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Fim das picadas: pílula que substitui injeção passa por testes em humanos

Divulgação/ Rani Therapeutics
Imagem: Divulgação/ Rani Therapeutics

Raphael Evangelista

Colaboração para Tilt

29/02/2020 04h00Atualizada em 29/02/2020 14h05

Sem tempo, irmão

  • Primeiros testes foram realizados na Austrália com pessoas que usam octreotida
  • Os pacientes não sentiram dores, e pílula teve mesma eficácia de injeção tradicional
  • RaniPill é uma versão um pouco maior de uma pílula comum
  • Mas, ainda são necessários vários testes para entender a real viabilidade da pílula

Cientistas desenvolveram uma pílula inteligente com a função de substituir seringas e agulhas, em medicamentos que não podem ser tomados via oral. A pílula já está sendo testada em humanos e os primeiros resultados têm sido positivos.

Os testes em humanos foram feitos na Austrália, onde 52 pessoas ingeriram a pílula contendo octreotida, utilizado no tratamento de certos tipos de câncer e distúrbios do crescimento. Os pacientes não sentiram nenhum desconforto e a eficácia da pílula foi a mesma de uma injeção convencional.

"Ela é completamente livre de dores. Ninguém sentiu nada", diz Mir Imran, chefe do Rani Therapeutics, de San Jose, na Califórnia (EUA), empresa responsável pela criação da pílula e pelos testes, ao site New Scientist.

Pelo método atual, o medicamento é aplicado nas nádegas uma vez por mês em uma injeção grande. De acordo com Imran, os pacientes descrevem a injeção como incrivelmente dolorosa. Dá para imaginar.

A RaniPill, como ela é chamada, vai ser uma versão um pouquinho maior do que uma pílula comum. Quando ingerida, ela passa pelo estômago sem causar danos e só dissolve na parte menos ácida do intestino.

Quando isso acontece, um pequeno balão é inflado e ela espeta uma agulha minúscula na parede do intestino, injetando a substância que a pílula carrega. O balão com a agulha desinfla e fica na pílula até ela ser evacuada —ou seja, sair pelo nosso cocô. O intestino não tem áreas sensíveis que causam dor e se recupera bem rápido.

Alguns medicamentos só têm eficácia se forem administrados por injeções, porque a fórmula pode acabar sofrendo alterações no ambiente ácido do nosso estômago. É por isso que são administrados no músculo ou na veia. É o caso de medicamentos como a insulina, que precisa ser aplicada com uma certa frequência e não pode ser via oral.

Rani Pill - Divulgação/ Rani Therapeutics - Divulgação/ Rani Therapeutics
A RaniPill (marcada em vermelho) se move do estômago para o intestino
Imagem: Divulgação/ Rani Therapeutics

Graças a esse tratamento muitas vezes doloroso, pacientes acabam desencanando de tomar o medicamento na hora certa, e a longo prazo isso pode ser prejudicial para a saúde. Ter um tratamento alternativo e livre de dor é uma grande vitória.

Segundo a Rani Therapeutics, os resultados dos testes podem ajudar milhões de pessoas que diariamente precisam enfrentar dolorosas injeções —como é o caso de pessoas diabéticas. Existe uma estimativa que diz que uma em cada dez pessoas tem medo de agulhas. Você é ou conhece alguém que é assim?

A empresa responsável pela pílula segue em discussões com gigantes da indústria farmacêutica dos EUA e da Europa e planeja novos testes ainda para este ano. A ideia é que ela surja com ao menos nove medicamentos, incluindo a insulina e a octreotida.

Mas nada de sair comemorando ainda. É preciso cautela porque, segundo a fabricante, ainda são necessários vários testes em pacientes diabéticos para poder entender a real viabilidade da pílula como substituta das injeções.

Em paralelo, existem outros grupos de pesquisadores tentando soluções parecidas, como uma equipe do MIT que está desenvolvendo uma pílula que injeta os medicamentos no revestimento da parede do estômago, e não no intestino. Mas, essa pesquisa se encontra em fase inicial de experimentação em animais.

Essa segunda pílula se difere da RaniPill porque ela possui em cada cápsula vários pequenos injetores, e cada injetor tem sua própria agulha de aplicação com o medicamento, como, por exemplo, a insulina. Na base da agulha tem uma pequena mola comprimida que está presa pelo açúcar da insulina.

Quando o medicamento dissolve, a agulha é disparada e a aplicação é feita na parede do estômago, que tem entre quatro e seis milímetros. Como a agulha vai um pouquinho além desta medida, acaba liberando o medicamento na corrente sanguínea. O local é considerado seguro, assim como o intestino, por também não causar dor e ter uma recuperação rápida.

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