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Me ajuda, por que a chuva afeta celular, internet e TV a cabo?

De Tilt, em São Paulo

05/03/2021 04h00Atualizada em 05/08/2021 10h48

Quando chove muito, seu telefone fica sem sinal? A internet também? E a TV a cabo? Os temporais não bagunçam só o trânsito. As reclamações sobre a qualidade do sinal aumentam em dias de forte tempestade, principalmente se o transtorno na cidade envolver ventania, queda de árvores e apagão.

A falta de energia corta o sinal de transmissão — diretamente onde está a torre ou em algum poste na região onde você está, por exemplo. Sem luz, os receptores da casa também não funcionam.

Segundo Eduardo Tude, da consultoria em telecomunicações Teleco, o celular possui uma vida útil maior nestas situações, já que as estações de transmissão possuem baterias com duração de, aproximadamente, quatro horas. Então, mesmo que falte energia na torre, o fornecimento do sinal segue para o cliente. "Passado esse tempo, o sinal vai cair também", diz.

Com os imprevistos na rua, também pode ocorrer o rompimento de cabos e fiações, um problema que afeta diretamente a recepção de sinal de banda larga e TV. O reparo é realizado diretamente nos postes: primeiro, restauram a energia elétrica na região, e depois uma equipe da área de telecomunicações atua no local. Isso pode levar até quatro horas.

Pisca, mas não cai

Pode acontecer também de, durante um temporal, a energia não cair completamente, mas as luzes "piscarem". Esses poucos segundos de queda de energia seriam desastrosos para a rede não fosse uma série de tecnologias reforçaram os sistemas nos últimos anos, como religadores automáticos e equipamentos que fazem uma reconfiguração da rede, caso uma falha seja notada.

"Antigamente, quando chovia e ventava, acontecia de uma fase encostar na outra, gerando um curto-circuito, que aumentava a corrente, fazia a tensão elétrica cair e apagava a lâmpada", explica o professor Edval Delbone, coordenador do curso de Engenharia Elétrica do Instituto Mauá de Tecnologia.

Era o que acontecia, por exemplo, quando um galho caía no fio: gerava um curto-circuito e uma equipe precisava ir até o local para corrigir a falha, algo que poderia levar horas. Hoje os religadores automatizaram o processo, então a luz pisca, mas não apaga de vez.

"No passado, a rede desligava e abria o fusível. A equipe via que não tinha rompido nenhum fio e religava a rede. Hoje isso é feito automaticamente, fica alguns segundos desligado e tenta religar uma, duas vezes. Se no terceiro ciclo de religamento o curto continuar, fica desligado", aponta Saulo Ramos, diretor de operações da Enel em São Paulo.

De acordo com os especialistas, essas piscadas de luz geralmente não causam danos a equipamentos —seria como remover o aparelho da tomada. Há um risco, mas não tão grande quanto o de uma descarga elétrica.

Outra tecnologia que tem evitado longas quedas de energia é a "autoreconfiguração da rede", mais robusta que os religadores. Aqui a "piscada" ser um pouco mais longa.

A reconfiguração da rede ocorre em casos mais graves, como uma queda de uma árvore sobre um poste ou fios. O curto-circuito gerado não é resolvido simplesmente pelo religador e, nesses casos, uma região ficará sem energia. Mas a autoreconfiguração diminui o estrago.

"Esses equipamentos identificam onde está o defeito, vão isolar essa falha e reenergizar todos os outros clientes por meio de uma reconfiguração dos postes que levam energia. Digamos que dez mil pessoas são afetadas inicialmente. Dessas, oito mil podem ser beneficiadas com a autoreconfiguração e vão só sentir uma piscada mais longa", conta Ramos.

Cuide também dos aparelhos da sua casa

A chuva pode prejudicar também os aparelhos da sua casa. A maior parte dos problemas ocorre quando um raio atinge a rede elétrica nas proximidades de sua residência —e vale dizer: o Brasil é um dos países com a maior incidência de raios do mundo. São 77,8 milhões de raios, em média, que "caem" por aqui todos os anos, segundo o Elat (Grupo de Eletricidade Atmosférica) do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

As instalações elétricas internas estão física e eletricamente conectadas à rede externa, então quando um raio atinge a rede externa, os surtos [picos temporários de tensão] invadem a instalação elétrica e podem provocar danos em equipamentos e componentes elétricos. Mas, durante tempestades, há situações que colocam seus aparelhos eletroeletrônicos em risco mesmo sem raios envolvidos.

"Com tempestades ou ventos, há possibilidade de defeitos transitórios na rede, que provocam desligamentos e religamentos na distribuição energia elétrica", explica Marcos Rosa dos Santos, professor do curso de Engenharia Elétrica do Instituto Mauá de Tecnologia. "O problema é que nesses religamentos automáticos pode haver oscilações na tensão da rede elétrica, provocando surtos que podem causar danos a equipamentos sensíveis."

O professor alerta que, em casos extremos, esses surtos extrapolam o isolamento de equipamentos e componentes da rede e causam até princípios de incêndio.

Como se proteger?

Para minimizar o risco, vale instalar os chamados dispositivos de proteção de surto, que, junto com um aterramento feito corretamente, ajudam a eliminar picos de tensão na rede. "Ainda assim, o risco nunca é zero", explica Santos.

Mas a melhor opção ainda continua sendo retirar os aparelhos eletrônicos da tomada quando você perceber que uma tempestade se aproxima. Aí sim o risco é zero.

Queimou, e agora?

Caso algum eletrônico queime por culpa de um surto de tensão na rede, seja por raio ou variações de tensão decorrentes do religamento do fornecimento de energia elétrica, é possível pedir um ressarcimento à distribuidora de energia da sua cidade.

A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) explica que regulamentou que os consumidores têm direito a ressarcimento em caso de queima de equipamentos eletroeletrônicos por picos de energia. "Esses picos são mais visíveis quando há oscilação de tensão, mas também podem ocorrer quando a energia é restabelecida logo depois de ter faltado", diz o órgão.

Essa solicitação pode ser feita por qualquer canal de comunicação oferecido pela distribuidora, que irá analisar "casos de queima de equipamentos instalados em unidades consumidoras atendidas em baixa tensão, como residências, lojas, escritórios e outros".

O ressarcimento precisa ser solicitado em até noventa dias após a ocorrência e, a partir daí, a distribuidora tem até dez dias corridos para verificar o equipamento danificado, o que pode ser feito diretamente na casa do consumidor ou em oficinas autorizadas e postos de atendimento da distribuidora.

Até que haja essa verificação, o consumidor não deve consertar o equipamento, a não ser que seja autorizado pela distribuidora.

A distribuidora tem até 15 dias corridos para informar o resultado do pedido de ressarcimento e, uma vez que haja comprovação que o defeito foi oriundo de um pico de tensão, mais 20 dias corridos para providenciar uma indenização em dinheiro, realizar o conserto ou substituir o equipamento danificado.