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Big Brother: China força instalação de app espião no celular de turistas

Mulher usa celular na região autônoma de Xinjiang, no noroeste chinês - Zhang Peng/LightRocket/Getty Images
Mulher usa celular na região autônoma de Xinjiang, no noroeste chinês Imagem: Zhang Peng/LightRocket/Getty Images

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

04/07/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Autoridades da fronteira da região de Xinjiang estão instalando app no celular de viajantes
  • Aplicativo vasculha aparelhos em busca de 73 mil arquivos específicos
  • Conteúdo buscado tem teor social, político e religioso de relevância na China

A vigilância virtual do estado chinês passou a afetar turistas e viajantes que visitam a região autônoma de Xinjiang, localizada no noroeste do país. Uma investigação publicada em conjunto por The New York Times, The Guardian, Motherboard e Süddeutsche Zeitung na terça-feira (2) apurou que oficiais que cuidam da fronteira da província chinesa pegam os celulares de quem entra na área e instalam um app à força.

A aplicação, de aparelhos Android, é usada pelos agentes estatais para vasculhar mensagens, calendários e arquivos para encontrar materiais suspeitos, como uma publicação considerada como canal de comunicação do Estado Islâmico. Ao todo, o malware instalado pelos agentes estatais busca 73 mil arquivos nos smartphones dos visitantes, muitos deles associados a questões sociais, políticas e religiosas na China.

O site Motherboard destacou a busca por partes do Alcorão, o livro sagrado do islã, e PDFs relacionados ao Dalai Lama, líder espiritual do Tibete e refugiado na Índia, como materiais buscados na varredura.

O primeiro caso tem relação direta com a região de Xinjiang, que tem na etnia uigur a maioria da população local - no âmbito nacional, os uigures eram 0,75% dos chineses no Censo de 2010. Majoritariamente muçulmanos, os uigures vivem sob vigilância estatal constante, o que gerou acusações de violações nos direitos humanos no tratamento à etnia.

Atravessando a fronteira do Quirguistão com a China, o repórter o jornal alemão Süddeutsche Zeitung teve seu celular analisado pelas autoridades locais, que instalaram o app Fengcai (também chamado BXAQ) nos aparelhos. Viajantes que passaram pelo local relataram que o processo de fiscalização chega a levar metade de um dia.

Se você pensa que isso é feito na surdina, está enganado. Ao receberem seus celulares de volta, os viajantes se deparam com o ícone do aplicativo no menu - as autoridades não se dão ao trabalho de deletá-lo.

No caso de usuários de iPhone, um outro aparelho era conectado ao celular para que a varredura fosse realizada - depois, não sobrava nenhum app estranho na tela dos turistas.

Instalar um aplicativo à força não é novidade para o estado chinês, que já havia tomado uma atitude semelhante à população uigur muçulmana que habita a região de Xinjiang. Em 2018, o Motherboard publicou que os habitantes da etnia majoritária da província foram forçados a rodar o app JingWang, cujo funcionamento é similar ao da nova aplicação. O que mudou? O público-alvo da vigilância.