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Projetos mostram colaboração de funcionários da Huawei com Exército chinês

Empresa é alvo de sanções americanas por suspeita de ligação com governo chinês - Fred Dufour/Reuters
Empresa é alvo de sanções americanas por suspeita de ligação com governo chinês Imagem: Fred Dufour/Reuters

Bloomberg News

27/06/2019 17h05

Vários funcionários da Huawei Technologies colaboraram em projetos de pesquisa com oficiais das Forças Armadas da China, o que sinaliza um laço mais estreito da empresa com o setor militar do país do que o indicado pela gigante de smartphones e equipamentos de rede.

Durante a última década, funcionários da Huawei colaboraram com vários órgãos do Exército Popular de Libertação em pelo menos 10 projetos de pesquisa sobre diversos temas, como inteligência artificial e comunicações de rádio. Os projetos incluem um esforço conjunto com o braço de investigação da Comissão Militar Central - o órgão supremo das Forças Armadas - para extrair e classificar emoções em comentários de vídeos online e uma iniciativa com a Universidade Nacional de Tecnologia de Defesa para explorar formas de coletar e analisar imagens de satélite e coordenadas geográficas.

Esses projetos são apenas alguns dos estudos divulgados publicamente que detalham como a equipe da maior empresa de tecnologia da China se uniu ao Exército Popular de Libertação para investigar uma série de possíveis aplicações militares e de segurança. A Bloomberg analisou publicações periódicas e bancos de dados de pesquisa online usados principalmente por acadêmicos chineses e especialistas do setor. Os autores dos tratados, que não foram publicados na mídia anteriormente, se identificaram como funcionários da Huawei e o nome da empresa aparecia com destaque no topo dos documentos.

"A Huawei não tem conhecimento de que seus funcionários publiquem trabalhos de pesquisa individualmente", disse o porta-voz Glenn Schloss em comunicado enviado por email. "A Huawei não tem nenhuma colaboração ou parceria de P&D com instituições afiliadas ao Exército Popular de Libertação", disse. "A Huawei só desenvolve e fabrica produtos de comunicação que estejam em conformidade com normas civis em todo o mundo e não personaliza produtos de pesquisa e desenvolvimento para o Exército."

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O Ministério da Defesa da China não respondeu a um pedido de comentários enviado por fax. O diretor jurídico da Huawei, Song Liuping, confirmou na quinta-feira os comentários do porta-voz. "A Huawei não personaliza produtos nem fornece pesquisas para os militares", disse a repórteres em Shenzhen. "Não temos conhecimento de documentos que alguns funcionários tenham publicado. Não temos tais projetos de pesquisa conjunta com o Exército Popular de Libertação."

A administração Trump impôs rígidos limites sobre a capacidade da Huawei de fazer negócios com empresas americanas e pediu que aliados sigam o exemplo, argumentando que a empresa representa uma ameaça à segurança nacional. Washington tem criticado o que seria uma estreita associação da Huawei com as Forças Armadas, em parte porque o fundador da empresa, o bilionário Ren Zhengfei - fiel confesso do partido - foi um oficial que trabalhou em comunicações durante seu período no Exército.

Não se sabe se os estudos aos quais a Bloomberg teve acesso - com data de 2006 e descobertos durante uma pesquisa em uma base de dados online usada em parte por professores para erradicar o plágio entre estudantes universitários - abrangiam todas as instâncias da colaboração da Huawei com o Exército. Muitos projetos sensíveis são confidenciais ou nunca são publicados na Internet. Embora pesquisadores da Huawei e do Exército tenham publicado milhares de artigos de acordo com esse banco de dados, apenas os 10 que a Bloomberg teve acesso foram esforços conjuntos. E a empresa emprega mais de 180 mil pessoas.

Empresas de tecnologia e agências militares têm colaborado em todo o mundo há décadas, gerando muitas das tecnologias que sustentam a Internet moderna. Na China, esse relacionamento público-privado é particularmente estreito por causa da influência de Pequim em todos os setores da economia. Mas a Huawei constantemente minimiza as alegações de que o histórico de Ren influencia a empresa de alguma forma e diz que sua relação com os militares é mínima e não política.

Os estudos mostram uma área de sobreposição, pelo menos na parte de funcionários. Embora não provem que a própria Huawei tenha vínculos estreitos com as Forças Armadas chinesas, os documentos mostram que a relação da empresa - ou pelo menos a de seus funcionários - com o Exército Popular de Libertação é mais sutil do que seus executivos já haviam descrito publicamente.

A Huawei afirmou que nunca divulga informações confidenciais ao governo e nem mesmo se solicitadas. O próprio Ren desmentiu a relação da Huawei com os militares desde que saiu de sua reclusão em janeiro para falar com meios de comunicação estrangeiros pela primeira vez em anos.

"Não temos cooperação com os militares em pesquisa", disse a repórteres em janeiro, em Shenzhen, segundo uma transcrição fornecida pela Huawei. "Talvez vendamos uma pequena quantidade de equipamento civil. Quanto, não sei ao certo, porque não os consideramos um cliente importante."

As Forças Armadas também negaram veementemente vínculos oficiais com a Huawei. "A Huawei não é uma empresa militar", disse em junho o ministro da Defesa Geral, Wei Fenghe, no Shangri-La Dialogue, em Cingapura. "Não pense que, como o chefe da Huawei foi membro do Exército, a empresa que construiu faz parte do Exército."

A Bloomberg não conseguiu contatar os funcionários listados nos artigos ou saber se permanecem na empresa.

--Com a colaboração de Lulu Yilun Chen e Peter Martin.