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O misterioso assassinato de 1991 que a polícia holandesa busca esclarecer com ajuda de podcast

Reconstrução facial do homem que foi morto em 1991 - Divulgação
Reconstrução facial do homem que foi morto em 1991 Imagem: Divulgação

Alice Cuddy - BBC News

22/11/2019 14h29

Polícia holandesa lançou podcast sobre caso de homem encontrado morto enrolado em um cobertor elétrico em 1991.

Enrolado em um cobertor elétrico e próximo a uma rodovia movimentada na Holanda, foi encontrado o corpo de um homem em um estado de decomposição que tornou impossível identificá-lo.

Era agosto de 1991 e o peito do homem apresentava vários sinais de facadas. Os trabalhadores locais que o encontraram disseram à polícia que foi o mau cheiro que os levou ao corpo.

A descoberta marcou o início de um mistério no país. A polícia não conseguia identificar a vítima e muito menos encontrar a pessoa responsável pela morte.

Mas a solução desse mistério pode finalmente estar se aproximando depois que a polícia holandesa lançou seu primeiro podcast com o objetivo de solucionar um crime.

Os podcasts sobre crimes reais não são novidade, mas para a polícia da Holanda era algo inédito. Milhares sintonizaram a série de três episódios quando foi ao ar no mês passado e as dicas começaram a chegar.

O corpo no cobertor

Quando a polícia chegou ao local, procurou no corpo por alguma pista da identidade do homem.

Não havia documentos e a decomposição tornou o corpo irreconhecível.

Johan Baas havia assumido recentemente o posto de detetive na cidade de Naarden quando o corpo foi encontrado. "Eu estava de férias por alguns dias quando meu chefe me ligou e me informou sobre o corpo que foi encontrado", lembrou.

"Foi meu primeiro caso grande, então a escolha foi clara: fui direto para a cena do crime."

"O corpo foi minuciosamente dissecado e tudo foi registrado por meio de fotografias e por escrito", relembra Baas.

A polícia holandesa estima que cerca de 90% de todos os assassinatos no país na década de 90 foram solucionados. Mas a tecnologia do DNA ainda estava começando e os recursos eram limitados, então o caso era mais difícil de resolver do que seria hoje.

Eram necessárias grandes quantidades de sangue ou esperma para encontrar um infrator e não havia ainda banco de dados de DNA.

"Tínhamos de nos contentar com os meios existentes, como impressões digitais, mas as impressões da vítima não apareceram no banco de dados holandês e não avançamos internacionalmente", disse o detetive.

À procura de pistas

Nenhuma testemunha se apresentou e a polícia não tinha uma foto que pudesse ser distribuída devido às condições do corpo.

Toda a esperança de resolver o crime se concentrou, então, no anel de ouro encontrado em um dos dedos da vítima.

Detetives descobriram que ele foi comprado por meio de uma empresa de venda por correspondência chamada Otto e começaram a rastrear os compradores.

A maioria ainda tinha o anel, mas um homem disse que não tinha mais o dele porque havia vendido a um homem em um bar em Amsterdã.

Testemunhas confirmaram a venda e disseram que o comprador ia ao mesmo bar quase todos os dias.

No entanto, o personagem misterioso, que acreditam ser turco, não era visto havia semanas e a polícia nunca descobriu quem ele era ou se foi o corpo dele que foi encontrado.

Em outras investigações de Johan Baas, sempre ficava claro quem era a vítima e quem era o autor. Mas a polícia chegou a um ponto em que teve de encerrar o caso.

Como o podcast começou

A polícia reabriu o caso há alguns anos, usando novas tecnologias para analisar o corpo e fazer uma reconstrução facial da vítima.

Eles descobriram que o homem teria cerca de 65 anos em 1991 e era do Leste Europeu.

Ainda sem conseguir avançar muito, no mês passado os policiais abriram o caso ao público pela primeira vez, com o podcast.

Ouvintes de toda a Holanda passaram a trazer, quase diariamente, informações que acreditavam que pudessem ser relevantes para o caso.

A polícia disse que não poderia dar detalhes das denúncias recebidas, mas afirmou que várias tinham informações úteis.

"Nosso primeiro objetivo é identificar a vítima e contar a seus parentes, após 28 anos, o que aconteceu", disse Rob Boon, coordenador da equipe responsável pelo podcast.

"Nosso segundo objetivo é encontrar o assassino e levá-lo a julgamento."

Podcasts podem funcionar?

O criminologista David Wilson disse que era natural que a polícia holandesa quisesse capitalizar com a popularidade de podcasts de crimes reais e transmitir detalhes de crimes e casos não resolvidos.

"O crime verdadeiro é incrivelmente popular e a polícia está ciente disso como qualquer outro indivíduo, grupo ou setor", afirmou.

Os podcasts da polícia, no entanto, têm suas limitações, pois existem algumas áreas que eles não podem abordar, devido às leis sobre o que podem dizer, para não prejudicar nenhum caso.

Mesmo assim, vários casos foram resolvidos por programas policiais de apelo criminal, como o Crimewatch, do Reino Unido, e seu equivalente holandês na TV, e Wilson está confiante de que o podcast provavelmente trará os mesmos resultados.

Johan Baas não está mais responsável pelo caso, mas o detetive enviado à cena do crime em 1991 acredita que há uma chance de a vítima ser identificada.

Até agora, nenhum nome foi apontado e Baas diz que a família do homem precisa saber.

"Sei o impacto que uma perda tem sobre os que foram deixados para trás. É claro que você quer prender um suspeito, como detetive, mas infelizmente não chegamos a esse ponto."


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