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Demitido por Bolsonaro é "herói" em lista de 10 nomes do ano da Nature

Micah B. Rubin for Nature
Imagem: Micah B. Rubin for Nature

De Tilt, em São Paulo

17/12/2019 14h28

Ricardo Galvão, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (o Inpe) e exonerado pelo governo de Jair Bolsonaro por divulgar dados de desmatamento da Amazônia, foi escolhido um dos dez nomes mais importantes da ciência pela revista científica Nature. A publicação apresentou a lista completa, que também inclui a ativista Greta Thunberg, nesta terça-feira (12).

Ao destacar o nome do brasileiro, a publicação aponta o cientista como uma figura de resistência ao atual governo do Brasil.

"O que ele [Ricardo Galvão] não sabia era que se tornaria um tipo de herói, aclamado por seus colegas científicos e por estranhos nas ruas. Uma mulher até o parou no metrô de São Paulo para agradecê-lo por enfrentar Bolsonaro e ajudá-la a entender por que a preservação da Amazônia é importante", escreve a Nature.

A publicação também deu destaque aos números alarmantes sobre o desmatamento no país, contestados por Bolsonaro e motivadores da discussão pública entre o político e o cientista.

"Os últimos números do INPE, divulgados em 18 de novembro, mostram que foram destruídos 9.762 quilômetros de terra — uma área maior que Porto Rico — entre agosto de 2018 e julho de 2019. Isso representa um aumento de 30% em relação ao ano anterior e mais de duas vezes a área foi limpa em 2012. Cientistas e conservacionistas afirmam que a retórica antiambiental de Bolsonaro enviou um sinal aos fazendeiros, agricultores e grileiros de que eles podem mais uma vez limpar a floresta na Amazônia com impunidade".

O texto ainda descreve a reação de choque de Galvão quando o presidente brasileiro acusou cientistas do Inpe de mentira na divulgação dos dados sobre desmatamento. O cientista passou quase uma noite em claro antes de preparar sua resposta ao político, já antecipando que seria exonerado após torná-la pública. Fora do Inpe, Galvão retornou à USP, onde retomou suas pesquisas no Instituto de Física.

O critério para a lista

A Nature buscou englobar diversos grandes temas tocados pela ciência ao longo de 2019 para escolher os dez personagens do ano.

"Nossa lista explora alguns dos momentos mais importantes da ciência do ano, destacando as pessoas que desempenharam um papel fundamental nesses eventos. Essas histórias vão desde a primeira demonstração de um computador quântico que supera o desempenho de uma máquina convencional até os esforços para combater a mudança climática", disse Rich Monastakery, editor-chefe da Nature.

A sueca Greta Thunberg, que neste ano foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, foi reconhecida por chamar a atenção para "os fracos esforços das nações para desacelerar o aquecimento global". Ela também foi descrita como "uma adolescente que chamou atenção para a ciência do clima ao canalizar a raiva de sua geração".

Na mesma linha de Galvão e Thunberg, a ecologista argentina Sandra Díaz entrou na lista por coordenar um grupo de 51 especialistas que elaborou um boletim que denuncia a extinção de 1 milhão de espécies pela ação humana e pede que se deixe de lado "a ideia de que as economias devem crescer constantemente".

Já o físico e chefe de computação quântica do Google na Universidade da Califórnia (EUA), John Martinis, foi nomeado por demonstrar um computador quântico da empresa completando em 200 segundos uma tarefa que o modelo convencional mais rápido do mundo levaria cerca de 10 mil anos para processar.

A Nature também destaca o trabalho da astrofísica Victoria Kaspi, da Universidade de McGill, em Montreal (Canadá), que conseguiu após anos de trabalho dotar um telescópio com a melhor tecnologia para coletar os melhores dados que temos até agora de explosões de ondas de rádio.

A revista celebrou ainda os esforços do microbiólogo Jean-Jacques Muyembe, que lidera com suas pesquisas a luta contra a epidemia de ebola na República Democrática do Congo, onde 2,2 mil pessoas morreram por causa da doença desde agosto de 2018.

Já o cientista chinês Hongkui Deng entrou na lista por ser o primeiro a publicar um estudo sobre como a edição genética pode ajudar a criar uma fonte limitada de células imunes à infecção pelo HIV.

Por sua vez, o paleontólogo etíope Yohannes Haile-Selassie foi relacionado por "sacudir a árvore genealógica" da humanidade. No início deste ano, ele encontrou um crânio de 3,8 milhões de anos de idade pertencente ao australopithecus anamensis, o mais antigo parente do ser humano moderno conhecido até o momento.

Por fim, a revista reconheceu o trabalho da especialista em ética em transplantes Wendy Rogers, uma acadêmica australiana que denunciou a doação forçada de órgãos de prisioneiros políticos chineses.

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