Topo

Por que o "dínamo" da Lua se apagou, levando o satélite a perder seu campo magnético

Há bilhões de anos, o núcleo da Lua funcionava como um dínamo que gerava um campo magnético. - Getty Images
Há bilhões de anos, o núcleo da Lua funcionava como um dínamo que gerava um campo magnético. Imagem: Getty Images

24/01/2020 08h47

Hoje a Lua está indefesa contra a radiação e os fortes ventos solares, mas há bilhões de anos ela possuía um escudo protetor, ainda mais poderoso do que o da Terra.

A vida na Terra é possível graças a um poderoso escudo invisível. É o campo magnético que bloqueia as partículas dos ventos solares que bombardeiam incessantemente nosso planeta.

Graças a esse campo magnético também existem as bússolas, um elemento essencial na vida cotidiana.

A Lua, por outro lado, não possui um campo magnético em seu entorno, o que é um imenso desafio caso de uma eventual decisão de colonizá-la.

Nosso satélite natural, no entanto, já teve um campo magnético bilhões de anos atrás. Os cientistas acreditam que ele já foi até mais forte do que o atual campo terrestre.

Como esse campo magnético funcionou e por que ele praticamente desapareceu?

Cavando entre as rochas

Em uma pesquisa recente, um grupo de cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) analisou amostras de rochas lunares para encontrar a resposta para essas perguntas.

Essas rochas, formadas há bilhões de anos, ainda mantêm traços do campo magnético que as cercava, por isso serviram aos pesquisadores para rastrear a evolução desse campo.

Cerca de 4 bilhões de anos atrás, o campo magnético da Lua era de 100 microteslas, que é a unidade de medida da densidade do fluxo magnético.

Hoje, em comparação, o campo magnético da Terra é de 50 microteslas.

Esse elemento no entorno da Lua, no entanto, desapareceu há cerca de 1 bilhão de anos.

Por que desapareceu?

Mas, para saber como ele desapareceu, primeiro os pesquisadores devem ter clareza sobre como surgiu esse campo magnético.

A conclusão foi que esse escudo foi gerado por duas causas principais.

A primeira é que, quando a Lua era jovem, cerca de 4 bilhões de anos atrás, ela estava muito mais próxima da Terra do que hoje.

Estando tão próxima, a força gravitacional da Terra teria agitado o núcleo líquido do satélite, o que criaria um poderoso dínamo. O movimento dele poderia gerar as correntes elétricas que formam o campo magnético.

À medida que a Lua se afastava - ela ainda está se movendo quase quatro centímetros por ano -, a gravidade que agitava o dínamo perdia poder e foi ficando mais fraca, portanto, o campo magnético também perdeu força.

Mais tarde, devido ao maior afastamento, cerca de 2,5 bilhões de anos atrás, a gravidade da Terra deixou de ter um efeito no núcleo lunar, que começou a se cristalizar.

Essa cristalização fez os líquidos se moverem - e isso explica por que o núcleo da Lua continuava produzindo um campo magnético, embora ele seja muito mais fraco.

Quando o núcleo se cristalizou completamente, o dínamo finalmente parou de funcionar.

A análise das rochas mostrou que, cerca de um bilhão de anos atrás, o campo magnético da Lua era de 0,1 microteslas. Então os especialistas estimam que foi por essa data que ele finalmente desapareceu.

Os pesquisadores, no entanto, ainda não sabem se o dínamo parou permanentemente ou se entrou em um ciclo de "pausa ativa" antes de desligar para sempre.