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De onde surgiu a ideia de desmembrar o Facebook, que fez Mark Zuckerberg ameaçar ir 'à luta'?

Em gravação, Zuckerberg afirma que "vai à luta" caso o governo americano tente futuramente desmembrar o Facebook - Getty Images
Em gravação, Zuckerberg afirma que 'vai à luta' caso o governo americano tente futuramente desmembrar o Facebook Imagem: Getty Images

01/10/2019 18h39

Gravações vazadas revelam as opiniões de Mark Zuckerberg sobre um possível desmembramento do Facebook, prometida por Elizabeth Warren, pré-candidata democrata à Presidência dos Estados Unidos.

O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, disse que "vai à luta" contra uma possível divisão do Facebook. A fala, gravada em áudio, foi divulgada pelo site de notícias de tecnologia The Verge.

Em março, a pré-candidata democrata à Presidência dos Estados Unidos Elizabeth Warren disse que, caso vença as eleições do próximo ano, buscaria desmembrar o Facebook e outros gigantes da tecnologia, como Amazon, Facebook e Google.

Seu plano regulatório reverteria algumas fusões e impediria as empresas de competirem em suas próprias plataformas. Segundo ela, essa medida promoveria a concorrência e protegeria as pequenas empresas do avanço das gigantes.

Em uma gravação que vazou para o Verge, o fundador do Facebook também falou abertamente sobre a competição com os rivais Twitter e TikTok, e as dificuldades enfrentadas por sua criptomoeda, a Libra.

Mais tarde, Zuckerberg confirmou que o áudio divulgado pelo site é verdadeiro.

Segundo a transcrição da gravação, o empresário admitiu estar preocupado com uma tentativa de desmembramento da empresa, que é dona também da plataforma Instagram e do WhatsApp.

"Eu não quero ter um grande processo contra nosso próprio governo... Mas veja, se alguém tentar ameaçar algo tão existencial, você vai para o tatame e luta", diz ele na gravação.

"Isso [o desmembramento] não torna menos provável [o uso das redes para] a interferência eleitoral. Isso a torna mais provável, porque agora as empresas não podem coordenar e trabalhar juntas", acrescentou.

Zuckerberg também discutiu o motivo pelo qual ele se recusou a participar de algumas audiências públicas em todo o mundo após o escândalo de dados da Cambridge Analytica, empresa que usou dados privados de usuários do Facebook para orientar campanhas eleitorais.

Ele se recusou repetidamente a participar de reuniões com políticos no Reino Unido, enviando outros representantes do Facebook em seu lugar.

"Fui a audiências nos Estados Unidos e na União Europeia", disse ele. "Realmente não faz sentido eu ir a audiências em todos os países que querem que eu apareça e, francamente, eles não têm jurisdição para exigir isso."

Rivais no Facebook

Com relação ao Twitter, Zuckerberg brincou que o investimento do Facebook em segurança era "maior do que toda a receita da empresa" concorrente.

Ele também falou sobre o Lasso, um novo aplicativo do Facebook que está tentando rivalizar com o TikTok, plataforma para a publicação de vídeos curtos. Segundo Zuckerberg, o Lasso está tentando chegar a países como o México, onde o rival ainda não tem tanta penetração.

Já a Libra, criptomoeda criada pelo Facebook, está sendo testada na Índia, acrescentou Zuckerberg. "A esperança é que isso seja implementado em muitos lugares com as moedas existentes antes do final deste ano", disse ele.

Ele também disse que a parte pública do processo foi "mais dramática" do que reuniões privadas com reguladores. E ele reconheceu que tirar Libra do papel seria "um longo caminho".

Análise: Em público, Zuckerberg é mais comedido

Por Rory Cellan-Jones, repórter da tecnologia da BBC News

Não há revelação bombástica nesse vazamento, mas temos algumas boas pistas sobre as principais preocupações de Mark Zuckerberg: regulamentação e novos concorrentes.

Em público, o fundador do Facebook tem sido muito comedido em relação à regulamentação de empresas de tecnologia.

Nessas conversas com sua equipe, ele é muito mais combativo, dizendo estar preparado para "ir à luta" com a candidata presidencial democrata Elizabeth Warren se ela tentar dividir a empresa dele, caso eleita.

E ele vai se submeter a demandas para dar provas aos parlamentares britânicos, que ainda se debruçam sobre a atuação da Cambridge Analytica no plebiscito que definiu a saída do Reino Unido da União Europeia? Sem chance.

No que diz respeito à concorrência, ele está obviamente preocupado com o rápido crescimento do TikTok — ao contrário do Instagram e do WhatsApp, ele não é capaz de simplesmente comprar a empresa chinesa. Por isso, está trabalhando em um serviço para responder ao rival.