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Barcelona aposta em startups e agora quer profissionais que falem português

La Rambla, rua tradicional de Barcelona, cidade que virou um hub de startups - Liklug/Creative Commons
La Rambla, rua tradicional de Barcelona, cidade que virou um hub de startups Imagem: Liklug/Creative Commons

Marcela Canavarro

Colaboração para Tilt

27/10/2019 04h00Atualizada em 28/10/2019 13h33

Não é só futebol e presunto: Barcelona também abriga um dos ecossistemas de startups mais ricos da Europa, inspirando listas como "As 100 startups para prestar atenção em Barcelona em 2019" e "As melhores startups para acompanhar em Barcelona em 2019". Entre os setores que mais crescem, estão a realidade aumentada, mobilidade, games e biotecnologia, além dos tradicionais mercados de celular e comércio eletrônico.

Fatores como a união dos mercados espanhol e português nas operações de muitas empresas e a proximidade da Espanha com o mercado latino-americano gera também demanda por serviços de tecnologia em conteúdo em língua portuguesa.

Algumas vagas de trabalho dão ênfase ao português brasileiro. Em casos em que os negócios se restringem ao mercado europeu, o foco é no português de Portugal.

Segundo Lucia Fedele, recrutadora da consultoria de Recursos Humano Babel Profiles, línguas como o alemão e o francês ainda são mais procurados por empresas europeias que buscam candidatos internacionais. Mas a demanda pela língua portuguesa aumentou em 2019 para vagas de gerência e de recursos humanos em empresas de tecnologia.

O mais buscado é o português de Portugal por causa da região, e se há um brasileiro que já trabalhou no mercado português, certamente seria considerado em vagas com estas também. Mas também há empresas procurando especificamente o profissional brasileiro. Elas querem nativos da língua, principalmente se é para o mercado b2b [business to business, ou de empresa para empresa]
Lucia Fedele

Clima quentinho

Por ter o espanhol como uma das línguas oficiais e um clima mais próximo do visto na América Latina, Barcelona é uma das cidades que servem como ponte entre os mercados europeu e latino-americano.

A expansão de startups europeias para outros mercados aumenta também a demanda por profissionais especializados e nacionais de países latinos. Este foi o caso da Brainly, startup polonesa que atua no setor de educação, e que escolheu Barcelona para instalar seu escritório para mirar no mercado sul-americano.

"Os profissionais que contratamos vêm da América do Sul, não são europeus. É fácil viver em Barcelona, por conta da língua, da cultura e do clima. Se fizéssemos isso na Polônia, não seria tão fácil porque muita gente não fala a língua. Barcelona é uma cidade ótima, que oferece muitas oportunidades de desenvolvimento e de boa educação", complementa Piwnik.

Os serviços de vendas e de atendimento ao cliente são áreas em que as empresas buscam profissionais fluentes em língua portuguesa. Mas a startup M47 está com um projeto de processamento de linguagem natural em língua portuguesa. A empresa de software buscava um engenheiro com fluência em diferentes línguas, como italiano, dinamarquês e português brasileiro.

Na Brainly, o movimento é o contrário. A ideia é fazer o nome da empresa circular ainda mais na América Latina, especialmente no Brasil. Por isso, as vagas de especialista em operações para conteúdo e de gestor de comunidade eram peças-chave para o crescimento no mercado brasileiro.

"Barcelona é perto da Cracóvia, parte da União Europeia e isso tornava fácil para nós abrirmos um escritório lá. Claro que pensamos em diferentes opções antes de decidir, mas a diferença de fuso horário [para o Brasil] é grande e a distância física, também. Se continuarmos crescendo no Brasil, instalar um escritório é uma possibilidade", conta o gerente de comunicação da Brainly, Jakub Piwnik.

Na Housfy, a busca por profissionais fluentes em português também é parte do projeto de expansão e internacionalização da empresa, que já atua na Itália e vai começar a operar em Portugal. No momento, o foco principal da startup espanhola é produzir conteúdo em português.

A Housfy diz estar em pleno processo de internacionalização, e a abertura de um novo mercado implica, necessariamente, em investir em funções como criação ou geração de conteúdo. "Precisamente por isso, diria que agora mesmo é de vital importância incorporar profissionais que possam nos ajudar neste sentido", relata o diretor de recursos humanos da empresa, Joaquim Escura.

Segundo um estudo do Mobile World Capital, em 2018 Barcelona já era o sexto maior hub [ponto central] de startups da Europa, com forte expansão no ano, chegando a 1.197 empresas deste tipo e um total de 871 milhões de euros de capital investido, figurando como a quinta cidade europeia com mais investimentos em startups. Muitas destas empresas são espanholas e catalãs, e outras, como a Brainly, vêm de outros países, principalmente europeus.

Valeu a pena para eles

Muitos candidatos buscam formas alternativas de conseguir a permissão para trabalhar legalmente, como matricular-se em um mestrado e chegar ao país como o visto de estudante. Além de ser mais fácil a troca para o visto de trabalho, mestrandos e doutorandos podem trabalhar em tempo parcial ainda com o visto de estudante.

Foi o que fez a mineira Damares Reis, de 35 anos. Ela matriculou-se em um mestrado em Barcelona e melhorou o espanhol em uma escola de línguas. Logo na segunda semana, Damares já tinha um estágio na área. Depois de seis meses, mudou de estágio, e em dois meses na nova empresa, foi contratada.

"Às vezes, trazer gente de fora é muito burocrático... Eu já tenho visto de estudante e entrei como estagiária, acho que isso motivou a empresa a dar entrada no visto [de trabalho]", conta Damares.

O engenheiro de sistemas Leonardo Damasceno também trocou Dublin por Barcelona. O alagoano de 29 anos se mudou para a Europa com a esposa, que tem a mesma idade. Ele explica que, na área de tecnologia, o mercado de Dublin é mais competitivo e paga melhores salários, mas o clima de Barcelona é mais atraente.

"O clima é péssimo em Dublin e é uma das razões porque a gente se mudou. O clima muda muito rápido. Você pode ver neve, chuva e sol no mesmo dia, em qualquer época do ano. Em Barcelona, o clima lembra muito o do Brasil. Na Irlanda, sem aquecedor, você não consegue viver", compara Leonardo.

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