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Como novo serviço da Uber gerou um debate sobre a nossa sociabilidade

Nova ferramenta pode mudar relação entre passageiros e motoristas - Estúdio Rebimboca/UOL
Nova ferramenta pode mudar relação entre passageiros e motoristas Imagem: Estúdio Rebimboca/UOL

Rodrigo Trindade

De Tilt, em São Paulo

08/10/2019 13h36

Sem tempo, irmão

  • Apresentado na segunda-feira (7), Uber Comfort rendeu discussões pelo Twitter
  • Críticos atacaram a "desumanização" dos motoristas causada pelo serviço
  • Outros requisitaram a inclusão de outras "preferências" na plataforma
  • Defensores minimizaram mudanças e disseram que elas não afetam sociabilidade

Explicamos mais cedo quais as diferenças de cada serviço que a Uber oferece, agora que o Comfort recebeu data para chegar ao Brasil. Surpreendentemente, o anúncio gerou um debate profundo na internet sobre como a tecnologia influencia nosso comportamento na atualidade. A controvérsia gerou críticos e apoiadores do serviço, que permite que usuários pré-selecionem que não querem conversa com o motorista. As discussões foram além e geraram até pedidos de novas opções de viagem.

Antes de trazer os argumentos expostos por internautas no Twitter, vale destacar o que motivou a vinda da modalidade para o Brasil —ela está disponível nos Estados Unidos desde julho. CEO da empresa no Brasil, Claudia Woods explicou que o Uber Comfort veio como "uma inovação para atender a demandas específicas" identificadas em conversas com usuários.

"Muita gente já passou por situações assim. Você entra no carro cansado e tudo o que precisa naquele momento é de um pouco de sossego", completou.

Ao dizer sossego, Woods se referia ao novo botão que o usuário pode acionar com o Comfort: a escolha "prefiro viajar em silêncio". É justamente essa opção que mexe com opiniões na internet.

As críticas não tocaram apenas na "desumanização" do motorista por parte dos passageiros. Mulheres requisitaram que o aplicativo ofereça uma opção para solicitar motoristas do sexo feminino. A demanda partiu daquelas que usam o serviço do banco de trás, mas também atenderia as motoristas do serviço, que sofrem com violência sexual de passageiros.

Pelo Twitter, a Uber respondeu às usuárias e disse estar atenta ao feedback.

Ainda houve críticos dos críticos do Uber Comfort, que argumentaram que a novidade não é uma carta-branca para falta de educação e não força uma mudança de comportamento. Para eles, aqueles que preferirem viajar em silêncio podem muito bem cumprimentar e se despedir do motorista, permanecendo quietos durante a viagem.

O "prefiro viajar em silêncio" do Uber Comfort é uma opção simbólica da era digital em que vivemos. Ao sermos conectados a motoristas que não conhecemos por um aplicativo, preferimos pagar mais por uma experiência impessoal do que socializar com o desconhecido.

A ferramenta atende uma demanda, pois há quem não se sinta confortável de se relacionar com estranhos ou vive uma vida "ocupada", que demanda aproveitar esses deslocamentos pelas cidades trabalhando no banco de trás do Uber. A crítica mais válida a isso é ter que pagar mais caro por esse "sossego", quando uma breve troca de palavras, ou sinalização com linguagem corporal, indicaria a preferência de não conversar.

Ainda assim, o que acaba sendo menos constrangedor: entrar no carro e dizer que você não está disposto a falar ou entrar, dar bom dia e o motorista já saber a predisposição de seu passageiro? O desejo de pegar uma corrida em silêncio é familiar a qualquer um, mas a tecnologia introduziu essa variável impessoal para mostrar que você não está a fim de papo naquela viagem.