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Pandemia faz hospitais aderirem a recursos de medicina à distância

Hiraman/Getty Images
Imagem: Hiraman/Getty Images

Thiago Varella

Colaboração para Tilt

13/03/2020 04h00

Após voltar de viagem e apresentar tosse e febre, uma pessoa entrou em contato com um médico por um serviço de vídeo online de um hospital. Depois, uma equipe foi até a casa do paciente para recolher secreção nasal e fazer o teste para o novo coronavírus. O resultado deu positivo e o paciente continuou a ser tratado em casa, por vídeo.

A história acima é real, aconteceu no Brasil e foi relatada por Sidney Klajner, presidente do hospital Albert Einstein. O paciente, que não teve o nome divulgado, é um dos 53 casos confirmados da epidemia no Brasil e usou o serviço de telemedicina do hospital, que já funciona há oito anos.

Ainda incipiente no Brasil, serviços como o do Einstein, que usam a tecnologia para o contato entre paciente e médico, são uma arma importante de hospitais e seguradoras para evitar a disseminação do novo coronavírus no Brasil.

A preocupação é grande, já que a OMS (Organização Mundial da Saúde) decidiu declarar que há uma pandemia do novo coronavírus em curso no mundo. Uma análise do Instituto Pensi, centro de pesquisa em pediatria do Hospital Sabará (SP), apontou que a partir do momento em que o Brasil tiver 50 casos confirmados de coronavírus, o país poderá chegar a mais de 4.000 casos em 15 dias e cerca de 30 mil casos em 21 dias.

Médico do hospital Albert Einstein usa sistema de telemedicina, que já funciona há oito anos - Divulgação - Divulgação
Médico do hospital Albert Einstein usa sistema de telemedicina, que já funciona há oito anos
Imagem: Divulgação

Além do contato remoto entre médico e paciente, o Einstein conta com diversos serviços, como o de teleUTI, quando um especialista visita remotamente UTIs que não tem médico especialista.

Durante a crise do coronavírus, por exemplo, um médico intensivista consegue, por meio da telemedicina, entrar em contato com um pneumologista para tratar um paciente em estado mais grave.

"Nossa central de telemedicina funciona 24x7. O programa do Einstein funciona há oito anos. Somente no ano passado, foram feitos 50 mil atendimentos", contou Klajner.

O Einstein trabalha em parcerias com diversas operadoras de saúde. Uma das que usa o serviço de telemedicina do hospital paulista é a Care Plus, que disponibiliza o atendimento remoto a 40% de seus beneficiários.

"O novo coronavírus trouxe muita ansiedade por informação. A telemedicina ajuda que o paciente esclareça suas dúvidas. Normalmente, ele procuraria um pronto-socorro. Pelo aplicativo, ele pode receber atendimento médico, da casa dele, por uma equipe muito preparada", afirmou Ricardo Salem, diretor médico da Care Plus.

Para Salem, boa parte das visitas ao pronto-socorro poderiam ser resolvidas fora do ambiente hospitalar.

"A telemedicina ajuda a mitigar os riscos de contágio, já que o doente não vai expor os demais pacientes no pronto-socorro e os demais profissionais de saúde. Mas é importante dizer que se sentir desconforto respiratório ou falta de ar, ele deve procurar sempre um pronto-socorro", pontuou.

A SulAmérica Saúde também oferece um serviço próprio de telemedicina. Antes do avanço do novo coronavírus, o segurado tinha direito a um número limitado de orientações médicas a distância. Agora, preocupados com a doença, o plano liberou o serviço sem limites.

"Com o novo coronavírus, disponibilizamos o serviço de forma customizada. Existe um canal telefônico exclusivo para orientação médica. Essa orientação pode se desdobrar para uma sessão por vídeo. Se o segurado quiser, pode solicitar a orientação por vídeo sem passar pelo telefone", explicou Erika Fuga, diretora de sinistro saúde da SulAmerica.

Segundo Fuga, uma equipe de médicos foi treinada por webmeetings, também uma forma de telemedicina, de acordo com protocolo de atendimento e diretrizes do Ministério da Saúde. Por telefone ou por vídeo online, esse profissional é capaz de identificar quais são os casos suspeitos de novo coronavírus. A partir daí, o médico consegue fazer o encaminhamento do melhor tipo de atendimento.

"A nossa preocupação é a de dar a orientação adequada, seguindo o que determina o Ministério da Saúde. Como a grande maioria dos casos são de gravidade baixa, é possível fazer essa orientação de forma domiciliar", disse Fuga.

De olho no novo coronavírus, o médico Carlos Eduardo Cassiani Camargo, diretor técnico da startup Brasil Telemedicina, vai lançar em breve um serviço de atendimento médico à distância.

Também por meio de um aplicativo, o paciente passará por uma triagem feita por inteligência artificial. Em seguida, caso seja necessário, poderá falar com um médico por chat [escrito] ou videoconferência. A avaliação inicial será gratuita. Já a orientação médica ao vivo vai custar R$ 40.

A empresa já conta com médicos contratados em todo o país. "O médico interessado em fazer parte do plantão se cadastra em um aplicativo e eu faço a validação. Toda vez que já um paciente interessado, ele recebe um 'push', como se fosse um Uber", disse Camargo.

Uma das preocupações de Camargo é com a legislação brasileira, que não é muito clara quanto aos limites da telemedicina. Ano passado, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou a norma 2.227/2018, que viria regularizar as consultas por meio digital. A norma foi revogada após poucos dias.

Isso faz com que esteja vigente uma norma de 2002, época em que não existia nem smartphones.

"Hoje, é permitido que se oriente o paciente pela internet, mas não podemos emitir uma receita online. Nunca tive problemas com o conselho", garante Camargo.

O Einstein também se preocupa com a falta de regulamentação da telemedicina no Brasil.

"A atual legislação, de 2002, determina que é necessário haver médico nas duas pontas de atendimento online. Por outro lado, existe algo na Constituição dizendo que o paciente pode usar atendimento de saúde como bem entender. Nós respeitamos o Código de Ética Médica e os protocolos internacionais como o do CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos)", disse Klajner.

Nos Estados Unidos, espera-se que o novo coronavírus popularize os serviços de telemedicina, que já são regulamentados no país, mas enfrentam questões legais em alguns estados. O próprio CDC, em documento publicado no fim de fevereiro, considera que se a doença chegar a um ponto em que as pessoas sejam orientadas a ficar em casa, o serviço de saúde deverá oferecer serviços de consultas médicas remotas.

Em entrevista à revista Time, o médico Joe Kvedar, presidente da Associação Americana de Telemedicina, afirmou que os serviços de telemedicina do país estão prontos para essa possibilidade.

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