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Praticidade x confusão: tem uma guerra no caminho do futuro da tecnologia

A CES nos dá lampejos do futuro, mas queremos realmente tudo o que está lá? - Mandel Ngan/AFP
A CES nos dá lampejos do futuro, mas queremos realmente tudo o que está lá? Imagem: Mandel Ngan/AFP

Gabriel Francisco Ribeiro

Do UOL, em São Paulo

14/01/2018 04h00

A CES 2018, maior feira de eletrônicos do mundo, acabou, como sempre, com uma infinidade de produtos e tendências futurísticas que a indústria tenta introduzir, inicialmente, para outras companhias. Mas o próprio nome da feira envolve consumidores e resta saber o que fica para nós, ávidos por novos produtos. A princípio, espere uma confusão.

Algumas das principais conferências de grandes empresas, como LG e Samsung, tentaram – novamente, assim como no ano passado – resolver o que chamam de uma “confusão” da casa inteligente. E o que fizeram? Lançaram produtos mais inteligentes ainda, que fazem a mesma função do que outros. Na busca de praticidade, podemos alcançar mais confusão. 

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Virou moda já conversar com a casa, principalmente para quem mora nos Estados Unidos. Existem produtos para isso que servem como centrais de comando, sendo os principais o Amazon  Echo e o Google Home. Agora, contudo, foram lançados novos aparelhos, que servem como hubs próprios.

Como resolver o problema?

Cada aparelho será uma própria central de controle. Você pode ver o que está dentro da sua geladeira pela TV, assim como quem está batendo na sua porta. Pode também, pela geladeira, desligar as luzes da casa. A LG afirmou que todos os seus produtos terão inteligência artificial no futuro breve, enquanto a Samsung falou que até 2020 todos os aparelhos vendidos por ela serão “inteligentes”.

Não foi à toa que ambas as marcas anunciaram em seus eventos “soluções” para a casa conectada. Houve frases de engravatados que diziam “sabemos que o consumidor está frustrado”. E realmente está – as casas estão tão inteligentes que as pessoas acabam se sentindo mais burras por não conseguirem tirar o máximo dessa inteligência.

Visitante tira foto de uma geladeira da Samsung capaz de conversar com o usuário na CES 2018 - Jae C. Hong/AP - Jae C. Hong/AP
Visitante tira foto de uma geladeira da Samsung capaz de conversar com o usuário na CES 2018
Imagem: Jae C. Hong/AP

As alternativas apresentadas por ambas as companhias envolvem soluções que tornem mais fácil trabalhar com cada vez mais aparelhos inteligentes e que integre todos eles em uma plataforma. Isso significa que só poderemos comprar produtos de uma companhia no futuro para que todos funcionem bem? Talvez – as empresas dizem trabalhar com vários parceiros e negam isso, mas ainda não vimos na prática.

O mundo quer praticidade

O que a gente percebe nas últimas CES e que ficou mais claro em 2018 é que o mundo da tecnologia tem uma tendência definida de deixar a vida das pessoas mais fácil e prática. É algo como: se uma máquina puder pensar por mim, por que então eu terei esse trabalho? O que soa como tentador, mas perigoso ao mesmo tempo.

Não à toda, quase tudo apresentado por lá é inteligente e visa deixar a vida mais prática, apesar de alguns momentos soar confuso – e acredite, o início de qualquer nova era (como a que estamos entrando agora e invadindo nossas casas), é confuso.

Por enquanto, fica a pergunta: o que nós queremos da CES realmente? O que vai mudar nossas vidas para melhor?

CES: Aeolus - Divulgação - Divulgação
Pegar uma latinha sem amassar parece uma tarefa fácil - mas não é todo robô que consegue a proeza
Imagem: Divulgação

Por exemplo: realmente necessitamos de uma geladeira inteligente que analisa o que está prestes a vencer e sugere refeições para, depois disso, te sugerir um lanche de pão, muçarela, alface e tomate? Acho que não é para isso que a humanidade criou a inteligência artificial.

O jornal britânico The Guardian, por sinal, apontou que a CES 2018 foi muito menos “uau” e mais “não!” – bem na linha da apresentação de produtos que não queremos ou que são desnecessários.

Por outro lado, parece interessante um mundo em que temos um produto minúsculo que colocamos em nosso dedo e que diz se fomos expostos a muitos raios ultravioletas. E, claro, os carros autônomos que nos levarão a todos os lugares e terão a capacidade de identificar objetos e prevenir acidentes é algo que o mundo precisa urgentemente.

Há tecnologias, e tecnologias. Qual você quer?