Topo

Facebook admite: app para crianças realmente permitia falar com estranhos

Crianças podiam conversar com adultos em brecha do Messenger Kids - Getty Images
Crianças podiam conversar com adultos em brecha do Messenger Kids Imagem: Getty Images

Janaína Garcia

Colaboração para Tilt

29/08/2019 16h41Atualizada em 04/05/2020 07h00

Sem tempo, irmão

  • Brecha no Messenger Kids permitia que crianças falassem com adultos
  • Facebook reconheceu o erro e disse ter corrigido a falha do sistema
  • Senadores dos EUA cobraram explicações e se desapontaram com resposta

A privacidade de dados segue um problema para o Facebook. Dessa vez, a empresa de Mark Zuckerberg está envolvida em uma falha de segurança a usuários mais vulneráveis: crianças e adolescentes.

Em junho, um "erro técnico" descoberto no Messenger Kids permitiu que crianças pudessem usar o bate-papo do aplicativo com adultos, sem qualquer supervisão de seus responsáveis. O Facebook reconheceu a falha só na quarta-feira (27) —e isso semanas após ser questionado pelo Senado americano a responder sobre o caso. A carta com as respostas da empresa está online (em inglês).

Mas parece que o Facebook não convenceu os senadores que pediram explicações: os democratas Edward Markey, do Estado de Massachusetts, e Richard Blumenthal, de Connecticut.

Para os parlamentares, a empresa deveria ter explicitado de que maneira priorizaria a privacidade e a segurança das crianças online. Isso porque a expectativa sobre o Messenger Kids era a de que ele pudesse representar um refúgio seguro para que menores de 13 anos usassem o bate-papo sem que seus pais se preocupassem com a exposição dos filhos a conversas com estranhos.

Nos Estados Unidos, a falha de privacidade não é um problema banal, uma vez que está alçada sob a Lei de Proteção à Privacidade Online para Crianças (Coppa). Com a falha no aplicativo admitida agora pelo Facebook, descobriu-se que os jovens usuários conseguiriam contornar as restrições e conversar com contatos não autorizados.

Na carta enviada aos senadores democratas, a companhia afirma acreditar que o Messenger Kids está em conformidade com a Coppa. Quem a assina é o vice-presidente de política pública do Facebook, Kevin Martin, que admitiu o erro, mas disse haver comprometimento em melhorar o aplicativo "continuamente para garantir que não apenas cumpramos a Coppa, mas cumprimos e superemos os altos padrões dos pais e famílias".

A carta detalha quando a falha foi descoberta e quando foi corrigida: teria sido introduzida em outubro de 2018, somente dez meses após o aplicativo começar a ser usado, com descoberta efetiva do problema apenas este ano, em 12 de junho. Na ocasião, disse, a companhia atualizou seu código para corrigir o problema no dia seguinte— cerca de um mês depois, 15 de julho, os pais começaram a ser notificados. O portal The Verge foi o primeiro a dar publicidade a esses emails.

"O Messenger Kids leva a sério a privacidade e a segurança das crianças, e estamos comprometidos em garantir que quaisquer erros técnicos sejam investigados e resolvidos rapidamente", concluiu Martin.

A reportagem de Tilt procurou o Facebook Brasil a respeito da falha e da resposta dos senadores norte-americanos ao caso, mas a empresa disse que "não tinha um posicionamento sobre isso momento".

Senadores não se contentam

Os senadores democratas queriam saber se a empresa violara a Lei de Proteção à Privacidade Infantil Online. Pela resposta do Facebook, não há, no entanto, a conclusão de que isso de fato tenha ocorrido.

"A resposta do Facebook dá pouca segurança aos pais de que o Messenger Kids é um lugar seguro para as crianças hoje", disseram ao The Verge os legisladores, que se disseram "particularmente desapontados pelo Facebook não ter se comprometido a realizar uma revisão abrangente do Messenger Kids para identificar erros adicionais ou problemas de privacidade".

"Se o Facebook deseja que os filhos e os pais confiem, ele precisa se sair muito melhor que isso", definiram. Para os deputados, o Facebook precisa "adotar uma abordagem proativa que faça da privacidade e segurança a prioridade número um da plataforma, principalmente para crianças. "

Momento delicado

O escândalo da exposição dos pequenos a conversas com adultos desconhecidos acontece em um momento delicado para o Facebook, pouco tempo após a Federal Trade Commission (FTC, agência independente do governo dos EUA de proteção do consumidor) anunciar um acordo de US$ 5 bilhões com a companhia em razão de uma série de problemas anteriores de privacidade. A muitos críticos, o acordo ainda foi bem leve.

Sobre o Messenger Kids, ainda não se sabe se a FTC tomará alguma atitude. Na carta aos democratas, entretanto, o executivo do Facebook disse haver "contato regular com a FTC em muitas questões e produtos, incluindo o Messenger Kids".