Em tempos de guerra à Huawei, Apple se vende como a opção mais segura
Resumo da notícia
- Na WWDC, Apple voltou a defender princípios de privacidade
- Diversos novos mecanismos de proteção de dados foram apresentados
- Postura se opõe à de concorrentes como Huawei, Google e Facebook
Em paralelo ao poder do Mac Pro, à beleza dos Apple Watches e da intuitividade das novas funções que chegam com o iPadOS, a Apple bateu constantemente em uma tecla durante sua conferência na WWDC (Worldwide Developers Conference). Como tem sido desde 2018, com direito a propagandas, segurança e privacidade estão entre as prioridades dos produtos, programas e serviços oferecidos pela empresa.
O tema veio à tona repetidas vezes no evento realizado em San Jose, na Califórnia. Mapas. Saúde. Câmeras de segurança. Logins em serviços terceiros. Localização de dispositivos perdidos. Os temas podem até não ser correlacionados, mas motivaram posicionamentos da Apple, que quis deixar claro que, com ela, seus dados e informações pessoais estarão bem protegidos.
A postura firme e explícita da empresa da maçã a diferencia de concorrentes nos campos dos produtos e dos serviços.
No primeiro caso, a Huawei, segunda maior fabricante de smartphones do mundo, está no olho do furacão graças à guerra comercial entre Estados Unidos e China. Donald Trump apontou a fabricante chinesa como a principal inimiga neste cenário, acusando-a habilitar a espionagem por meio de seus produtos, sejam eles os celulares ou os avançados equipamentos de telecomunicação 5G.
Segundo a lógica por trás da decisão do presidente americano, um aparelho como o P30 Pro teria brechas de segurança intencionais para que dados pudessem ser interceptados por agentes chineses. Tudo isso tem sido negado com veemência pela Huawei, mas a nuvem de insegurança paira sobre a empresa.
Rivais em casa
A história com os concorrentes da Apple no campo dos serviços é diferente, embora também tenha pitadas de política e manipulação internacional. Isso porque a preocupação sobre privacidade e dados na internet chegou ao seu nível mais alto depois da eclosão do escândalo da Cambridge Analytica, empresa que explorou falhas do Facebook para obter informações sobre milhões de pessoas e depois vendeu-as para fins de propaganda política nos Estados Unidos e Reino Unido. Estas contribuíram para a eleição de Donald Trump e a vitória do "Leave" no Brexit.
A rede social, que lucra com o que sabe de você e dos seus amiguinhos, mostrou não cuidar direito dessas informações e foi colocada no paredão por isso. O executivo-chefe Mark Zuckerberg teve que prestar esclarecimentos no Congresso americano, fora questionamentos vindos da Europa. Em meio a esse contexto, Tim Cook, executivo-chefe da Apple, soltou o verbo contra os abusos promovidos pelo Facebook e seus pares.
Entre eles está o Google, que também teve sua cota de falhas de privacidade em 2018 - o Google+ morreu antes da hora por isso. Em dezembro, o executivo-chefe Sundar Pichai também foi ao Congresso dos EUA explicar por que a empresa coleta tanto sobre seus usuários. A resposta foi "porque você deixa".
Desde então, tanto Google quanto Facebook têm dito que mudaram, que estão mais cuidadosos. Mark Zuckerberg até escreveu um textão dizendo que a rede social vai focar menos no público e mais no privado. Ainda assim, as duas empresas continuam rastreando nossos passos pela internet e seguem lucrando bilhões com isso.
Uma das maneiras que essas empresas coletam e compartilham nossas informações é por meio daqueles botões de login rápidos em sites diversos. Quer acelerar sua entrada no Spotify? Então clique em "Entrar com o Facebook" que você vai começar a ouvir músicas em poucos segundos. Ou então acessar o Pokémon Go? Use sua conta no Google para facilitar as coisas.
Em "guerra" para mostrar que é a verdadeira defensora da privacidade, a Apple apresentou sua cartada: o botão "Sign in with Apple". A ideia é a mesma, agilizar o login em serviços diversos. A diferença é que, ao contrário de Google ou Facebook, não há nenhum rastreamento envolvido. E a função vai além, já que, se você não quiser nem seu email pessoal compartilhado, um email de fachada será gerado para atender a demanda.
Proteções contra bisbilhoteiros autorizados
Um pouco antes do anúncio sobre o login, Craig Federighi, vice-presidente sênior da Apple, informou que o iOS 13, a caminho de todos os iPhones a partir do 6S e SE, terá proteções robustas contra aplicativos que tentam explorar informações como seus deslocamentos no dia a dia. No palco, sobrou até indireta para a concorrência.
"Não é preciso apertar um botão para pedir que alguém respeite sua privacidade", disse Federighi, em alusão aos frequentes comentários de Zuckerberg e Pichai. Segundo eles, você deu a autorização para que Facebook e Google vigiem seus movimentos na web --ainda que você não saiba ou não se lembre disso.
O novo sistema operacional dos iPhones te notificará quando aplicativos estiverem monitorando seus movimentos em segundo plano e evitará que aplicativos tentem adivinhar onde você está por wi-fi ou Bluetooth. Outro recurso é permitir que um aplicativo saiba onde você está, mas apenas uma vez. Depois dela, os serviços de localização são desabilitados para aquele app. Se ele quiser acessá-los de novo, você terá que autorizar.
O padrão era consentir que os aplicativos saberiam a sua localização e, se você quisesse desligar depois, que fosse atrás dos controles nos Ajustes do celular. Com funções como esta nova apresentada pela Apple, a situação fica mais sob o seu controle e conhecimento.
Preocupação holística
O que a apresentação da WWDC indicou é que o comprometimento da Apple com a privacidade de seus usuários é a mais completa possível. Os novos recursos da empresa para que você cuide da saúde são uma das facetas disso.
Um dos anúncios da conferência foi o monitoramento de som ambiente pelo iPhone e Apple Watch, que tem como objetivo ajudar o usuário a cuidar da saúde auditiva. Ao revelar essa ferramenta, antes que alguém levantasse um dedo para dizer "vocês vão ouvir minhas conversas", uma mensagem apareceu no telão.
"A Apple não grava ou armazena seu áudio"
Este foi o primeiro posicionamento do tipo nas mais de duas horas de apresentação e se repetiu:
- Quando mencionado quais dados de saúde são compartilhados com outros apps (os que você escolher);
- Quando dito que "compartilhar sua localização pode ter benefícios, mas não queremos ser rastreados";
- Quando mostrada a ferramenta de câmeras de segurança caseira, cujos vídeos são criptografados e aí armazenados na nuvem.
O ápice dessa preocupação veio quando foi apresentado o Find My, versão combinada dos apps Find my iPhone e Find my Friends. A novidade permitirá que você encontre até dispositivos que estiverem desligados, o que funciona a partir de um sinal de bluetooth criptografado e anônimo, captado por outros aparelhos da Apple para que o iPhone ou MacBook desativado possa ser localizado por você do seu sofá.
Ter uma empresa como a Apple liderando esse movimento pró-privacidade é extremamente positivo, dado o tamanho da empresa e a postura de concorrentes. Ela é uma empresa elitista, com produtos que costumam ser os mais caros do mercado, então o custo para ganhar essa proteção acaba sendo para um grupo seleto de pessoas.
Ainda assim, a postura da Apple sobre privacidade é importantíssima especialmente pela capacidade de influência que a empresa tem.
É difícil vender privacidade como um novo celular com um entalhe moderno, mas esta tem sido uma estratégia da Apple. O segundo gerou seguidores em quase toda a indústria de smartphones, sem ser necessariamente um benefício para os compradores. O primeiro certamente é. Seria ótimo ver um impacto semelhante em como empresas tratam nossos dados.
Resta saber se o posicionamento da empresa comandada por Tim Cook vai ser bom para ela e defendido a longo prazo. O sucesso, neste caso, pode vir a ser positivo para nós.
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