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Startup cria game que torna exercícios de fono menos chatos para crianças

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Imagem: Divulgação

Pedro Katchborian

Colaboração para Tilt

15/12/2019 04h00

Sem tempo, irmão

  • Fofuu aposta em games para crianças não abandonarem tratamento fonoaudiológico
  • Em um dos jogos, a criança faz exercício do tratamento para interagir com personagem
  • A receita da startup vem do modelo de assinatura para fonoaudiólogos e pais das crianças
  • Donos da empresa também decidiram investir em produto para crianças autistas

Imagine repetir palavras sem parar ou treinar fonemas continuamente. Os exercícios tradicionais de fonoaudiologia podem ser extremamente chatos e repetitivos. A Fofuuu, startup criada por Bruno Tachinardi e Tricia Araújo em 2015, nasceu como uma empresa focada em deixar tudo isso mais divertido — ou menos chato. No app, games estimulam os pequenos a não abandonarem o tratamento para distúrbios de fala e linguagem.

A receita da startup vem do modelo de assinatura para fonoaudiólogos, que podem oferecer o seu produto para pacientes, e pais, que podem acompanhar o progresso de seus filhos. Em 2018, a empresa teve faturamento de R$ 92 mil e, desde a sua fundação, já passou por rodadas de investimento que totalizaram R$1,2 milhão injetados na empresa.

Quer saber como funciona um jogo? Por exemplo, em um dos exercícios de fonoaudiologia a criança precisa treinar o som da letra Z de maneira isolada. No jogo, o objetivo é manter no ar um personagem que está na Lua. Quando a criança faz o som de Z com a boca, o personagem pula, sendo necessário continuar o exercício para que ele não caia. Veja abaixo:

Modificando seu propósito

A história da Fofuuu mostra que uma startup pode dar uma guinada rapidamente. Bruno Tachinardi explica que o produto inicial era focado em crianças com distúrbios de fala mais simples, mas também acabou interferindo na vida de crianças com patologias mais severas.

"Acabou impactando crianças com autismo, síndrome de Down, lábio leporino e várias outras, já que essas condições também podem trazer problemas fonéticos consigo", diz.

Ao perceber que pessoas com outras doenças estavam usando a plataforma, Bruno e Tricia começaram a ir atrás para entender como os games estava interferindo na vida delas.

Ao começar uma parceria com a AMA (Associação de Amigos do Autista), viram que o produto não estava funcionando como pensavam para o público autista — que não eram o seu target inicial. "A maior parte das crianças não conseguia utilizar, seja crianças não-verbais, com problemas cognitivos ou que simplesmente não precisavam mais daquilo", conta.

Os fundadores utilizaram a experiência para aprender sobre o amplo mundo dos autistas - e tomaram a decisão de passar a oferecer um produto realmente útil para essas crianças. Agora, um novo e mais completo app está sendo desenvolvido com foco nos autistas, utilizando diversas metodologias de aprendizado.

A ideia é ir muito além dos exercícios de fala: a Fofuuu quer guiar o autista com um plano de ensino que pode ajudá-la independente do momento de desenvolvimento. "Estamos juntando a bagagem de conhecimento de problemas, junto com todas as organizações novas e metodologias", afirma.

Em relação ao produto atual que está no mercado - focado somente nos distúrbios de fala -, Bruno diz que continuará no ar até que o novo seja lançado e os assinantes possam migrar para a plataforma atualizada. Sobre a mudança de foco, ele diz: "não queremos ser um produto muito genérico, que todos usam mas não é importante para elas. Queremos ser muito importante para um segmento específico".

À beira da falência

O caminho a ser trilhado pela Fofuu em 2020 parece promissor: em julho deste ano a empresa foi uma das selecionadas da Samsung Creative Startup, programa de aceleração de soluções tecnológicas. A iniciativa inclui até R$ 200 mil para o desenvolvimento de produtos e serviços. Mas, a Fofuuu - como toda startup de sucesso - passou por momentos tensos e, como diz Bruno, "só manteve o CNPJ aberto".

A saída de uma sócia no começo de 2019, aliado a um problema de caixa, levaram Bruno e Tricia a demitir quase a equipe toda. Segundo Bruno, eram cerca de R$ 50 mil em dívidas. "Tive que sair na rua para conseguir renegociar e passamos de 15 pessoas para apenas três. Ficamos por um fio", conta.

Em julho de 2019, veio o anúncio da aceleração no programa da Samsung. O dinheiro para o desenvolvimento de produtos ajudou a equilibrar as contas. Agora, com parte da equipe de volta, podem focar em escalar a empresa.

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