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Uber tem 8 casos de assédio sexual por dia nos EUA, e 126 mortes em 2 anos

O Uber está no centro do debate sobre a economia colaborativa, também chamada de "economia do bico" - Getty Images
O Uber está no centro do debate sobre a economia colaborativa, também chamada de 'economia do bico' Imagem: Getty Images

Helton Simões Gomes

De Tilt, em São Paulo

06/12/2019 14h02Atualizada em 06/12/2019 19h09

Sem tempo, irmão

  • Empresa de transporte alternativo divulgou relatório sobre segurança nos EUA
  • Estudo sobre 2017-2018 mostra que app esteve envolvido na morte de 126 pessoas...
  • ... 19 morreram por causa de ações violentas e 107 morreram devido a acidentes
  • Também foram registrados 5.981 casos de abuso sexual, de passageiros e motoristas
  • Para CEO, alguns "ficarão supresos com raridade dos incidentes", e outros acharão muito

Alvo de diversas críticas pela forma como gerencia casos de desvio de conduta em sua plataforma, a Uber liberou um relatório sobre a segurança na plataforma nos Estados Unidos. De acordo com o levantamento, divulgado nesta quinta-feira (5), foram pouco mais de oito casos de abuso sexual por dia entre 2017 e 2018.

O documento também lista os acidentes provocados em carros que trabalham para sua empresa. No período analisado, foram registradas 126 mortes, das quais 19 pessoas foram mortes em decorrência de incidentes violentos e 107 indivíduos perderam a vida em acidentes automobilísticos.

Abuso sexual

De acordo com a Uber, ocorreram 5.981 casos de abuso sexual em seus carros ao todo. Analisando os dois anos individualmente, é possível notar que houve um aumento: dos 2.936 casos em 2017 para 3.045 em 2018.

Caso você tenha alguma dúvida do que é considerado assédio sexual pela Uber, eis uma classificação liberada pela própria empresa:

  • Beijo não consensual em alguma parte do corpo não sexualizada: 570 (2017); 594 (2018);
  • Tentativa não consensual de penetração: 307 (2017); 280 (2018);
  • Toque não consensual de alguma parte do corpo sexualizada: 1.440 (2017); 1.560 (2018);
  • Beijo não consensual em alguma parte do corpo sexualizada: 390 (2017); 376 (2018);
  • Penetração não consentida: 229 (2017); 235 (2018).

Qualquer um dos casos é considerado como estupro no Brasil.

Os dados levam em conta tanto assédios provocados tanto por condutores, que respondem por 54% dos assédios, quanto por passageiros, acusados por 46%. Nas denúncias de penetração sexual sem consentimento, os usuários eram 99,4% das vítimas.

A Uber tentou amenizar o impacto dos dados colocando-os em perspectiva com o número de viagens feitas entre 2017 e 2018: 2,3 bilhões de viagens. Tony West, chefe do departamento jurídico da Uber, pontuou que 44% das mulheres dos EUA já sofreram algum tipo de violência sexual em sua vida.

"Somente nos EUA, mais de 45 corridas de Uber acontecem a cada segunda. Em uma escala como essa, nós não estamos imunes aos desafios de segurança mais sérios da sociedade, incluindo assédio sexual", afirmou.

O executivo-chefe da Uber, Dara Khosrowshahi, também comentou os dados em sua conta no Twitter:

Suspeito que muitas pessoas ficarão surpresas com a raridade desses incidentes; outras entenderão que ainda são muito comuns. Algumas pessoas apreciarão o quanto fizemos sobre a segurança; outras dirão que temos mais trabalho a fazer. E todas essas pessoas estão certas

Acidentes

Segundo o relatório, 19 pessoas foram mortas em casos de violência envolvendo pelo menos uma pessoa ligada a uma viagem de Uber: oito delas eram passageiros, sete eram motoristas e quatro eram terceiros, como pedestres.

A Uber registrou à parte as vítimas fatais de acidentes de carro que envolveram motoristas de sua plataforma. Entre 2017 e 2018, 107 indivíduos morreram após serem envolvidos em 97 acidentes.

A taxa de 0.57 fatalidade por 100 milhões de viagens em 2018 representa metade da taxa de mortes de trânsito nos Estados Unidos naquele período.

Dados no escuro

A Uber informou que o relatório referente aos EUA será elaborado a cada dois anos com dados atualizados.

A maioria das companhias não fala sobre essas questões duras, e elas não compartilham dados sobre incidentes sérios de segurança que impactam todas as companhias porque esse é um convite para atenção negativa. Nós acreditamos que é hora para uma nova abordagem. Manter essas informações no escuro não traz mais segurança"
Uber

A empresa comunicou ainda que não pretende elaborar relatórios semelhantes para outros países, como o Brasil. Tilt procurou a empresa para saber a razão, mas ainda não recebeu uma resposta.

A companhia aproveitou o relatório para enumerar suas ações para combater ações que comprometam a segurança na plataforma. Entre elas estão:

  • Compartilhar dados de motoristas que tenham sido banidos por algum motivo grave com outras empresas de transporte alternativo;
  • Lançar novos recursos de tecnologia que permitam aos usuários checar se um motorista está mesmo cadastrado na plataforma e até enviar, nos EUA, mensagem para o serviço de emergência;
  • Oferecer serviço de apoio especializado em atender sobreviventes de atentados violentos;
  • Oferecer educação sobre conduta sexual imprópria para todos os motoristas norte-americanos.

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