Topo

Imagens do futuro: hologramas mudarão o jeito como encaramos a realidade

Marcel Lisboa/Arte UOL
Imagem: Marcel Lisboa/Arte UOL

João Paulo Vicente

Colaboração para Tilt

15/11/2019 04h00

Sem tempo, irmão

  • Se você é fã de Star Wars, não vê a hora de poder usar hologramas
  • Daquele jeitinho, vai ser difícil, mas já há tecnologias que chegam perto
  • Desenvolvedores já recriaram artistas mortos com hologramas e...
  • ... agora trabalham para torná-lo um dos trunfos da realidade virtual

Na estreia de "The Mandalorian", primeira série em live action no universo de Star Wars, um dos símbolos clássicos dos filmes não ficou de fora: um pequeno holograma projetado no ar com o rosto de um dos personagens. Para os entusiastas da ficção científica, a má notícia é que vai demorar bastante para algo parecido acontecer de verdade. A boa é que com ajudinha de alguns dispositivos já é possível chegar em um resultado bastante semelhante.

Um holograma é uma imagem bidimensional projetada de modo a trazer uma impressão de tridimensionalidade. Por mais que exemplos exibidos ao ar livre, como do rapper Tupac Shakur no festival Coachella em 2012, pareçam realidade, tratam-se de uma ilusão de óptica. Para podermos ver a projeção, ela precisa estar refletida em alguma superfície.

A ideia de todo mundo de uma faixa etária, o holograma da Princesa Leia pedindo ajuda ao Obi-Wan Kenobi, aquilo é impossível. É como naquelas armadilhas de laser de filmes, você só consegue enxergá-lo a partir do momento que usa um spray, quando as partículas espalham a energia do laser e aí sim ela chega até seu olho", explica ele.
Emiliano Martins, professor da Escola de Engenharia de São Carlos da USP

Ele utiliza holografias para testar a eficiência de materiais empregados no setor de telecomunicações. No caso do Tupac, o truque que fazia a projeção parecer suspensa no ar é do século 19.

A imagem era jogada num espelho escondido, refletido por sua vez em uma fina tela transparente aos olhos da plateia. Já a tecnologia por trás da reconstrução do cantor, morto em 1996, é digna de nota. O escaneamento de fotos antigas e um modelo de corpo parecido permitiram aos desenvolvedores recriar uma réplica digital do rapper.

Sete anos depois, recursos como este são essenciais no avanço de um campo em que os hologramas prosperam: a realidade aumentada ou expandida. O conceito é um passo além na ideia da realidade virtual: enquanto óculos especiais e outros periféricos permitem ter a sensação de estar imerso em um mundo fantasioso, nos hologramas há elementos virtuais sobrepostos à nossa percepção do mundo real.

No caso do holograma da Princesa Leia, você só precisaria de um óculos para enxergá-lo. "Por meio de um dispositivo entre o observador e a imagem você adiciona uma camada nova de informação e interação em cima da realidade que já conhece", diz Francisco Almendra, cofundador e CEO do Studio KwO XR. Entre outras iniciativas na área, o KwO XR desenvolve elementos de realidade aumentada para uma peça de teatro ganhadora do edital Oi Futuro.

Aplicações da tecnologia não estão restritas ao campo do entretenimento. Almendra cita um caso da Boeing, onde funcionários utilizaram óculos de realidade aumentada na linha de montagem.

"Você tinha manuais gigantes dizendo qual fio ia onde, que precisam ser consultados a todo momento, e os óculos de realidade aumentada reconhecem o fio, mostra onde ele vai, e o técnico só precisa encaixá-lo", afirma. De acordo com a companhia aérea, a novidade reduziu em 25% o tempo de montagem do Boeing 787-8.

Na mesma linha, a tecnologia pode ser utilizado no setor corporativo em reuniões à distância imersivas que criam a impressão de que todos os participantes estão presentes no mesmo espaço. Outro campo promissor é a saúde, com a perspectiva de permitir a médicos analisar imagens em 3D de exames de pacientes para planejar cirurgias mais eficientes.

Isso é muito Black Birror_holograma - ARTE/UOL - ARTE/UOL
Imagem: ARTE/UOL

As portas da percepção

Os óculos são recorrentes quando se fala em realidade aumentada. O fracasso comercial do Google Glass, um exemplo do gênero, não afastou outras gigantes de tecnologia de investimentos na área. A Microsoft, por exemplo, tem o HoloLens, já na segunda versão, voltado para desenvolvedores, pesquisadores e o mercado corporativo.

A tecnologia, no entanto, não está restrita a uma única interface. A empresa suíça WayRay trabalha no Navion, um dispositivo que projeta dados de navegação no parabrisa do carro, como a velocidade. Isso permitiria plotar rotas de navegação direto no vidro e garantir que o motorista não se distraia para checar o mapa no celular —além de encerrar o drama de quem tem dificuldade de diferenciar esquerda e direita.

O DeepFrame, por sua vez, é uma tela quadrada transparente de pouco mais de 1,5 m que pode ser instalada em qualquer local. Na DeepFrame, podem ser exibidos textos e avisos em 2D e imagens em 3D, cuja perspectiva muda conforme o local do observador. Tudo isso é sobreposto ao cenário real visto por meio da tela - a ideia é que esses dois campos de informação se misturem.

"Na minha opinião, com certeza a realidade aumentada vai explodir nos próximos cinco anos", fala Almendra. Ele cita a expectativa por um óculos da Apple, que deve sair nos próximos dois anos. "O HoloLens, por exemplo, é pesado, desconfortável, e a Apple deve criar uma versão disso que seja cool, socialmente aceita, que pode revolucionar o mercado."

Mas não é preciso esperar tanto. Escondido no seu bolso, grande parte dos smartphones já são capazes de trazer recursos de realidade aumentada em alguma instância. O exemplo mais simples disso chega a ser banal - e já deu dor de cabeça até para o Mano Brown: filtros de Instagram.

Parece um pouco frustrante e menos mágico do que os filmes prometiam? Tudo bem, se o que você queria era algo saído da ficção científica, ainda há uma nova esperança. No início do ano passado, pesquisadores da Universidade Brigham Young, localizada na cidade de Provo, em Utah, nos Estados Unidos, conseguiram projetor um micro-holograma no ar livre

"Existe uma técnica onde consegue aprisionar uma partícula com força eletromagnética ou por controle de perfil de temperatura, e eles utilizaram essa partícula como espalhador de luz. Eles aprisionaram partículas", fala Emiliano Martins. "É o mais próximo da Princesa Leia já feito até hoje. Agora é muito complicado fazer esse tipo de levitação de partículas por gradiente de temperatura em larga escala, demanda muita energia."

SIGA TILT NAS REDES SOCIAIS