Topo

'Berçário de estrelas' é registrado por fotógrafo no céu do DF

Jéssica Nascimento

Colaboração para o UOL, em Brasília

08/11/2019 15h10

Um fotógrafo registrou no céu de Santa Maria, região a 34 km do centro de Brasília, um "berçário de estrelas". Segundo ele, com uma mistura de cores nos tons vermelho e roxo, é possível perceber pelo menos cinco nuvens, chamadas de nebulosas, em que novas estrelas são formadas.

Ronald Piacenti Junior, 56, é analista de sistemas e fotógrafo nas horas vagas. De acordo com ele, as imagens foram registradas entre os dias 14 e 18 de outubro. Ele disse que foi um trabalho árduo para conseguir o registro.

"São objetos celestes conhecidos como Nebulosas e Nebulosas Planetárias. A última, ao contrário do que o nome sugere, não tem nada a ver com planetas. É na verdade o resto de estrelas no final da vida, que entraram em colapso quando seu combustível foi totalmente consumido tendo como desfecho uma grande explosão, espalhando os restos e matérias no espaço formando variados padrões visuais", afirma.

Segundo o fotógrafo amador, os cliques registraram as nebulosas:

- M16 (Nebulosa da Águia)
- M42 (Grande Nebulosa de Órion)
- INGC2024 / IC 434 (Nebulosas da Chama e Cabeça de Cavalo)
- Nebulosa Roseta
- M8/M20 (da Laguna e Triffid Nebula)

Segundo Júnior, elas mostram regiões do espaço onde há grande concentração de gases - especialmente hidrogênio, hélio e poeira cósmica-que são a matéria básica para a criação de estrelas, sendo portanto considerados berçários estelares. Em outro registro, é possível ver a Nebulosa Helix (Nebulosa da Hélice), que mostra o fim de uma estrela. É a nebulosa mais próxima da Terra, está a 700 anos-luz de distância e é conhecida popularmente como 'Olho de Deus'. "É um colapso em seu final de vida", disse Júnior.

Concentração de luz

Para Júnior, a diferença entre uma fotografia comum e a do céu profundo, em especial, está na quantidade de luz que chega à lente da câmera.

"Enquanto em uma foto comum normalmente o objeto a ser fotografado está relativamente próximo da lente, a quantidade de luz é grande, permitindo que a imagem seja registrada apenas em frações de segundo. Por outro lado, as imagens astronômicas são tiradas de objetos a dezenas, centenas, milhares ou até milhões de anos-luz de distância", explica.

Isso significa, segundo o fotógrafo, que muito pouca luz chega até a lente da câmera, sendo necessário que a objetiva do equipamento fique aberta por vários segundos ou até mesmo minutos em sucessivas imagens do mesmo objeto que depois são processadas e combinadas (empilhamento de imagens) para gerar a imagem final. "Para isso usamos software especial para esse propósito", pontua.

Ciclo interestelar

Adriano Leonês, professor de ciências e astrônomo, explica que o berçário de estrelas se forma pela interação da matéria existente no espaço, composta essencialmente de gás aquecido (hidrogênio e hélio), plasma e poeira cósmica. A dinâmica natural que ocorre no espaço faz com que a matéria se agregue em função da força gravitacional e gera aumento de temperatura. O material condensado gera aglomerados gasosos com reação nuclear, e uma estrela nasce a partir desse processo físico e químico. Uma mesma nebulosa pode gerar de dezenas a milhares de estrelas dependendo de seu tamanho e composição.

"A estrela morre a partir da falta de combustível, quando deixa de converter hidrogênio e hélio em outros elementos e a reação nuclear de fusão se torna mais difícil. O Sol tem 5 bilhões de anos e possui matéria o suficiente para durar outros 5 bilhões de anos. Após o período, o Sol vai inchar e ir para o estágio de gigante vermelha e em seguida se tornará uma nebulosa", disse o astrônomo.

Segundo Leonês, uma estrela tem duração variada. O Sol, por exemplo, pode existir por 10 bilhões de anos. "Em outras palavras, o Sol está em sua meia vida. Estrelas maiores que o Sol duram menos tempo porque consomem matéria e geram as reações nucleares de modo mais acelerado e podem durar 5 bilhões de anos ou bem menos que isso."