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É para você? Mercado de tec dá bolsas generosas e busca mais inclusão

Rede espanhola Ironhack abriu sua primeira turma em outubro de 2018 em São Paulo - Ironhack São Paulo / Facebook
Rede espanhola Ironhack abriu sua primeira turma em outubro de 2018 em São Paulo Imagem: Ironhack São Paulo / Facebook

Marcela Canavarro *

Colaboração para Tilt

29/12/2019 04h00

Resumo da notícia

  • ONGs e escolas internacionais com filiais no Brasil abriram bolsas generosas em cursos de programação
  • Objetivo é atender à demanda em tecnologia da informação; há mais vagas do que profissionais qualificados
  • ONG Reprograma abriu turma só para mulheres, e metade das vagas foi para negras e trans
  • Já Toti atende principalmente a refugiados estrangeiros e depende de vaquinha virtual

Ao longo deste ano, ONGs e escolas internacionais com filiais no Brasil abriram bolsas generosas em seus cursos de programação, para formar profissionais brasileiros. Muitos dos candidatos não podem pagar por esses cursos. O objetivo é atender à demanda na área de TI (tecnologia da informação), que aumenta a um ritmo bem mais rápido do que a chegada ao setor de profissionais qualificados.

Em resumo: contrariando o senso comum no mercado como um todo, há muito mais vagas em TI do que gente pronta para preenchê-las. Assim, as ONGs e escolas fazem parcerias com empresas para tentar trazer mais diversidade a esse mercado.

A ONG Reprograma abriu uma turma só para mulheres, e preencheu metade das 32 vagas com negras e trans. Os cursos são gratuitos e oferecidos com empresas patrocinadoras como Mercado Livre, Accenture e Espaço Hack.

Outra entidade, a Carambola, também encontrou um modelo que permite oferecer um salário mensal para os alunos. A maior parte deles são jovens buscando o primeiro emprego durante os 2,5 meses de formação. Enquanto aprendem, eles realmente ajudam a desenvolver um projeto concreto de alguma empresa. Os nomes das empresas parceiras no projeto não são divulgados pela ONG, por razões contratuais.

Há 24 anos no setor de tecnologia e inclusão digital no Brasil, a ONG Recode lançou, em julho, as inscrições para sua primeira formação presencial de desenvolvedores. A ideia é que as empresas parceiras contratassem parte dos formandos como desenvolvedores juniores, já na semana de formatura.

Na Recode, os alunos que preencheram as 60 vagas no Rio e 60 em São Paulo receberão bolsas de R$ 300 nos dois últimos meses na formação de quase cinco meses. O foco principal são jovens em vulnerabilidade social, com idade entre 14 a 29 anos, e com desejo de se inserirem rapidamente no mercado de trabalho após concluírem a formação.

Escolas de programação renomadas na Europa também viram uma oportunidade de negócios no mercado brasileiro. A mais antiga por aqui é a escola da rede britânica Digital House, que iniciou suas operações, em São Paulo, em abril de 2018.

Em junho, a Digital House ofereceu bolsas de 80% em cursos de desenvolvimento de páginas para a internet para as primeiras 100 mulheres que concluíssem um processo seletivo com três fases: tarefas de nivelamento, teste e entrevista. Um curso de R$ 12 mil, por exemplo, saía por pouco mais que R$ 2 mil e podia ser pago em até 12 vezes.

Já a escola de programação espanhola Ironhack, em parceria com a Cabify, deu R$ 250 mil para ofertar 60 bolsas de 3.400 reais e três bolsas integrais para seus cursos, que chegam a custar até R$ 17 mil na escola. A Ironhack abriu sua primeira turma em outubro de 2018 em São Paulo.

Já as duas filiais da rede francesa 42 funcionam no Rio de Janeiro e em São Paulo. As operações em São Paulo já começaram, enquanto a 42 Rio abriu em outubro as inscrições para a primeira turma. A escola abre processos seletivos para anualmente escolher cerca de 170 alunos, que terão bolsa 100% paga em cada cidade.

A ONG Olabi oferece cursos de eletrônica, robótica e inteligência artificial em sua sede no Rio de Janeiro. Também lançou no YouTube o canal Computação Sem Caô, focado em sistematizar conceitos do pensamento computacional, para introduzir aos alunos conceitos importantes da área, como aprendizado da máquina. O principal público-alvo são jovens entre 14 e 17 anos.

Já a Toti quer atrair para a programação alguns dos 70 mil refugiados estrangeiros no Brasil. A primeira turma do projeto tinha alunos congoleses e, na segunda turma, juntaram-se ao projeto também refugiados da Venezuela e Colômbia, além de alunos brasileiros. Atualmente, a turma tem oito alunos e a ONG tem uma vaquinha virtual aberta para pagar as despesas.

Os cursos da Toti acontecem aos sábados na WeWork Carioca, no centro do Rio, e são gratuitos. O objetivo principal é inserir os alunos no mercado de trabalho, após o curso, já que a empregabilidade foi identificada como um dos principais problemas dos refugiados logo após a chegada ao país. As empresas interessadas em contratar os alunos da Toti encontram informações no site da ONG.

Além do curso, a vaga

"Começamos a ver grandes empresas saindo do Rio porque não encontravam essa mão de obra. Programação não exige que você se qualifique em universidade; boa parte dos programadores costumam ser autodidatas", explica o diretor da 42 Rio, Leonardo Filardi.

A gente não está prometendo entregar um profissional sênior. O que a gente vai, durante a formação, é treinar as competências de tecnologia, as linguagens de programação, simular muito o ambiente de trabalho, com dinâmicas do cotidiano. A gente tem confiança que consegue colocar esse o jovem no mercado mesmo com o pouco conhecimento que ele tem
Luísa Ribeiro, executiva-chefe da Recode

Para cumprir estes objetivos, o currículo vai além de ensinar as principais tecnologias no mercado de programadores. Todas as formações oferecem alguma clara porta de entrada ao mercado, seja por meio de orientação profissional ou parcerias com empresas.

No Reprograma, a expectativa do Mercado Livre é conseguir contratar até 16 das 32 alunas formadas no curso de back-end (nome de uma das etapas do trabalho de desenvolvedor). Na Ironhack e na Digital House, os alunos participam de feiras de contratação no fim do curso, e as escolas anunciam taxas de contratação acima de 80%, seja pela semana do emprego que promovem ou por outros processos seletivos que os alunos buscam.

Mercado em alta

Segundo a Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação), a demanda por profissionais de tecnologia deve chegar a 420 mil empregos até 2024 —uma média de 70 mil novas vagas por ano, enquanto as universidades formam apenas 46 mil novos profissionais por ano, o que significaria um déficit de 24 mil a cada ano.

Um estudo da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) estima que havia até 5 mil vagas abertas que jamais foram preenchidas apenas em 2019, sendo mais de 40% para desenvolvedores.

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