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Motorista de Uber para carro e corre a pé para passageira não perder o voo

Não fosse o motorista, Fernanda não teria chegado a tempo de comemorar o aniversário do filho - Arquivo pessoal
Não fosse o motorista, Fernanda não teria chegado a tempo de comemorar o aniversário do filho Imagem: Arquivo pessoal

Bruna Souza Cruz

De Tilt, em São Paulo

08/11/2019 04h00

Sem tempo, irmão

  • Fernanda e o motorista da Uber Alan protagonizaram uma verdadeira maratona
  • O jovem a salvou de perder o voo para casa e o aniversário do filho de 10 anos
  • Ao perceber que ela não chegaria a tempo no aeroporto, Alan desligou o aplicativo e saiu correndo pelas ruas com a empresária

"Corre, dona Fernanda! Corre!". A frase é o ápice da aventura vivida pelo motorista da Uber Alan Lopes de Oliveira, 22, e pela carioca Fernanda Machado Vieira Cruz, 32, em direção ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Se não fosse pelo condutor, a passageira não teria chegado à sua casa no Rio de Janeiro a tempo da festa de aniversário de Arthur, seu filho de dez anos.

Era uma tarde de quinta-feira quando Alan recebeu uma chamada no aplicativo e buscou a microempresária Fernanda, que estava em São Paulo para um curso de confeitaria. Tudo estava sob controle até que um engarrafamento inesperado pegou os dois de surpresa. Recalculando rota...

Quem já viu essa mensagem sabe o tamanho do desespero. Segundos de apreensão, olho na tela do aplicativo e uma certeza: Fernanda perderia o seu voo. A previsão de chegada ao aeroporto era 17h55. A decolagem para o Rio seria às 18h10.

"Quando vi o horário, comecei a ficar nervosa. Me deu vontade de chorar, porque eu ia perder o aniversário do meu filho, os meus trabalhos no final de semana. O Arthur estava muito feliz e ansioso para a festa dele. Se eu não chegasse, nem sei como ia ser. Ele ia ter um troço", contou Fernanda a Tilt.

Por trabalhar com montagem e decoração de festas, era ela quem estava à frente da comemoração do pequeno.

Enquanto a passageira se desesperava, Alan tentava confortá-la. "Calma, dona Fernanda. Vou procurar uma rota alternativa. Vamos conseguir", dizia.

Quem conhece São Paulo sabe que mesmo antes das 18h a cidade vira um caos. Se os dois continuassem seguindo o GPS, Fernanda não teria outra alternativa a não ser permanecer na cidade até sabe-se lá quando.

"A passagem era promocional. Então eu não poderia alterar o horário do voo. Até procurei para comprar outra, mas mais de R$ 1.000, coisa que eu não tinha mesmo como pagar. Foi horrível", acrescentou a empresária.

Alan teve então uma ideia quando o carro começou a chegar perto do aeroporto. "Dona Fernanda, você confia em mim?", perguntou. Ela confiou.

O motorista desligou o aplicativo da Uber, estacionou o carro, pegou todas as malas e os dois seguiram em uma corrida maluca pelas ruas em direção à entrada do aeroporto. O percurso durou entre dez e 15 minutos e foi o suficiente para Fernanda achar que ia "morrer".

"Estava tudo parado. Estava com o coração partido, porque não podia fazer muita coisa para ajudá-la. Eu pensei: o tempo que estamos aqui parados nós podemos fazer mais rápido a pé. E disse para ela que precisaríamos correr", lembrou o motorista.

O Alan ficava falando 'corre, dona Fernanda. Corre. Falta pouco. Você vai conseguir' e eu só corria
Fernanda Cruz

Perto das 17h50, os dois avistaram uma passarela que dá acesso a uma das entradas do aeroporto. As pernas de Fernanda já falhavam, ela não tinha mais fôlego, mas eles continuaram.

Desesperada, ela nem conseguiu se despedir direito do Alan e agradecer. Entrou feito um furacão e contou com a ajuda de uma funcionária da companhia aérea para chegar no portão de embarque. Foi por muito pouco. O voo para o Rio de Janeiro também estava atrasado e Fernanda conseguiu embarcar.

"Eu entrei no avião tremendo muito. Quando vi que tinha conseguido, quase chorei. Foi um milagre. A festinha do Arthur [no dia seguinte] foi linda, mas saí com cara de cansada em todas as fotos. Depois de correr tanto vou virar maratonista", brincou Fernanda, rindo alto de toda a aventura.

Eu não fiz nada de mais. Eu faria aquilo por qualquer pessoa que precisasse. Fico pensando todo dia que, se cada um ajudasse o próximo, o mundo não estaria assim. Eu nunca quis nada em troca. Só ajudei
Alan Oliveira

Fernanda Machado Vieira Cruz, 32 anos, e o fitlho Arthur 1 - passageira Uber - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Mesmo exausta, Fernanda conseguiu organizar a festa do filho
Imagem: Arquivo pessoal

Desencontros e encontros

Já em sua casa no Rio de Janeiro, depois de um final de semana intenso de trabalho, Fernanda percebeu que não teria como agradecer ao motorista, já que não possuía o contato dele. Foi quando decidiu publicar em seu Facebook toda a história, para ver se conseguia localizar o jovem motorista. Ela abriu o aplicativo da Uber, deu uma captura de tela na foto que aparecia e compartilhou. Antes, aproveitou para dar nota para o condutor e elogiá-lo, claro.

Alan Lopes de Oliveira, motorista de Uber que ajudou a passageira Fernanda - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O motorista Alan recebeu um agradecimento em seu perfil, mas até então não havia mais falado com a passageira
Imagem: Arquivo pessoal

"Foi uma loucura. A publicação chegou a 30 mil compartilhamentos poucas horas depois que postei. Encontrei o Alan naquele dia mesmo. Alguém comentou e marcou a esposa dele. Mandei mensagem e a noite ele me retornou", explicou a passageira.

Depois da publicação, a vida dos dois saiu ainda mais da rotina. Ambos começaram a receber uma enxurrada de mensagens de parabéns. De um lado, muitos elogiaram o gesto de empatia de Alan. Na outra ponta, os elogios foram para Fernanda, que fez o agradecimento público para o motorista.

Agradecimentos a Fernanda Cruz, passageira da uber - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Uma das mensagens recebidas por Fernanda após a publicação viralizar
Imagem: Arquivo pessoal

"Eu chorei muito pelas palavras que ela usou. Ela ter agradecido me fez tão bem, não tenho palavras. Até o Arthur me agradeceu. A gente passa por riscos dirigindo, falta segurança. Meu trabalho é difícil. Eu pego muito passageiro, alguns humilham. Mas encontrar pessoas como a Fernanda é muito bom", lembrou Alan, que trabalha há quatro meses com a Uber.

O motorista e a passageira agora pretendem continuar em contato, já trocaram convites para que Alan conheça o Rio de Janeiro e Fernanda volte a visitar São Paulo. Ao que tudo indica, uma amizade legal vem por aí.

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