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Como funciona a "língua artificial" que testa se uísque foi batizado

Você sabe distinguir um uísque puro de um batizado? - Gestty Images/iStockphoto
Você sabe distinguir um uísque puro de um batizado? Imagem: Gestty Images/iStockphoto

Gabriel Joppert

Colaboração para Tilt, em São Paulo

17/08/2019 04h00

Sem tempo, irmão

  • Cientistas criaram dispositivo que identifica autenticidade de bebidas
  • Testes iniciais tiveram precisão de 99,7% nas análises das bebidas analisadas
  • "Língua" não descreve a composição dos líquidos, mas identifica os que foram adulterados

Se você é fã de bebidas destiladas, talvez já tenha desconfiado alguma vez da qualidade do produto que estava experimentando. Afinal, qualquer líquido pode estar misturado ou disfarçado em uma garrafa que promete uma, por exemplo, cachaça de alta qualidade. Como saber se nosso paladar está reclamando com razão ou por pura confusão etílica?

Pensando neste problema, cientistas criaram uma "língua artificial" para garantir a autenticidade de bebidas alcoólicas (sem ter que esperar para medir pelo grau da ressaca). A equipe que está liderando esta cruzada pelo fim do uísque falso é da Universidade de Glasgow, na Escócia, o país-berço da bebida.

Nos primeiros testes, publicados no periódico científico Nanoscale, a língua artificial identificou com mais de 99,7% de precisão quais eram os uísques autênticos e quais eram os "batizados".

Criador mostra "língua cibernética" que distingue se uísque é real ou não - Universidade de Glasgow/Divulgação - Universidade de Glasgow/Divulgação
Criador mostra "língua cibernética" que distingue se uísque é autêntico ou não
Imagem: Universidade de Glasgow/Divulgação

O mecanismo, assim como o paladar humano, funciona por meio de um cruzamento de informações químicas. No nosso caso, as papilas gustativas, receptores químicos que cobrem nossas línguas, interior da boca e partes da garganta, são responsáveis por repassar padrões eletroquímicos para o cérebro, que os usa para sentir os sabores.

No caso da língua artificial, os sensores (milhões de "papilas gustativas artificiais" em escala nano) foram acomodados em placas metálicas de alumínio e de ouro. Os pares de placas foram então arranjados em três grupos: um com os metais puros e outros dois com algumas misturas de substâncias químicas.

Jogando feixes de luz sobre os sensores e medindo os comprimentos das ondas refletidas pelos elétrons de cada metal, foi possível criar "assinaturas" de luz para cada sensor, que variam de acordo com os compostos químicos em que eles estão embebidos.

A partir daí, mergulhando os sensores nas bebidas e repetindo o experimento, foi possível descobrir as assinaturas químicas das bebidas e comparar com altíssima precisão os tipos diferentes de líquidos. Assim como nosso paladar, portanto, o sensor sabe perceber quando algo está estranho, ainda que não revele a composição dos produtos.

"Nossa língua não identifica o que compõe o café, mas ela sabe qual é o gosto do café", explicou o Dr. Alasdair Clark, autor principal do estudo, ao The Guardian. Para esta experiência, a língua artificial passou por sete diferentes uísques puro malte, além de vodca 40%, etanol diluído e (ufa!) água.

O mecanismo não é o primeiro deste tipo, mas o formato inovador abre novos caminhos. O principal lado positivo é que o método bimetálico é muito mais rápido do que os atuais processos laboratoriais de análise, além de ter maior potencial para ser aplicado de maneira portátil. A tecnologia também poderá ser usada para monitoramento ambiental, controle de qualidade ou identificação de substâncias venenosas.

Num futuro próximo, portanto, sempre que o paladar desconfiar de que há algo de errado, a língua artificial poderá entrar em ação para comprovar o golpe --e salvar a gente da dor de cabeça do dia seguinte.

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