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Estudo prova que propaganda anti-vacina teve sucesso no Facebook

Grupos World Mercury Project e Stop Mandatory Vaccination pagaram por anúncios anti-vacina - Estúdio Rebimboca/UOL
Grupos World Mercury Project e Stop Mandatory Vaccination pagaram por anúncios anti-vacina Imagem: Estúdio Rebimboca/UOL

Thiago Varella

Colaboração com Tilt

14/11/2019 19h33

Sem tempo, irmão

  • Grupo comprou anúncios anti-vacina no Facebook e conseguiu atingir público-alvo
  • 54% dos anúncios contra vacinação vieram de grupos com financiamento particular
  • Já anúncios favoráveis à vacinação foram rejeitados e vistos como "políticos"

O Facebook pode ter tido um papel importante na propagação de mensagens anti-vacinação. Um estudo publicado na quarta-feira (13) na revista Vaccine mostra que um pequeno grupo comprou anúncios na rede social para fazer propaganda anti-vacina e conseguiu, com sucesso, atingir seu público-alvo.

Além disso, o estudo realizado por pesquisadores das universidades de Maryland, George Washington e Johns Hopkins, todas nos Estados Unidos, mostra que os esforços do Facebook em tentar melhorar a transparência da plataforma, na verdade, levaram à remoção de anúncios que promovem a vacinação e a comunicação de descobertas científicas.

A equipe de pesquisadores examinou mais de 500 anúncios relacionados a vacinas no Facebook. Eles descobriram que 54% dos anúncios contrários à vacinação foram publicados por apenas dois grupos financiados por indivíduos particulares, o World Mercury Project e Stop Mandatory Vaccination, e enfatizaram os supostos danos à vacinação.

Já os anúncios favoráveis à vacinação foram classificados pelo Facebook como "políticos". Isso significa que a plataforma rejeitou diversas mensagens anti-vacina.

Segundo a pesquisa, a campanha de desinformação nas redes sociais pode ajudar a aumentar a chamada "hesitação vacinal", uma das principais ameaças à saúde no planeta de acordo com a Organização Mundial da Saúde. O termo se refere à relutância ou recusa em vacinar. Este fenômeno fez com que, por exemplo, os casos de sarampo aumentassem em 30% no mundo todo.

"Ao aceitar o enquadramento dos oponentes da vacina, que a vacinação é um tópico político, e não um assunto sobre o qual existe amplo consenso público e consenso científico, o Facebook perpetua a falsa ideia de que há até um debate", disse David Broniatowski, professor associado de engenharia de sistemas da Universidade George Washington e pesquisador do estudo.

Segundo Broniatowski, as políticas do Facebook penalizam o conteúdo pró-vacina, já que a rede social exige a divulgação de fontes de financiamento para anúncios "políticos", mas os proponentes da vacina raramente se consideram políticos.

"Além disso, os oponentes da vacina são mais organizados e mais aptos a garantir que seus anúncios atendem a esses requisitos", afirmou.

Os dados usados pelo estudo foram coletados no Ad Archive, o arquivo de anúncios do Facebook, em dezembro de 2019 e fevereiro de 2019, antes da plataforma mudar, em março deste ano, sua política de publicidade para limitar as informações erradas relacionadas à vacina.

Os pesquisadores disseram que vão continuar estudando como o tema da vacinação está se espalhando no Facebook e como a empresa está respondendo às demandas das organizações de saúde pública para consertar seus erros.

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