ficarão com a conta inativa.

A Rappi também indicou a criação de um fundo para ajudar durante 14 dias entregadores que apresentem sintomas ou testem positivo para o coronavírus. A empresa ainda afirma ter importado "centenas de milhares de géis e máscaras antibacterianas para que sejam disponibilizadas para esses profissionais". O serviço não detalhou como é realizada a entrega dos itens.

Além disso, o aplicativo diz que está veiculando uma campanha de educação e prevenção para os parceiros. Entre as indicações, estão a de lavar ou desinfetar acessórios do veículo, usar álcool em gel entre os pedidos, evitar aglomerações e lavar as mãos sempre que possível.

Já o James, do Grupo Pão de Açúcar, afirma que trabalha na conscientização dos trabalhadores quanto a higienização de equipamentos e mãos. O app aponta que na próxima semana irá distribuir 40 mil sachês de álcool em gel a entregadores de todo o Brasil.

Além disso, o aplicativo diz que criou um mecanismo chamado "gorjeta em dobro": quando um cliente der uma gorjeta para o entregador, o app irá também dar o mesmo valor para o colaborador.

A 99Food, que opera por enquanto só em Belo Horizonte, afirmou que nas próximas semanas os entregadores poderão retirar, gradualmente, kits com máscara e álcool em gel. A empresa ainda conta com guias informativos para os parceiros, além de distribuir kits de lacres para restaurantes.

Entre outras ações a 99Food também criou um fundo de US$ 10 milhões operado pela sua empresa-mãe, a chinesa DiDi, para motoristas e entregadores afetados pela Covid-19.

Já a Loggi aponta que iniciou iniciativas de distribuição de kits de proteção ao coronavírus, composto por itens como álcool em gel, luvas, medição de temperaturas em agências e orientações. A distribuição dos kits começou em São Paulo e seguirá para o restante do Brasil, segundo o app.

As agências, onde pacotes são coletados, contam com álcool disponível para uso no local, de acordo com o serviço. A Loggi, assim como todos os serviços, tem passado recomendações para entregadores evitarem ao máximo os contatos humanos, com iniciativas de entregas sem contato.

As ações das empresas envolvem mais a prevenção, mas não é citado nada sobre a alimentação dos parceiros. Nas redes sociais, uma campanha de internautas tem incentivado a compra e posterior doação de pedidos para os entregadores.

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