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"Poeira de estrelas" mais antiga na Terra é identificada e tem 7,5 bilhões de anos

ESA/Hubble/NASA/Janaína Ávila
Imagem: ESA/Hubble/NASA/Janaína Ávila

Paul Rincon - Editor de Ciência

Da BBC News

13/01/2020 19h21

Cientistas que analisavam um meteorito descobriram o material mais antigo já descoberto.

Cientistas que analisavam um meteorito descobriram o material mais antigo conhecido na Terra.

Eles descobriram grãos de poeira dentro da rocha espacial — que caiu na Terra na década de 1960 — com até 7,5 bilhões de anos.

O mais antigo dos grãos de poeira foi formado em estrelas que existiam muito antes de nosso Sistema Solar nascer.

Uma equipe de pesquisadores descreveu o resultado na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.

Quando as estrelas morrem, as partículas formadas dentro delas são lançadas no espaço. Esses "grãos pré-solares" são incorporados a novas estrelas, planetas, luas e meteoritos.

"São amostras sólidas de estrelas, poeira estelar real", disse o principal autor do estudo, Philipp Heck, curador do Field Museum de Chicago e professor associado da Universidade de Chicago.

'Balde em tempestade'

Uma equipe de pesquisadores dos EUA e da Suíça analisou 40 grãos pré-solares contidos em uma parte do meteorito de Murchison, que caiu na Austrália em 1969.

"Começamos com a trituração de fragmentos do meteorito", disse a coautora Jennika Greer, do Field Museum e da Universidade de Chicago.

"Depois que todas as peças são segregadas, vira uma espécie de pasta e tem uma característica pungente — cheira a manteiga de amendoim podre."

Em seguida, esta pasta difusa foi dissolvida em ácido, deixando apenas a poeira estelar.

"É como queimar o palheiro para encontrar a agulha", disse Philipp Heck.

Para descobrir a idade dos grãos, os pesquisadores mediram quanto tempo eles foram expostos aos raios cósmicos no espaço. Esses raios são partículas de alta energia que viajam por nossa galáxia e penetram na matéria sólida.

Alguns desses raios interagem com o material que encontram e formam novos elementos. Quanto mais tempo são expostos, mais esses elementos se formam. Os pesquisadores usaram uma forma particular (isótopo) do elemento néon - Ne-21 - para datar os grãos.

"Eu comparo isso com colocar um balde em uma tempestade. Supondo que a chuva seja constante, a quantidade de água que se acumula no balde indica quanto tempo ficou exposta", disse o Dr. Heck.

Medir quantos dos novos elementos estão presentes diz aos cientistas por quanto tempo o grão foi exposto aos raios cósmicos. Por sua vez, informa-os quantos anos tem.

Alguns dos grãos pré-solares acabaram se revelando os mais antigos já descobertos.

Com base em quantos raios cósmicos interagiram com os grãos, foi possível aferir que a maioria tinha entre 4,6 e 4,9 bilhões de anos. Para fins de comparação, o Sol tem 4,6 bilhões de anos e a Terra, 4,5 bilhões.

No entanto, o mais antigo revelou uma data de cerca de 7,5 bilhões de anos.

O meteorito de Murchison caiu na Terra em 1969 - James St John - James St John
O meteorito de Murchison caiu na Terra em 1969
Imagem: James St John

Só o começo

O dr. Heck disse à BBC News que "apenas 10% dos grãos têm mais de 5,5 bilhões de anos, 60% dos grãos são 'jovens' (entre 4,6) e 4,9 a 4 bilhões de anos, e o restante está entre os mais velhos e os mais jovens".

"Tenho certeza de que existem minerais pré-solares mais antigos no Murchison e outros meteoritos, mas ainda não os encontramos."

Até hoje, o grão pré-solar mais antigo datado com isótopos de néon tinha cerca de 5,5 bilhões de anos.

A descoberta contribui para o debate sobre se novas estrelas se formam a uma taxa constante ou se há altos e baixos no número de novas estrelas ao longo do tempo.

"Graças a esses grãos, agora temos provas diretas de um período de formação estelar aprimorada em nossa galáxia, sete bilhões de anos atrás, com amostras de meteoritos. Essa é uma das principais conclusões de nosso estudo", disse Heck.

Os pesquisadores também descobriram que os grãos pré-solares costumam flutuar juntos no espaço presos em grandes aglomerados. "Ninguém pensou que isso fosse possível nessa escala", explicou Heck.