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Facebook marca menores como "interessados" em apostas e álcool, diz jornal

JOEL SAGET / AFP
Imagem: JOEL SAGET / AFP

Do UOL, em São Paulo

09/10/2019 14h16

A rede social Facebook marcou centenas de milhares de menores de idade como "interessados" em anúncios de jogos de azar e álcool, segundo uma investigação conjunta do jornal britânico The Guardian e a Danish Broadcasting Corporation.

O algoritmo usado para distribuir conteúdo no feed dos usuários pode ter exposto menores de 18 anos a anúncios considerados nocivos.

As ferramentas de publicidade da rede social revelam que 740 mil pessoas menores de 18 anos foram sinalizadas como interessadas em jogos de apostas, incluindo 130 mil no Reino Unido. Cerca de 940 mil menores de idade, sendo 150 mil britânicos, foram marcados como interessados em bebidas alcoólicas.

Esses interesses são automaticamente gerados pelo Facebook com base no que o algoritmo aprendeu sobre um usuário ao monitorar sua atividade na rede social e pela internet. Publicitários podem, assim, direcionar mensagens especificamente para subgrupos que tenham sido sinalizados como interessados em determinado tópico.

Em um comunicado, o Facebook disse: "Nós não autorizamos anúncios a promover a venda de álcool ou apostas para menores de idade no Facebook e nós nos esforçamos contra esse tipo de atividade quando a identificamos. Nós também trabalhamos de perto com reguladores para fornecer direcionamento aos comerciantes, para ajuda-los a alcançar seus públicos efetivamente e responsavelmente."

A empresa permite que anunciantes usem mensagens com foco específico em menores de idade com base no seu interesse por álcool ou jogos de azar. Uma pessoa dentro do Facebook deu como exemplo um serviço anti-apostas que queira alcançar menores de idade com potenciais problemas ligados a apostas e jogos de azar para oferecer ajuda e apoio.

Mas os anunciantes podem mirar esses interesses com outros objetivos também. Sem violar nenhuma regra do Facebook, desenvolvedores de videogames com mecanismos para uma caixa coletora de dinheiro, por exemplo, podem direcionar seus anúncios para menores de idade com interesse em apostar.

A presença de interesses automatizados também significa que anunciantes de álcool e jogos de azar que tentam evitar as regras do Facebook sobre anunciar para menores de idade têm uma audiência já selecionada para eles pela rede social.

O Facebook conta, primariamente, com uma revisão automatizada para marcar anúncios que estejam em desacordo com suas políticas. Mas a revisão automatizada não garante a identificação de violações antes que os anúncios sejam disparados. O Facebook recentemente firmou uma ação judicial com o especialista financeiro Martin Lewis pelo fracasso de longo prazo da empresa em manter sua imagem fora dos anúncios fraudulentos.

A categorização automática do Facebook de seus usuários já tinha sido anteriormente criticada. Em maio de 2018, foi descoberto que a rede social segmentava usuários que achava estarem interessados em temas como homossexualidade, islã ou liberalismo, apesar de religião, sexualidade e crenças políticas serem explicitamente marcadas como "informações confidenciais" pelas leis de proteção de dados da União Europeia.

Um mês mais tarde, o Guardian e a DBC descobriram que a rede social tinha marcado com uso de algoritmo 65 mil russos como "interessados em traição", potencialmente os colocando em risco diante de um estado opressor. O Facebook removeu os rótulos após ser questionado pelo Guardian.

O desejo do Facebook de oferecer tanta informação quanto possível aos anunciantes, para que possam alcançar os consumidores, tem repetidamente levado a assuntos relacionados à habilidade dos anunciantes de fazer mau uso da informação, de maneira que estejam, com frequência, no limite ou completamente ilegais.

Em março, o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA acusou o Facebook de violar o Fair Housing Act, argumentando que as características de alcance do site permitiam a anunciantes restringir anúncios de habitação de maneira que "discrimina ilegalmente com base em raça, cor, origem nacional, religião, status familiar, sexo e deficiência". Na época, o Facebook disse que trabalharia com o departamento e com grupos de direitos civis para melhorar seus sistemas de segmentação de anúncios.