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Opinião: Facebook pode ajudar o negócio de notícias

Mark Zuckerberg é cercado por fotógrafos antes de depoimento ao senado americano, em 2018 - Saul Loeb/AFP
Mark Zuckerberg é cercado por fotógrafos antes de depoimento ao senado americano, em 2018 Imagem: Saul Loeb/AFP

Mark Zuckerberg

Fundador e executivo-chefe do Facebook

25/10/2019 17h32Atualizada em 13/02/2020 09h38

Este artigo foi publicado nesta sexta-feira (25) no jornal norte-americano The New York Times. No Brasil, sua versão traduzida para o português foi cedida pelo Facebook com exclusividade para Tilt

Quando repórteres do The Minnesota Star Tribune descobriram que a taxa de mortalidade de crianças tinha crescido significativamente em locais de atendimento pediátrico do Estado, eles publicaram uma série de reportagens que acabou gerando mudanças na lei. Eles ganharam um Prêmio Pulitzer - e em poucos meses a taxa de mortalidade infantil caiu. Como alguém casado com uma pediatra e comprometido em buscar soluções para problemas de saúde, descobri que esse é um grande exemplo de como o jornalismo pode nos ajudar a progredir em nossos maiores desafios.

Eu sei como é estar no foco de reportagens. Eu dei minha primeira entrevista com 19 anos, e, apesar de ter melhorado um pouco ao falar com jornalistas, as pessoas me dizem que ainda não sou muito natural. Nos últimos 15 anos, eu tenho visto como a imprensa responsabiliza o Facebook quando cometemos erros. Isso pode ser desconfortável, mas, como eu frequentemente falo para os funcionários do Facebook, esse tipo de escrutínio é importante: o Facebook faz parte da vida de tantas pessoas e temos uma responsabilidade em engajar com as críticas de boa-fé e usá-las para nos tornarmos melhores. Jornais publicaram notícias importantes que mudaram a forma como operamos, e, em última análise, isso foi melhor não apenas para a nossa companhia, mas também para a sociedade.

O bom jornalismo traz à tona histórias que não seriam reveladas de outra maneira, e estabelece a verdade fundamental que nos ajuda a progredir em questões importantes. Ele também mantém quem está no poder ciente de suas responsabilidades. Uma imprensa livre é essencial para uma democracia saudável, e precisamos apoiar os jornalistas e publishers [editores] que fazem esse importante trabalho.

Mas a internet foi disruptiva para o modelo de negócio de grande parte da indústria de notícias. Quando os anúncios passaram a migrar de jornais impressos para websites, a dinâmica econômica do setor de notícias mudou. Alguns efeitos foram positivos. Os serviços de internet deram aos veículos de notícias formas para alcançar novas audiências, e pesquisas indicam que pessoas que se informam através de redes sociais estão expostas a uma gama mais ampla de pontos de vista. Mas quebrar a ligação entre publishers e seus leitores também tornou mais difícil para a indústria de notícias se adaptar financeiramente a essas mudanças.

Nos últimos anos, eu me encontrei com jornalistas, editores e publishers para entender melhor os desafios e as oportunidades enfrentadas pelos negócios de notícia. Eu sei que há mais que podemos e devemos fazer para ajudar.

Começamos cedo neste ano, anunciando um investimento de US$ 300 milhões para ajudar publishers - especialmente em notícias locais - para o desenvolvimento de suas audiências e modelo de assinatura. Jornais locais foram os mais atingidos pelas mudanças tecnológicas, mas eles podem ter o mesmo impacto na vida das pessoas que os veículos maiores têm. Estamos apoiando jornalismo local através do Pulitzer Center e financiando jornalistas que cobrem temas que não têm tanto espaço em redações.

Há muito tempo queremos apoiar o jornalismo diretamente em nossas plataformas. Mas enfrentamos um dilema tentando fazer mais no Feed de Notícias porque a maioria da nossa comunidade diz querer ver mais informações de amigos, familiares e comunidades, e menos de outros conteúdos. Para a maioria das pessoas, as redes sociais ainda são primariamente para serem sociais.

Porém, nos últimos dois anos, começamos a desenvolver com sucesso abas fora do Feed de Notícias, como o Marketplace para comprar e vender coisas e o Watch para vídeos. Mesmo que apenas entre 10% e 20% da nossa comunidade nos Estados Unidos use uma dessas abas, isso já significa de 15 milhões a 30 milhões de pessoas. Temos trabalhado com publishers em desenvolver experiências como essa para notícias, e nesta sexta-feira (25) lançamos o resultado desse trabalho: o Facebook News.

Pela primeira vez, haverá um espaço no aplicativo do Facebook dedicado apenas a notícias de alta qualidade. Como as pessoas ainda são melhores em escolher o que é mais importante e quais são as histórias com mais qualidade, as principais notícias no Facebook News serão curadas por um time diverso e experiente de jornalistas. Abaixo disso, haverá uma seleção maior de histórias que serão personalizadas através de um algoritmo. Cada história terá uma marca clara do veículo de notícia que a publicou. Publishers nos disseram nos últimos anos que isso é particularmente importante.

Nós também desenvolvemos ferramentas para ajudar publishers a aumentar os assinantes direcionando as pessoas através de links do Facebook para as Páginas dos publishers. Eles podem decidir quando um leitor verá um paywall [aviso de conteúdo pago]. Eles controlam a relação com seus leitores através do pagamento de assinaturas sendo feito diretamente no website do próprio publisher. Não recebemos nenhuma parte da receita porque queremos que o máximo desse valor seja usado para financiar jornalismo de qualidade.

Esse modelo estabelece uma relação financeira de longo prazo entre o publisher e o Facebook pela primeira vez. Sabemos que precisamos ajudar a construir um modelo estável. Diferentemente de outras coisas que tentamos no passado, trata-se de um comprometimento de muitos anos que deve dar aos publishers confiança para planejar o futuro. Agora temos uma parceira de muitos anos com ABC News, The New York Times, The Wall Street Journal, The Washington Post, BuzzFeed, The Dallas Morning News e muitos outros veículos.

Isso também estabelece um novo produto no Facebook para pessoas que querem uma experiência com notícias de alta qualidade. Isso vai começar pequeno, mas estou otimista que se ouvirmos com cuidado as ideias e preocupações de organizações de notícias por todo o mundo, poderemos expandir ao longo do tempo.

Apoiar notícias de qualidade também pode nos ajudar a combater a desinformação. É por isso que estamos definindo padrões restritos para que publishers possam aparecer no Facebook News. Se um publisher publicar desinformação, ele não aparecerá mais no produto.

Eu acredito profundamente no bem social que o jornalismo oferece. Hoje, ele é mais importante do que nunca: precisamos de notícias que questionem os poderosos, que cubram os grandes eventos de maneira fiel e revelem novas verdades. Isso torna nossa sociedade melhor, e eu sei, em primeira mão, que isso tem feito nossa companhia melhor também, mesmo quando isso traz desconforto. Eu espero que nossos esforços possam honrar o importante trabalho que jornalistas fazem e apoiem a indústria de notícias que nos mantém a todos informados.

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