Celular não pega no seu bairro? Entenda por que isso acontece
Se você costuma transitar por vários bairros de São Paulo, já deve ter percebido que em alguns o sinal do celular não é lá essas coisas. É a ligação que falha, é o 3G que engasga, é aquele vídeo da rede social que não carrega... E se você mora em bairros localizados na periferia da cidade, então?
Saiba que as dificuldades para usar o celular são ainda piores e, infelizmente, isso tem sido comprovado por alguns estudos.
O mais recente, desenvolvido pela Abrintel (Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações), aponta que as falhas de conexão na cidade de São Paulo têm piorado devido à falta de antenas de transmissão, responsáveis por disseminar o sinal da telefonia móvel.
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Para se ter uma ideia, a cidade tem instaladas em torno de 5.600 antenas, chamadas oficialmente de estações de radiobase (ERBs). A maior parte delas está localizada nas regiões do centro expandido e em locais onde existem muitas empresas e comércios, como Itaim Bibi (400 ERBs), Pinheiros (255) e Jardim Paulista (261). Isso significa que nessas regiões o sinal do celular é bem melhor do que nas regiões mais afastadas.
Quando considerada a relação antena x número de habitantes atendidos, o bairro da Sé (112 antenas instaladas) é o que tem o maior equilíbrio, com uma ERB para cada 193 pessoas. Seguido pelo Itaim Bibi, que tem uma antena para cada 202 habitantes, e Pinheiros, com uma para cada 243 pessoas atendidas.
O volume de residentes nos bairros foi medido pela Abrintel com base no Censo de 2010, mas é preciso considerar que há um fluxo diferente de pessoas de passagem pelos bairros da capital e que utilizam a rede da telefonia móvel. Por isso, é difícil saber exatamente qual a média ideal de antenas por habitantes. Segundo a Abrintel, algumas cidades brasileiras trabalham bem com uma estação de radiobase para cada 1.000 ou 1.500 pessoas.
Em São Paulo, o limite para uma conexão ideal pode ser pouco maior, chegando a uma antena para mais de 2.000 habitantes.
Piores regiões para se usar o celular
Cidade Tiradentes (13 antenas), José Bonifácio (8), Vila Jacuí (15), Parque do Carmo (7) e Jardim Helena (17) são os piores locais de São Paulo para se usar um celular quando considerada a divisão de antena por número de habitantes atendidos, segundo o levantamento da Abrintel.
Nestes bairros, a capacidade das antenas usadas para atender seus habitantes está entre 9 e 17 vezes acima do recomendado.
O primeiro bairro, por exemplo, tinha em 2010 cerca de 219.868 habitantes, e 13 antenas. Ou seja, uma antena para cada 16.913 moradores.
Ampliando para as regiões da cidade, as zonas sul e leste são as que contam com o menor número de antenas.
A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que regulamenta a instalação dessas antenas em todo o Brasil, admite que falta tornar o uso de tecnologias mais eficientes e ampliar as estações de radiobase:
O não acompanhamento da capacidade de rede com as demandas dos usuários vai refletir em redes congestionadas, com velocidades médias mais baixas do que a tecnologia poderia oferecer
E por que isso acontece?
Obviamente, a solução ideal seria a instalação de mais antenas para ampliar o sinal móvel.
No entanto, esse processo não é tão simples assim. Principalmente, porque os processos de licenciamento e instalação das ERBs esbarram nos critérios específicos de cada município para funcionar.
Segundo a Abrintel, São Paulo é uma das cidades mais lentas para analisar a viabilidade de construção de uma ERB. A entidade afirma que um de seus pedidos demorou quase cinco anos para ser aprovado e existem mais de mil pedidos de instalação aguardando análise da Prefeitura até o momento.
Outra questão é que a cidade conta com uma legislação antiga (Lei nº 13.756, de 2004) e que precisa de atualização, de acordo com a associação.
“É um problema urgente e afeta principalmente a população que está na periferia. As antenas que existem na cidade não são mais suficientes para atender as pessoas. As pessoas reclamam que a Vivo, Tim, Claro não estão funcionando, mas a raiz do problema é que elas não podem colocar mais antenas para seus serviços”, explicou Lourenço Coelho, presidente da Abrintel.
Entre as críticas à lei de São Paulo, estão as regras que exigem que as ruas que receberão as antenas tenham a partir de 10 metros de largura e que o residente ou o dono do local tenha o título de propriedade, registrado no cartório.
Essas regras afetam, principalmente, os bairros na periferia, porque nem sempre as ruas têm 10 metros. E a gente sabe que em muitos bairros as pessoas não possuem título de propriedade devidamente registrado
Lourenço Coelho
“A legislação de 2004 considerava aquelas antenas grandes, instaladas em torres de energia. Mas, hoje, existem antenas do tamanho de uma máquina de lavar. Não faz sentido elas terem que seguir as mesmas regras do que as maiores”, acrescentou Coelho.
Ricardo Dieckmann, diretor do Sinditelebrasil (Sindicado Nacional de Empresas de Telefonia e de Serviços Móvel Celular e Pessoal) concorda com os argumentos acima e reforça que a dificuldade na periferia é maior de fato, mas que as empresas têm obrigação de cobrir a área urbana com a mesma qualidade em todos os bairros.
Para os entrevistados, um projeto de Lei de 2013 (PL 751/2013), já aprovado em 1ª sessão da Câmara Municipal, pretende flexibilizar algumas regras, modernizar outras e pode ser um jeito de começar a resolver o problema --mas não há nem previsão de ele ser discutido novamente pelos vereadores.
Segundo Coelho, o projeto foi atualizado para ir de acordo com a Lei Geral de Antenas, de 2012, que prevê regras como um licenciamento das ERBs mais simplificado e mais rápido, com prazo máximo para atender as solicitações de até 60 dias e diferenciação para os tipos de instalações com base no tamanho das antenas.
Procurada pelo UOL para comentar as críticas relacionadas à demora para aprovação final do projeto de lei, a Câmara Municipal respondeu que o PL 751 é “um entre os diversos projetos que estão em tramitação na Casa. Assim como os demais, o PL em questão depende de acordo entre os vereadores para ser votado.”
A assessoria de imprensa da Câmara explicou que, de modo geral, os projetos precisam ser aprovados duas vezes pelos vereadores. Depois de aprovado, o projeto segue para sanção do Prefeito.
Para a Anatel, a lentidão no processo de licenciamento, seja em São Paulo ou qualquer outro município, “pode retardar a evolução das redes móveis, podendo refletir em serviços menos eficientes em relação a outros municípios que já tenham implementado procedimentos simplificados ou regras menos restritivas.”
Pelo jeito, a solução não virá no curto prazo. Mas, se ajudar, você pode monitorar gratuitamente a qualidade de sinal de vários lugares espalhados pelo Brasil. O serviço, criado pela Anatel, fica disponível em seu respectivo site ou por meio de um aplicativo (compatível com Android e iOS).
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