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Chefão da GoPro não teme celulares e chama câmera do iPhone de "horrível"

Nick Woodman, executivo-chefe e fundador da GoPro, na CES 2020 - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL
Nick Woodman, executivo-chefe e fundador da GoPro, na CES 2020 Imagem: Gabriel Francisco Ribeiro/UOL

Gabriel Francisco Ribeiro

De Tilt, em Las Vegas (EUA) *

11/01/2020 04h00

Sem tempo, irmão

  • Chefão da GoPro não teme sofrer queda como Canon, Nikon e Kodak
  • Para ele, lentes grandes angulares de celulares são ruins
  • iPhone 11 foi especialmente criticado e distorção chamada de "horrível"
  • Fundador da GoPro ainda diz não se arrepender de sair do mercado de drones
  • Taxas de importação não deixam GoPro ficar mais barata no Brasil, diz executivo

Se fabricantes como Kodak, Canon e Nikon tiveram grande queda em vendas de câmeras por causa dos smartphones, a GoPro não está tão preocupada em seguir o mesmo caminho. Nick Woodman, executivo-chefe e fundador da companhia, desprezou até mesmo as lentes grandes angulares, que agora se alastram por quase todos os celulares e oferecem algo semelhante ao clássico visual olho-de-peixe das imagens da GoPro.

Em conversa para lá de franca com exclusividade para Tilt, único veículo brasileiro a falar com ele durante a CES 2020 em Las Vegas, o executivo afirmou que "as lentes grandes angulares dos smartphones precisam ficar muito melhores" antes que ele se preocupe. E sobrou até para o iPhone, último a adotar a grande angular nos modelos da linha 11.

"No iPhone, a distorção da grande angular é horrível. Se a GoPro fizesse uma câmera como a grande angular do iPhone, nós nem lançaríamos. E se lançássemos, seríamos detonados. Não sei como a Apple escapa com essas coisas", criticou o chefão da GoPro.

É claro que é preciso lembrar que os dois produtos são bem diferentes. Enquanto o iPhone é basicamente um minicomputador de bolso que oferece 1.001 tarefas e calha de ter uma bela câmera com uma lente grande angular inclusa no pacote, a GoPro faz estritamente uma câmera —elogiada, por sinal. Mas é exatamente isso que Woodman vê como um diferencial para não temer os smartphones.

O uso de um celular e uma GoPro são diferentes. O celular é o seu computador de bolso. As câmeras são boas, mas eles são desenhados para serem usados dessa maneira: 'faça algo, vou te filmar' [apontando o celular para mim]. Enquanto a GoPro é feita para ser usada assim: 'ei, vamos lá fazer algo, vamos nos filmar'. Ou colocar com um acessório na jaqueta para esquiar e a imagem sair incrível e estável, mas se usar um iPhone vai ser péssimo. São diferentes casos. O celular é bom para uma foto rápida

Recentemente, fabricantes de celulares estão tentando invadir o ramo de câmeras de ação. A Samsung, por exemplo, tem no Galaxy S10 e Galaxy Note 10 um modo que realiza um corte no vídeo gravado para aumentar a estabilização —principal destaque das câmeras da GoPro. Mas nem isso preocupa.

"Não está nem próximo (da GoPro). E tem o problema do celular não ser feito para ser usado dessa forma. Você nunca vê uma pessoa pulando na água com seu celular", alega Woodman.

A visão da GoPro é de que o celular é um parceiro e deixa o uso da câmera da companhia mais conveniente. Aliás, a novidade da empresa envolve fazer o seu aplicativo uma solução não só para donos de GoPro, mas também usuários em geral de smartphones que queiram aproveitar o software da companhia.

"Vamos abrir o app da GoPro para usuários de smartphones que não têm uma GoPro porque pode servir como uma ferramenta poderosa para eles também. Não queremos ser uma companhia que só serve a donos de câmeras. Sabemos que têm muitos usuários de smartphone que querem fazer mais com suas câmeras e queremos ajudá-los", explicou.

A estratégia é usar o aplicativo para atingir públicos que de outra forma não teriam um produto da GoPro. O executivo afirma não ter medo de fazer isso e cita que não há necessidade de tornar a empresa "mainstream", mais popular —inclusive em respeito aos consumidores.

"Nós não precisamos ser 'mainstream'. Nós estamos animados em servir as pessoas que precisam da gente. Três anos atrás tentamos nos tornar 'mainstream', mas para isso você precisa convencer as pessoas a comprarem algo que talvez elas não precisem. E você gasta muito tempo tentando fazer isso e só pode fazer por um preço pequeno. E tira a energia para fazer ótimos produtos", recorda.

Nick Woodman, executivo-chefe e fundador da GoPro, na CES 2020 - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL
Imagem: Gabriel Francisco Ribeiro/UOL

Sem medo da concorrência

Nos últimos anos, a GoPro tem sofrido também com a concorrência de drones, que tomaram parte do público que é o foco da empresa. A GoPro chegou a fazer seu próprio drone, mas as vendas foram um fiasco e o negócio foi cancelado. Apesar disso, Nick Woodman não se arrepende da decisão.

"Alguns dos drones mais populares agora estão voando com câmera da GoPro. Ainda estamos no ar, sendo responsáveis pela câmera. O negócio da DJI está caindo bastante ano após ano. Eles subiram muito e depois caíram. Então é ótimo que saímos do negócio. Nos sentimos bem de ter saído", conta.

Outro fator que tem afetado o modelo de negócios da GoPro é a rivalidade de empresas fazendo produtos bem mais baratos, como da China. A Xiaomi e SJCAM são algumas das mais famosas, mas o fundador da GoPro despreza alguns dos produtos feitos para serem "bons e baratos".

"Temos a rivalidade de companhias de baixo custo da China desde 2011. Eles estão no geral vendendo para pessoas que não comprariam uma GoPro de qualquer maneira. Usam componentes descontinuados que compram bem barato, então o produto não tem qualidade e me sinto mal pelos consumidores que compram deles. Existem competidores que fazem câmeras boas, não tanto quanto a GoPro, mas pelo menos não são um lixo", detona.

Há dois anos, a GoPro passou por uma grave crise e demitiu centenas de funcionários. Atualmente, a companhia voltou a ser saudável.

GoPro Hero 8 Black - Divulgação - Divulgação
GoPro Hero 8 Black
Imagem: Divulgação

Redução de custos no Brasil?

No Brasil, a mais recente câmera da GoPro, a Hero Black 8, é vendida por R$ 2.999, superando os R$ 2.599 da geração anterior. O preço não é nem um pouco convidativo para consumidores brasileiros e Nick sabe disso, mas não vê muitas maneiras de reduzir.

"O Brasil é desafiador para nós do ponto de vista de taxas de importação, assim como para qualquer companhia que produz fora do Brasil. Nós tentamos de todo o jeito tornar os produtos da GoPro mais acessíveis no Brasil. Chegamos a fazer partes finais da manufatura no Brasil há alguns anos, mas cortamos porque o tamanho do nosso negócio não justifica, é muito custo", afirma.

O executivo vê o Brasil como um dos países-chave para a marca e cita os brasileiros como o público com mais engajamento per capita com a marca por posts em redes sociais. Ele cita até as tradicionais comprinhas de brasileiros nos Estados Unidos para justificar isso.

"Os brasileiros têm uma paixão muito grande, viajam para caramba. E mostram ter um grande interesse na GoPro. Em Miami vendemos GoPro para cacete por causa dos brasileiros que vão para lá", comemora o executivo, no seu tradicional tom despojado.

* O repórter viajou a convite da LG

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