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Como seria se... o Sol fosse "desligado"?

Estúdio Rebimboca
Imagem: Estúdio Rebimboca

Rodrigo Lara

Colaboração para Tilt

17/02/2020 04h00

Já desejou que o Sol "desligasse" num daqueles dias de calor insuportável de verão? Mas, como seria se o Sol realmente apagasse? Vamos unir um pouco de criatividade a conceitos de astronomia e imaginar uma situação na qual a estrela "desse um tempo", mas continuasse existindo e exercendo sua influência gravitacional sobre os planetas do nosso sistema —do contrário, a Terra e os demais corpos que orbitam a estrela sairiam pela tangente no momento em que o Sol sumisse. No caso da Terra, isso significaria sair em uma viagem sem volta pelo espaço a mais ou menos 110 mil km/h.

Primeiro, o breu

O Sol atua como única fonte de energia do nosso sistema, sendo o responsável pela luz e pelo calor, além de ter papel fundamental na existência dos combustíveis fósseis (carvão, petróleo e derivados), uma vez que eles se originam de matéria orgânica decomposta.

Uma vez que ele desligasse, nós, terráqueos, só saberíamos da novidade oito minutos depois. Esse é o tempo que a luz leva para percorrer os 149,6 milhões de quilômetros que separam a Terra do Sol.

A partir daí, minhas amigas e meus amigos, a coisa ficaria bem mais tensa. A primeira consequência seria uma noite constante. Sem uma fonte de luz natural, praticamente todos os seres vivos do planeta, em maior ou menor escala, seriam afetados.

Não esquece a "blusinha"

Já a temperatura não iria variar instantaneamente. Para calcular a taxa de perda de calor do planeta nessas condições, os especialistas utilizam a escala absoluta de temperatura, o Kelvin. Para efeitos de comparação, basta somar 273 ao valor da temperatura em graus Celsius. Tomando a temperatura média da Terra como 300 K (27ºC), estima-se que a temperatura da atmosfera da Terra cairia pela metade a cada mês.

Ou seja: 30 dias após o "desligamento solar", a média de temperatura do planeta seria de 150 K (-123ºC) —a menor temperatura já registrada na história é de -89,2ºC, medida na estação de pesquisas russa Vostok, na Antártida, em 21 de julho de 1983.

Tenho certeza de que sentiríamos saudades de reclamar do calor numa situação dessas.

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Imagem: Estúdio Rebimboca

Um mundo congelado

Mas calma que piora: no segundo mês, a temperatura seria de 75 K (-198ºC). Esses cortes de temperatura continuariam ocorrendo até que ela ficasse entre 1 e 2 K, que é a temperatura típica do meio interestelar —e bem próxima do chamado "zero absoluto".

Esse ritmo de esfriamento seria ligeiramente retardado pelo calor interno da Terra, mas ainda assim a estimativa é que em poucos anos a temperatura por aqui seria similar à encontrada no meio interestelar.

A essa altura, pouca coisa não estaria congelada na Terra. Precisamos considerar a composição da ar, que corresponde a uma mistura de 78% de nitrogênio, 21% de oxigênio, cerca de 1% de gás carbônico e o restante por outros gases nobres, como argônio, hélio e xenônio, entre outros. Considerando apenas o nitrogênio, aos 63 K (-210°C) ele se solidifica. Pouco tempo depois, é a vez do oxigênio, que fica sólido aos 54,36 K (-218,79°C). Próximo da temperatura "final" da Terra, algo entre 1 e 2 K, poucos elementos não estariam em estado sólido —caso do hélio, por exemplo.

Fique tranquilo: isso não vai acontecer

Se você desistiu de reclamar do calor, tenho uma boa notícia: não precisa se preocupar, porque o cenário acima não ocorrerá. O Sol, como outras estrelas, passa por diversos estágios em sua existência. O seu ciclo de existência é estimado em 10 bilhões de anos, sendo que, atualmente, ele apaga 4,6 bilhões de velinhas em seu aniversário. Está em sua meia-vida, portanto.

Ele se mantém em atividade devido a reações de fusão nuclear, quando hidrogênio é convertido em hélio —reação típica no núcleo da estrela, cuja temperatura é de cerca de 15 milhões graus Celsius.

Se há uma forma de mudanças solares acabarem com a vida na Terra, não será por frio: estima-se que, quando estiver próximo dos 9 bilhões de anos de idade, o Sol venha a se tornar uma estrela do tipo Gigante Vermelha —o tempo restante até isso acontecer, pouco mais de 5 bilhões de anos, supera o decorrido desde o surgimento de vida na Terra (algo em torno de 3,5 bilhões de anos atrás).

Quando isso rolar, o volume da estrela chegará mais ou menos onde atualmente é a órbita da Terra. Ou seja: tudo indica que o provável fim da Terra seja como churrasco, e não como picolé.

Fonte: Roberto D. Dias da Costa, professor do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo

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